domingo, 25 de outubro de 2015

Educação e Redução da Violência

Cidadãos; a violência que assola nosso país é tema recorrente nos noticiários, tornando-se crescente preocupação nacional. Claro, não se trata de fato novo na história do Brasil, a qual tem muitos exemplos de sobra e das mais variadas formas. Em pesquisas, trata-se da segunda maior preocupação dos brasileiros (a Saúde Pública vem em primeiro lugar).

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/08/seguranca-e-2-maior-preocupacao-dos-brasileiros-segundo-pesquisa.html




No artigo de hoje, abordo o tema proposto pela faixa na imagem acima, pois por mais que pareça óbvio, tem muita gente que não consegue ligar os pontos, portanto, cá estou - novamente - na tentativa de ter alguma relevância nas reflexões que vocês fazem ao se deparar com o o tema.

Pois bem, fico na dúvida, será que não é líquido e certo que o aumento da oferta de Educação de qualidade incide diretamente nos números da violência, diminuindo-a? Digo isso porque é fácil encontrarmos pessoas afirmando tal perspectiva em conversas com familiares e amigos, em botecos e nas redes sociais. Todos me parecem certos de que uma Educação de qualidade poderia sim ter efeitos positivos - e desejados - na redução desse mal extremamente disseminado em todas as regiões do país.

(já nos alertava Leonel Brizola,em 1986: "A violência é fruto da falta de Educação (...) as nossas crianças merecem ainda mais, elas representam o que o Brasil tem de maior valor e, também, os nossos destinos, como nação livre e democrática, empenhada na construção de uma existência digna para todos os seus filhos; todas as crianças deveriam estar em escolas (...) para isto, bastaria que não desviássemos tantos recursos públicos para fins inúteis e inconfessáveis...")

Uma tese de doutorado na USP, da Economista Kalinca Léia Becker, de 2013 aponta diretamente nesse sentido, validando a frase de Brizola e expondo o que já deveríamos saber e estar buscando por soluções. Em seu trabalho, Becker aborda a potencialidade da escola como um fator para influenciar o comportamento dos alunos, comprovadamente, reduzindo a violência. Na pesquisa, podemos observar que com o investimento de 1% na Educação, há uma redução de 0,1% do índice de criminalidade, indo de encontro às preocupações de tantos brasileiros.

"O objetivo geral do trabalho foi analisar a relação entre Educação e violência, observando se a Educação e a escola podem contribuir para reduzir a violência e o crime", atesta a pesquisadora. A análise sob a qual se baseia a tese de Becker foi realizada através de dois ensaios. No primeiro, foram coletadas evidências para afirmar que a atuação pública na Educação poderia sim, contribuir para reduzir a criminalidade, tanto no médio quanto no longo prazo, mensurando o impacto do investimento público em Educação na redução da taxa de homicídios (através de dados dos estados brasileiros, entre os anos de 2001 e 2009). No segundo ensaio, financiado pelo programa "Observatório da Educação", oriundo união entre o  Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), foram analisados fatores do ambiente escolar e de seu entorno, os quais poderiam contribuir para a manifestação do comportamento violento dos alunos (a partir de dados disponibilizados nas Provas Brasil de 2007 e 2009).

Sem Educação, a violência - uma hora - nos atinge a todos

Segundo Becker, são análises complementares na tentativa de solucionar o problema apresentado pela tese. "O primeiro ensaio fornece uma análise ampla e agregada do impacto dos gastos com a Educação na redução da taxa de homicídios, enquanto o segundo volta-se para dentro da escola, analisando como os vários fatores do ambiente escolar podem prevenir a manifestação do comportamento violento", conta. Os métodos utilizados para a confecção desses ensaios tornaram-se viáveis através da revisão literária e análises de dados empíricos, utilizando ferramentas estatísticas e econométricas, que resultaram na clara constatação de que a escola e a Educação são fundamentais para a redução da criminalidade.

A pesquisa comprovou a influência da Educação no comportamento dos alunos: pode-se constatar no primeiro ensaio que com o investimento de 1% na Educação, 0,1% do índice de criminalidade é reduzido, porém, para isso, é necessário que a escola funcione como um espaço para desenvolver Conhecimento, uma vez que no segundo ensaio, observou-se que escolas com traços de violência (depredação do patrimônio, tráfico de drogas, atuação de gangues, etc), podem influenciar a manifestação de comportamento agressivo nos alunos.

Por vezes, o vândalo é o próprio Estado

"A possibilidade de algum aluno manifestar comportamento violento em escolas onde foram registrados crimes contra o patrimônio e contra a pessoa é - respectivamente - 1,46 e 1,22 vezes maior em comparação às escolas que não registraram esses crimes", conclui Becker.

De acordo com os resultados obtidos, o contato com um meio onde prevalecem ações violentas influencia diretamente o comportamento do aluno dentro da escola, sendo assim, as políticas públicas para reduzir o crime na vizinhança da escola podem contribuir significativamente para reduzir a agressividade dos alunos. "A escola pode - ainda - adotar medidas de segurança para proteger os alunos nas imediações", reforça.

(analise os dois trechos acima com os dados de recente pesquisa - 2014 - realizada com Professores, pais e alunos da rede estadual: 44% dos Professores e 28% dos alunos da rede estadual paulista já sofreram algum tipo de violência em suas escolas. Metade dos alunos dizem já terem presenciado casos de discriminação de raça, origem migratória e orientação sexual na escola. Ainda segundo as mesma pesquisa, pais e Professores consideram a falta de segurança o maior problema do lugar onde as crianças estudam. Os Professores apontaram que para oferecer mais qualidade na Educação é preciso investir em infra-estrutura (22%), valorizar os Professores (20%) e aprimorar o relacionamento com os pais (18%). Para os pais, é preciso ter atividades extra-curriculares (39%), qualificação dos Professores (17%) e mais tecnologia (15%). Para os alunos, é necessário investir em atividades extra-curriculares (29%), mudança do método de ensino e formato das aulas (21%) e mais tecnologia (15%).)

Uma das soluções sugeridas pela pesquisa é que, quando a instituição promove atividades extra-curriculares, ocorre a redução em 0,96% da possibilidade de algum aluno cometer um ato agressivo. "Este é um resultado interessante, pois muitos programas da redução da violência nas escolas incluem atividades de Esporte, Cultura e Lazer como forma de socializar a convivência e, assim, reduzir a violência", complementa. Também foram observadas evidências de que o ambiente familiar e a participação dos pais nas reuniões da escola, podem influenciar o comportamento do aluno.

Hoje, o fator de imprevisibilidade da violência e a noção de "conscientização" da impotência frente a ela, geram a percepção da violência como uma força cega e incontrolável, mas que pode (e deve ser) combatida, como tentei evidenciar com este artigo, apontando a importância de uma Educação de qualidade como valiosíssima ferramenta para tal empreitada.

A imprevisibilidade das ações violentas e a crescente consciência da impotência frente a elas estão gerando no imaginário coletivo e individual a representação da violência como uma força cega e incontrolável, diante da qual a única postura “racional” acaba sendo a lei do silêncio e a submissão às exigências do terror

http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2015-02-10/escolas-estaduais-de-sao-paulo-comecam-aulas-com-ate-85-alunos-por-sala.html

No começo do ano, notícias como a do link acima assustaram muitas pessoas, afinal, como um aluno pode aprender em uma sala super-lotada? Acompanhando as notícias atuais sobre os planos de remanejamento de estudantes, do fechamento de escolas, dos cortes, dos salários dos Professores, ficamos muita à vontade para afirmarmos que os primeiros atos de violência contra toda a sociedade vem do próprio gestor público, no caso do Governador Geraldo Alckmin, que - endeusado por muitos pindenses - continua tranqüilo para tomar as decisões que põe em cheque a própria sociedade. Enquanto não houver uma mobilização popular forte, principalmente vindo daqueles que tanto pregam o valor da Educação na construção de um futuro melhor, pois uma coisa é falar, outra - bem diferente - é agir, continuaremos à mercê dos devaneios deste que almeja sentar-se na cadeira de Presidente do Brasil. Agora, como o cidadão pode reclamar dos alarmantes índices de violência, se não luta para garantir uma Educação de qualidade para todos? Se é incapaz de compreender que a violência da qual tanto reclama, nasce justamente da sua inércia para apoiar uma causa tão importante? Uma causa que, nas palavras, vemos que julga tão importantes. E olha que vivemos no Estado mais rico da nação e que, portanto, deveríamos exigir uma Educação pública de muita qualidade, tornando-nos exemplo para o restante do país. Portanto, já passou da hora de toda a sociedade se unir, fica a dica:


Não seja mais um prego no caixão da Educação, ganhe as ruas, cobre, exija, seja um Cidadão.

E para concluir, um recado simples e óbvio: Sr. Governador:


MAIS ESCOLAS = MENOS VIOLÊNCIA

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