quinta-feira, 16 de novembro de 2023

DIVAGAÇÕES

Esquecido no intricado labirinto da autodescoberta, onde a visão budista da impermanência lança sombras sutis e - por vezes - até assustadoras, há um espaço onde se entrelaçam as nuances do Amor Romântico... Trato aqui da complexa trama, onde o desejo de encontrar almas afins se mistura à efemeridade de todas as coisas, criando uma alucinada e poética dança de esperanças elevadas (por vezes até desesperadas) e desilusões profundas demais para se registrar sem a renúncia genuína da própria existência.


O encontro de almas que se esperou por tanto tempo é como o surgir de estrelas cadentes na noite mais profunda da existência humana; uma promessa de conexão divina, onde dois corações - impulsionados pelo anseio de pertencimento - se entrelaçam na mais sublime e cósmica dança... Mas, porém, contudo, todavia, a perspectiva budista nos sussurra que mesmo as estrelas mais brilhantes são efêmeras, piscando por um momento antes de se extinguirem. "Tudo o que vemos das estrelas são velhas fotografias..." E então, a consciência de si mesmo, à luz do Amor Romântico, ganha novas e vibrantes dimensões... Os reflexos no espelho interno tornam-se um palco onde se desenrola não apenas a jornada individual, mas a interseção intransponível de dois caminhos; cada escolha, cada detalhe da história pessoal, adquire uma relevância amplificada quando compartilhada com uma (o) parceira (o). E a impermanência - antes uma corrente suave - agora é um rio turbulento que testa a força das fundações do que compreendemos por amor.

As dores - e delícias - da autodescoberta, permeadas por sonhos de Amor Romântico, revelam-se potentes, amplificadas e tais dores (muitas vezes) se tornam cicatrizes profundas, quando o que parecia uma promessa eterna se desvanece. A saudade, feito melodia triste, ressoa nos corredores da alma, ecoando a beleza do que foi e a dor do que já não é... A total consciência do seu lugar no mundo, da impermanência que abraça o Amor Romântico, é um precipício onde se confrontam a grandiosidade e a fragilidade do vínculo que julgávamos tão sagrado; enquanto o entendimento de que o tempo (implacável tirano), pode desgastar até mesmo as relações mais sólidas, é como violenta tempestade que testa a resistência dos alicerces dos corações... Assim, a perspectiva budista e o Amor Romântico, dois elementos aparentemente contraditórios, entrelaçam-se na exótica tapeçaria da experiência humana. O encontro esperado - que um dia se ergueu como um farol - pode (às vezes) tornar-se apenas uma chama que arde intensamente antes de se extinguir.. E o aprendizado reside na compreensão de que, mesmo diante da efemeridade, o amor é uma dádiva preciosa que transforma cada lágrima em uma poesia silenciosa e cada riso em celestial melodia.

Enfim, na dança complexa da autodescoberta, da impermanência e do Amor Romântico, somos convidados a abraçar a totalidade da experiência humana... Cada capítulo - por mais efêmero que seja - contribui para a tessitura única do nosso ser, onde a trama do amor e da autenticidade se desenrola, deixando-nos maravilhados com a beleza e a complexidade dos nossos passos por este planeta...




F. Hernandez (23.12.2022)

(texto que me recusei a postar na época - desesperadamente - difícil, que estava passando...)