segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O que é proibido...


Cidadãos; há algum tempo, em um dos grupos da nossa cidade no 'fêissibuque', me vi às voltas com pessoas munidas de discursos raivosos ante o tema "Pichação"; discursos que até assustavam, pois vinham de gente que já tem uma considerável bagagem de vida e suposta capacidade para entender o que dizem, e também para compreender o que outros falam; entretanto, não conseguiam ser no mínimo sensíveis aos próprios discursos, negando-se a enxergar que as soluções imediatistas que apresentavam, tão somente podem levar a um futuro ainda pior do que o que já acena no horizonte. Intolerância, preconceito e um perigoso flerte com medidas que remetem ao pior de uma ditadura, ainda incensada por alguns dos membros daquele agrupamento, que desprezam quaisquer relatos de torturas e mortes, como se não passassem de relatos mentirosos dos desafetos de um regime, para os entusiastas, foi primoroso!




Ao invés de continuar com as falas inconseqüentes de alguns, prefiro começar pelas tais "pichações", uma vez que muitos não tem o mínimo conhecimento da história desse tipo de manifestação através dos tempos. Bem, para começar, a  "Pichação é o ato de escrever ou rabiscar em muros, fachadas de edificações, asfalto ou momumentos, usando tinta em 'spray', dificilmente removível, estêncil ou mesmo rolo de tinta. No geral são frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais ou mesmo declarações de amor; embora a pichação seja também utilizada como forma de demarcação de territórios entre grupos - às vezes gangues rivais. Por isso difere-se do 'grafite', uma outra forma de inscrição ou desenho, tida no Brasil como intervenção artística. (fonte: Wikipedia)."


Sabe-se que a pichação podia ser vista nas paredes das antigas civilizações, evidenciando de que não se trata de uma atividade contemporânea. A lava e as cinzas do vulcão Vesúvio, na Itália, apesar de destruído a cidade de Pompéia, no ano 79 d.C., preservaram muros onde haviam todo o tipo de pichação, desde xingamentos, propagandas políticas e até Poesias. Na Idade Média, padres pichavam as paredes dos mosterios 'rivais' para expor suas doutrinas e criticar doutrinas contrárias, governantes e quaisquer pessoas se queria difamar. A prática teve grande evolução após a Segunda Guerra Mundial, quando começou a fabricação de tintas em aerosol, que faziam o ato de pichar, mais rápido e fácil. 



No Brasil, durante a Ditadura Militar, as pichações quase não eram vistas na cidade de São Paulo, a intolerância era enorme, pois não existia Liberdade de Expressão.


Faço aqui um adendo, lembrando que um dos críticos mais ferrenhos das pichações, com que argumentava, é um militar aposentado e defensor da Ditadura, o que abriu outro debate entre nós. 



 O 'pichador' à direita, segundo alguns, seria o ex-Governador Mário Covas, mas após muita procura pela internet, não encontrei indícios que corrobore a afirmação; vale lembrar que esta foto tornou-se um dos símbolos da luta contra o violentamente repressivo governo militar.
Inegável a coragem do 'pichador', era época em que Liberdade de Expressão não passava de sonho esquecido por muitos, que aceitavam bovinamente as mordaças militares e o discurso imbecilizante de emissoras de tevê que andavam de mãos dadas com o regime de exceção.


Pois bem, vamos voltar ao 'bate-papo' sobre o qual abri este texto; pude constatar que todos os discursos iniciavam-se na preocupação com o coletivo, o que é louvável, entretanto - infelizmente - ao desenrolar da conversa, as máscaras caíam, exibindo (além de preconceitos), uma ignorância latente que beirava a insanidade, descambando para o puro e simples egoísmo destemperado, destroçando até o menor resquício de senso de coletividade e bem-comum.


À primeira vista, o que espanta é a incapacidade de pensar , justamente, no coletivo, numa estreiteza de raciocínio que beira a infantilidade egoísta; os pedidos de cadeia para pichadores e, um quase velado clamor por pena de morte se a pichação acontecer nos muros de suas casas, assustam!


A impossibilidade de perceberem que os pichadores, em muitos casos são adolescentes, com o 'agravante' de serem os tais 'revoltados', então, a punição de 3 meses a 1 ano e detenção (e multa) em uma 'Fundação Casa', seria colocar transgressores lado-a-lado com jovens infratores de todos os níveis, de ladrões a homicidas, onde poderiam aprender coisas ainda mais reprováveis com o tempo ocioso. No caso de pichar patrimônio público, a pena aumenta para de 6 meses a 1 ano. Sem deixar de fora que após um período entre os jovens infratores, a violência poderia voltar em outras formas, bem mais trágicas.


Mas o pior ainda estava por vir; participei - com 'Vs' - das comemorações da Semana da Juventude, promovida pela Prefeitura de nossa cidade, onde tínhamos uma tenda de ContraCultura e tratávamos de Pichação e Poesia, conversávamos com os jovens sobre manifestações em nossa cidade e discutíamos ações diretas. Alguns funcionários da Prefeitura nos observavam com olhares de reprovação; pois bem, postei uma foto no grupo Pinda Cidadã e foi quando despertamos a ira de alguns membros e a discussão que rendeu o assunto, ganhou desdobramentos inimagináveis. Poucos dias depois, um dos membros postou fotos de uma escola em Moreira César 'atacada' por 'vândalos' pichadores e novamente a discussão se fez presente e não demorou muito para tentarem nos ligar àquelas pichações; um dos membros e 'eleito' pelo autor do 'post', que queria discutir comigo, ignorando as perguntas e considerações dos demais, o que gerou muitas piadinhas sobre os verdadeiros interesses do mesmo.


O rapaz tentava me 'culpar' pelas pichações, alegando que o símbolo do anarquismo, retratado nos muros da escola e que aparecia em nossa tenda, só poderia ter sido feito por nós. Eu fui chamado de anarquista! Claro, lembrando que para esse rapazote, anarquia é sinônimo de bagunça, afinal, é isso que pensam aqueles que não sabem do movimento anarquista. O que é uma lástima, pois além de facilmente refutáveis, quaisquer discursos são esvaziados em legitimidade quando preenchidos com ignorância.




A emblemática pichação que apareceu em uma das escolas públicas de Pinda, clamando a necessidade de um ensino público de qualidade, ao meu ver, é válida, e não tem nada de vandalismo, afinal, vandalismo é o que o Estado faz com a Educação e o erro na grafia, foi certamente ocasionado pela tensão e adrenalina de se cometer um 'crime'.



E antes de sair gastando dinheiro público em campanhas de conscientização, não podemos ignorar uma máxima muito verdadeira:



O que é proibido é mais gostoso!

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