segunda-feira, 16 de abril de 2018

COXINHANEWS - URGENTE!

imagem adulterada do "Triplex da Discórdia" como foi veiculada pela mídia
Cá estou estupefato... Sim, caros Amigos, caríssimas Amigas, estou estupefato com o luxo e ostentação do mais famoso imóvel tapuia, aquele, construído no exclusivíssimo Guarujá.

Trata-se de um condomínio de altíssimo padrão na praia mais cara e chique daquele verdadeiro paraíso primeiro-mundístico do despoluído litoral paulista, a meca dos endinheirados de todo o mundo, por conta de suas águas transparentes e convidativas, onde se enxerga até aquele fungo de unha, que infelizes escondem em sapatos reforçados e hermeticamente selados.

A verdade arrebatadora, que confirmará os delírios coxinhísticos mais profundos, não veio da gloriosa mídia brazuca, a mais ferrenha e letal arma para desmascarar a corrupção desde a invenção de Sergio Moro quando da sua disponibilização pelo gentil e abnegado governo norte-americano.

Com a invasão criminosa, ilegal e engordativa dos vagabundos do movimento dos trabalhadores sem teto, nos chegam imagens chocantes do palacete atribuído ao ex-Presidente Lula, que impressionam a todos.

O imóvel, que nunca fôra exibido em rede nacional, certamente por ordem expressa dos comunistas da Rede Gloebbels, que já fora conhecida como a Emissora da Democracia por bater de frente com os militares que usurparam o poder em 64, agora está sendo veiculado por páginas de Facebook que nos revelam imagens surpreendentes e, de quebra, com as explicações dos Cientistas Políticos do site, os melhores e mais renomados tolos da vila do Brasil.

O luxuosíssimo Triplex com 4 mil e oitocentos e oitenta e oito quadrados revela segredos há muito escondidos do grande público, como - por exemplo - o que se apelidou de "a cozinha da discórdia". Completamente revestida de mármore Carrara, conta com 3 fogões industriais de 20 bocas cada, com dez fornos de valor de mercado estipulado em torno de oito milhões e meio de dólares; as geladeiras (sim, no plural) de última geração não são vendidas a menos do que o preço de 8 carros populares cada, um choque para qualquer brasileiro pagador de impostos. Em um dos inúmeros e moderníssimos armários, foram encontrados 20 dúzias de jogos de jantar, com talheres de ouro e prata, taças de cristal Bacarat e uma enorme adega com os vinhos, champagnes e cachacinhas mineiras tipo exportação, mais caros do planeta.

O luxo se estende por todas as dependências, dos inúmeros quartos com camas extra-super-mega-king-saizão, às verdadeiras casas de classe média que são os quartos para as servas da família do ex-Presidente, onde foram encontrados imensos abanadores de penas de faisão tunisiano. Todas as camas estão cobertas por lençóis de linho egípcio e há 23 carrinhos de golfe para transportar os convivas de um cômodo a outro, tendo em vista a diferença de fuso horário entre a maioria deles. O quarto reservado ao ex-Presidente, exibe no centro, onde após 15 minutos de caminhada, um sarcófago - trazido do Egito - com a inscrição "Tutancâmon"; banhado a ouro e cravejado por uma infinidade de jóias raras, tem o interior acolchoado, com travesseiros de ganso do Zimbábue e um cobertor de pele de ursos siberianos virgens.

No jardim suspenso na cobertura, foram encontrados dois tigres de Bengala e a mesma era feita de ouro e forrada com diamantes e rubis do tamanho de ovos de avestruz. Nas hortas (de trigo, tomate, soja, alface, milho, café, feijão e arroz), há 233 Sem Terra trabalhando sem carteira-assinada e em regime análogo a escravidão, fato que surpreendeu negativamente a todos.

Na piscina, chocam, a estrutura do escorregador aquático de ouro, com 80 metros de altura (de elevador próprio) e os vários pedalinhos banhados a ouro puro, com nomes de todos os membros da família Lula da Silva escritos com diamantes na parte traseira.

A grande surpresa dentre tantas descobertas, foi o fato de que o ex-Presidente, através de Advogados da OAS, comprou todas as vagas de automóveis daquele prédio e a área tornou-se atrativo turístico, pois trata-se de um festival de Ferraris, Masserattis, Lambourghinis, McLarens, Lotus e demais caríssimos e luxuosos carros banhados a ouro... Da garagem, foi encontrada a passagem para um píer secreto onde pode-se escolher entre singrar as transparentes águas do litoral paulista, seja com o iate (também banhado a ouro) de proporções titânicas ou com o submarino nuclear (também banhado a ouro).

No escritório reservado ao ex-Presidente, que também faz às vezes de cinema particular para 120 pessoas, foram encontrados documentos que comprovam que a família Lula da Silva é proprietária de 8 Estados da nação em quantidade de terras e detém 83% das ações da Oi, JBS, Santander, Itaú, Natura, Ambev, McDonald's, Facebook, Organizações Gloebbels, Alcan, Volkswagem, Odebrecht, Cinemark, OAS, Petrobras, SBT, Havan, Riachuelo, Baú da Felicidade, 98% das ações da Shell, Exxon, Capitol Records, Starbucks (inclusive, como o McDonald's e Pizza Hut, possui filial em todas as suítes do imóvel), Walmart, Sinopec, State Grid e Apple.

Outro fato que impactará enormemente a nação brasileiro, foi a descoberta de que Fidel Castro (irmão de Lula que fugiu de casa após conhecer seu grande amigo e irmão em armas Benicio "Che" del Toro), o presenteou com a ilha cubana, fato completamente desconhecido dos brasileiros, mas que explica a abertura ao turismo e aos dólares dos Estados Unidos. "Tirem-lhes tudo" teria dito Fidel ao ex-Presidente, registrado em um dos documentos que tratava da abertura ao turismo.

No banheiro, também revestido em mármore Carrara, privadas imitando tronos medievais com revestimento e climatizadas com 1,90 de altura, com escadarias também do famoso mármore, chamam a atenção, assim como as estonteantes proporções das saunas secas e úmidas disponibilizadas em todos os banheiros da casa. As torneiras, maçanetas e até mesmo uma descarga de ouro saltam às vistas, tão como as impecáveis toalhas com "Lula da Silva" bordados com diamantes.

Os corredores também merecem destaque, pode-se dirigir e manobrar sem muito esforço, um Hummer, sem chegar a um metro e meio das paredes. Por falar em paredes, esperamos as notícias do final desta tarde, pois sabe-se que os invasores estão tentando chegar à estrutura do prédio, que segundo dizem, é feita de ouro puro.

No único quarto trancado a chave, após arrombamento, descobriu-se um imenso cofre e até agora não se foi possível descobrir o que guarda, fala-se à boca miúda que há milhões em petróleo, ouro, pedras preciosas e 5.900 quilos de urânio processado.

Três elevadores panorâmicos com capacidade para 32 pessoas cada, levam exclusivamente ao triplex, porém dois outros - internos - levam diretamente ao quarto do ex-Presidente. Tudo computadorizado e por comando de voz, assim como todo o sistema "Palácio Inteligente", que permite, inclusive, o acender e apagar de luzes e lareiras, num estalo de dedos. Na danceteria para 1200 pessoas, trocou-se a máquina de gelo seco por uma que lança ouro em pó nos convidados. Vale registrar que há um apartamento do lado da pista de dança para DJs convidados (somente internacionais e contratados a peso em ouro).

Como bem se sabe, a classe média em seu profundo pensamento coxístico-filosófico olavocarvalheano, já havia desvendado a relação de comprometimento de 78% do PIB do país com a manutenção do "Palácio dos Mares" do ex-Presidente Lula.

imagem sem retoques do "Triplex da Discórdia"
Resta agora nos apoiarmos no valoroso Juiz Sérgio Moro, defensor dos pobres e de todo o povo brasileiro, para que sua constitucional cruzada contra a corrupção que assola todo o país continue a todo o vapor. Contamos com Moro e sua Moral elevada para nos iluminar e nos guiar a um país livre de toda a corrupção, pois Moro é um Herói, o Herói de todos os brasileiros, por isso mesmo é odiado pela mídia, que o despreza e ataca diariamente. Moro já é a personalidade mais atacada pela mídia no país, principalmente pela Rede Gloebbels, que já produziu mais de cem de reportagens negativas a seu respeito só na última tarde.

Sergio Moro, o abnegado Pai dos Pobres

sábado, 14 de abril de 2018

O LEVANTE DE MAIO

30 de Abril

Mesmo com a promessa real de violência explícita em meio a um sonho de paz, milhões de bravos brasileiros se preparavam para o fazer o inimaginável; seus corações plenos em esperança, os inspiravam a resistir ao medo de entregarem-se à luta por Democracia no seio da nova Ditadura brasileira, uma ditadura dissimulada, sem canhões e com ares de legalidade baseadas em mentiras e violências descaradamente explícitas. Todos sabiam que poderiam ser atacados, agredidos, presos e mesmo mortos por conta de uma idéia de Liberdade, mas acreditavam - confiantes - que era o motivo mais do que justo para se engajarem em nome do país, de seus filhos e filhas, de seus entes queridos e de todo o povo brasileiro; mesmo que seus corações enfrentassem fuzis e metralhadoras, mesmo que bombas de efeito moral voassem ameaçadoras e tudo o que tivessem à disposição fossem pedaços de paus, pedras e a vontade mais ferrenha... Todos estavam mais do que decididos. Olhos brilhavam faiscantes e a adrenalina se apresentava como ácido sendo bombeado descontroladamente... Lá fora, solitária lua cheia testemunhava e abençoava aquela inexorável caravana da liberdade.

Já raiava a odiada segunda-feira em Curitiba quando os primeiros ônibus chegaram, eram 38... No Jardim Botânico, gotas de orvalho refletiam o fraco sol matinal num prisma encantadoramente hipnótico, enquanto carros e motos avançavam frenéticos pelas ruas ao redor, naquela manhã preguiçosa; as janelas escuras e fechadas dos ônibus despertavam a atenção, instigando a curiosidade, favorecendo o galope selvagem da imaginação sadia.

Pelas ruas, transeuntes bem-vestidos e apressados, observavam intrigados aquele desfile enquanto se dirigiam ao trabalho. Numa banca de esquina, o Jornaleiro parou a contagem do troco, ele e seu cliente acompanharam silentes, num movimento sincronizado de cabeça, os misteriosos ônibus; arqueando a sobrancelha esquerda, percebeu um súbito e inesperado arrepio correr-lhe a espinha como um trem desgovernado. Na esquina oposta, taxistas em um ponto, ainda sonolentos, se perguntavam para descobrir se alguém sabia de algo, um deles aumentou o volume do rádio mal-sintonizado em busca de qualquer notícia. Se ouvia mais o chiado do que a voz do locutor.

Cerca de 40 minutos depois, outra frota cortava lentamente as ruas da capital paranaense, desta vez sêo Argemiro, o jornaleiro, os contou e para seu espanto eram 84. Aqueceu com a boca as mãos magras e brancas, cobertas de pequenas manchas senis, e as enfiou profundamente nos bolsos enquanto caminhava à banca, para esperar o próximo cliente. Contudo, ajeitou sua boina italiana xadrez deu meia-volta para observar os ônibus que já se iam distantes.

Poucos minutos se passaram até que viaturas impecavelmente reluzentes apareceram tentando ganhar a rua já congestionada; apostando no som estridente e insistente das sirenes, lançavam-se ousadas e prepotentes. Em mecânica obediência, os demais motoristas se esforçavam para ceder passagem, alguns quase causando acidentes no atropelo da servilidade.

Mais 29 ônibus chegaram e passaram a circular em direção ao centro da cidade. A essa altura, com o trânsito pesado, ganhar 20 metros já levava mais de 12 minutos. A lentidão esporava e soltava as rédeas da sofreguidão mais verdadeira.

Nos postos de gasolina, no comércio, as pessoas, curiosas, já bebiam da ansiedade em quantidades oceânicas, se perguntando o motivo daquela gigantesca romaria. Alguém disse que deveria se tratar de petistas, afinal, havia um comentário de que as centrais sindicais preparavam um mega-evento para o 1° de Maio naquela cidade.

Quando 219 ônibus entraram na cidade, as ruas e avenidas não comportaram, travando de vez; agentes de trânsito tentavam em vão organizar um inferno metálico de fumaça sufocante e buzinas ensurdecedoras. Em confortáveis e gigantescos carros importados, homens de terno cediam espaço à selvageria e se esmeravam nos intermináveis e insistentes solos de buzinas irritantes. Algumas pessoas desceram dos carros para tentar entender o que acontecia, procurando por sinais de algum acidente. Nada.

De repente, alguns ônibus abriram suas portas e a rua foi sendo tomada por um caudaloso rio vermelho, dezenas de militantes caminhavam entre os carros cantando jingles de campanhas do ex-Presidente Lula e dançavam alegremente pela rua. Motocicletas da Polícia se aproximaram e os Policiais atônitos, sem saber o que fazer, informaram a central. A feliz algazarra que os manifestantes produziam, deixava bastante clara a intenção pacífica daquele ato, o que acalmou os demais motoristas e pedestres. Muitos deles haviam se posicionado - orgulhosos - do lado errado da história desde a Vitória de Dilma Rousseff e, como todos os demais brasileiros, sofriam os tenebrosos efeitos do consórcio de ladrões que usurparam o poder.

Nos pontos de ônibus, as filas eram impossíveis, não havia o menor sinal do transporte público naquela manhã; irritadas com a demora, as pessoas tentavam contatar seus chefes, porém, ao perceberem o enorme número de ônibus circulando em fila pela cidade, a maioria se esqueceu, tanto da demora na chegada dos circulares, quanto de entrar em contato com seus chefes. Internamente, alguns amaldiçoavam seus empregadores por não terem emendado o fim-de-semana com o feriado.

Nas rádios e na tevê, comunicou-se, quase histericamente, de que se tratava de uma greve geral dos motoristas de ônibus, os trabalhadores descobriram então, que todos os motoristas não haviam aparecido para trabalhar e os ônibus ainda estavam nas garagens, porém a informação não passava disso. Com a notícia, alguns trabalhadores decidiram caminhar para o trabalho, outros retornaram às suas casas e alguns poucos estenderam longos minutos para decidir qual seria o próximo passo.

Já eram 8 horas da manhã quando mais de 200 ônibus entraram na cidade, os quais não foram muito longe com o trânsito totalmente paralisado. Os apoiadores do ex-Presidente Lula saíram em caminhada, se juntado a muitos outros que tiveram a mesma idéia, ao mesmo tempo. As multidões vermelhas avançavam como ondas de alegria e esperança. Todos, literalmente todos, vestiam camisetas de um vermelho profundo com a inscrição: "EU SOU LULA". Munidos de bandeiras e boa conversa, convocavam amigavelmente os trabalhadores curitibanos que encontravam pelas ruas a se juntarem a eles. E muitas vezes a abordagem amigável os conquistava e arrebatava, e, rapidamente, se uniam aos grupos e passavam a caminhar entre os carros. Já não havia o menor espaço nas calçadas. E, aos poucos, aquela imensa massa rubra ia dobrando de tamanho a cada quarteirão enquanto se dirigiam ao bairro Santa Cândida, onde fica o prédio da Superintendência da Polícia Federal. Onde estava Lula...

Cerca de 3 mil Integrantes do MST, com bandeiras, facões e foices, caminhavam cantando alegremente, brincavam com as pessoas pelas quais passavam, de forma agradavelmente simples. Homens, mulheres e até mesmo crianças se lançavam entre os automóveis entre canções e brados de "Lula Livre".  Infelizmente, toda aquela alegria deu lugar à mais sincera e compreensível indignação quando três rapazes aparentando 25-26 anos, começaram a fazer chacota e a chamá-los de "vagabundos. Um deles, bastante alto, rosáceo e de músculos quimicamente inchados, vestindo uma regata mais justa que Cristo, porém com a inconfundível carranca do Bolsonaro estampada, aproximou-se e passou a gritar com os Sem Terra, como se o seu tamanho intimidador fosse intimidar alguém entre pessoas endurecidas pela lida de sol a sol. O grandalhão não teve a oportunidade de proferir mais do que 3 palavras de baixíssimo calão, antes que uma pedra de proporções intimidatórias lhe acertasse a boca em cheio. Tonto pela pancada, ajoelhou-se na calçada e passou a cuspir sangue e dentes, desatando a chorar como uma criança em seguida. Seus dois amigos, assustados, começaram a andar vagarosamente para trás, não sem gritar ofensas ordinárias na direção dos Sem Terra... Seus passos ganhavam velocidade enquanto a multidão caminhava em sua direção, logo começaram a correr desabaladamente. Que se registre: ninguém viu de onde a pedra foi arremessada, mas já rondava a certeza de que mesmo não vindo da direção dos Sem Terra, a narrativa midiática seria nesse sentido, como sempre, chamadas repetitivas com "os baderneiros do MST...", novamente dariam a tônica manipulativa a qual já estamos acostumados.

Enquanto isso, nos quartéis, Homens da Polícia - em alucinado frenesi - corriam para todos os lados, ordens eram gritadas nos rádios estridentes e incompreensíveis aos civis. Todos deveriam sair e compor um perímetro de segurança a 1 km do prédio da Superintendência da Polícia Federal... As viaturas lançaram-se à rua e em desabalada carreira, lançavam-se a cumprir suas ordens, eram 8, entre elas, um micro-ônibus com a Tropa de Choque.

Três viaturas foram despachadas ao Bacacheri para garantir a segurança do Juiz Sergio Moro. Os Policiais o encontraram fazendo sua caminhada matinal no Clube Duque de Caxias, entre acenos e felicitações puxa-saquísticas, com direito a 'selfies', abraços apertados e indiscretos tapinhas nas costas. Abordado com reverências afobadas pelos Policiais, Moro, dispensou proteção e voltou à sua caminhada e às adulações de acéfalos bufões, totalmente alheio ao que o destino lhe reservava naquelas derradeiras horas.

Nas estradas, as Polícias Rodoviárias, Estadual e Federal, atuavam em conjunto para frear o inacreditável fluxo de ônibus originários de todas as partes do Brasil. Até então, o trânsito não estava totalmente paralisado, os automóveis moviam-se a inacreditáveis dez quilômetros horários, por 10 metros a cada oito minutos. A franca impaciência testava os limites da civilidade dos motoristas que tentavam se informar sobre possíveis acidentes.

Com as estradas praticamente paralisadas, aquele povo sem medo botava o pé no asfalto e seguia à cidade numa inexorável romaria vermelha. Não levou muito tempo até que moradores do Tatuquara se juntassem àquela intrépida marcha, carregados de esperança, sentindo-se abraçados por brasileiros e brasileiras que os respeitavam e acolhiam. O grande número de simpatizantes do ex-Presidente prejudicava ainda mais o que se entendeu um dia como fluidez do trânsito e não havia nada que se pudesse fazer; foi quando um senhor grisalho, em uma Land Rover verde, resolveu acelerar para espantar a multidão... Com a falta de êxito de sua atitude, somada a indignação imediatista e autoritária da classe média, aquele senhor (mais tarde identificado como Carlo Forrestieri Luz, um bem-sucedido empresário que respondia na Justiça por trabalho escravo em sua confecção de roupas de luxo), decidiu acelerar sobre os manifestantes, atropelando dois antes de ser arrancado de sua fortaleza de aço e "acariciado" pelos manifestantes. Carlo fôra deixado para trás, nu e desmaiado em uma poça de urina. Seu gigante metálico tombado no acostamento ardia em chamas intensas que pareciam se esticar aos céus para tocar o sol.

Quando Tião das Latas chegou em casa, no Bairro do Papelão, trazendo notícias sobre a gigantesca mobilização que vira, atraiu a atenção de vizinhos que lhe faziam as mais variadas perguntas, enquanto ele guardava o carrinho que usava para juntar papelão e latinhas de alumínio (os quais garantiam o sustento de sua numerosa família), seus vizinhos se agitaram e logo a notícia se espalhava pelo bairro. Foi o vizinho de Tião, Roberval, um senhor negro de 60 anos, mas que aparentava pelo menos 90 e que se movimentava sentado em um carrinho de rolimã, quem instigou a participação de todos, ao dizer que os ricos haviam prendido o ex-Presidente Lula porque ele seria Presidente outra vez e que os ricos não gostavam dele por ter ajudado os pobres. Não foi preciso muito convencimento, afinal, sem água encanada, sem luz, numa região mal-cheirosa esquecida pelo poder público, onde a Polícia tem medo de circular, onde crianças descalças encontram como opção de lazer, brincadeiras infantis atoladas na imundície, não é necessário muito para convencer os moradores, os quais se identificam com a história do ex-Presidente e reconhecem as violências da Justiça sem precisar de algum estudo, as conhecem na pele. E num grupo maltrapilho e grande, rumaram para o centro da cidade, havia muitas crianças entre eles.

Àquela altura, Curitiba estava completamente paralisada. O que começou com a chegada dos primeiros ônibus e a greve-surpresa dos motoristas do transporte público, aos poucos se transformava numa greve geral de proporções bíblicas, envolvendo todos os trabalhadores, de todos os setores. Nas indústrias, ninguém se apresentou para o trabalho, revelando que a extensão daquela greve-surpresa continuava uma incógnita; garis largavam suas gastas vassouras e se juntavam aos manifestantes. De repente, todos aqueles invisíveis do dia-a-dia iam se misturando no que já era um mar vermelho, do qual ondas avançavam impiedosas pela cidade.

Helicópteros das Polícias e das emissoras de tevê, ganharam os céus, dentro deles - incrédulos -Jornalistas e Policiais se embasbacavam com o intimidante número de participantes. Do alto, não se enxergava mais o asfalto da rua Professora Sandália Monzon, apelidada pelos manifestantes de "Sandália do Mozão", e região, tudo o que se via era um infindável e desafiador mar de gente.

Luís Inácio da Lula da Silva, o ex-Presidente Lula, lia "A Elite do Atraso - da escravidão à Lava-Jato" do Professor e Pesquisador Jessé Souza, sossegadamente em sua pequena e razoavelmente confortável cama, quando passou a ouvir um zumbido atravessando as paredes. A princípio se tratava de um som contínuo, o qual - antes de se tornar audível - fôra reconhecido por Lula, afinal era o som típico formado por centenas de milhares de vozes e ele tivera bastante contato com aquele som por décadas para não reconhecê-lo de pronto. O ex-Presidente custava a acreditar, porém, irrompeu em lágrimas sinceras de quem se sabe verdadeiramente amado. Após um longo e emocionante suspiro que ninguém ouviu, Lula colocou o livro ao seu lado e permitiu-se um pequeno sorriso enquanto seus olhos fitavam o teto do cárcere.

Um Agente apareceu à porta informando que eles o protegeriam e Lula só pensou que eles é que deveriam era se proteger. Notando o medo nos olhos daquele jovem de face imberbe, que o lembrava o filho de um de seus vizinhos em São Bernardo, Lula tentou acalmá-lo conversando de forma gentil, mansa e bem-humorada. O rapaz até riu, mas seu alívio fôra apenas momentâneo. Despediu-se do ex-Presidente e ganhou o corredor com passos velozes.

No prédio da Superintendência da Polícia Federal o ar estava elétrico, o súbito aumento no número de manifestantes assustou a todos. Como baratas tontas, se equipavam enquanto na cúpula a discussão girava entre tirar o ex-Presidente de lá ou não. As cantorias e gritos de ordem vindos da rua eram ensurdecedores e quase não permitiam que Delegados e Agentes pudessem escutar seus próprios pensamentos. Ordens eram gritadas nos telefones...

Por volta das onze horas, saiu a primeira estimativa de participantes, a mídia falava em cerca de 20 mil manifestantes, mas estava claro que se tratava de - no mínimo - 350 mil pessoas. E pelo menos mais de 500 mil venciam a distância em uma segunda e ameaçadora onda, mas maior número, com toda a certeza, era registrado na terceira e última onda, formada por no mínimo hum milhão do que os historiadores intitulariam de Defensores da Democracia.

Foram necessários menos de 15 minutos a inteligência da Polícia Militar perceber que apenas um bloqueio não resultaria em mínima eficácia., entretanto já era tarde demais... Não demorou muito para que o Policiais se vissem cercados pedindo reforço, assustados e temendo por suas vidas, ainda que as pessoas apresentassem um comportamento extremamente pacífico.

A multidão agora se aglomerava diante do prédio, todas as ruas no entorno estavam tomadas, centenas de rojões pipocavam alucinados no céu curitibano a cada minuto. Não havia uma única nuvem, somente a fumaça azulada dos rojões e, apesar do vento frio que insistia se estender por toda a manhã, porém, o calor que emanava do povo, aquecia corações, almas e até mesmo as ruas.

Agentes, esperando pelo pior, posicionaram-se diante da entrada armados até os dentes; os olhos esbugalhados revelavam a incômoda visita do medo, alguns tremiam. A tensão dos Agentes poderia ser medida nos litros e mais litros de suor que escorriam de suas faces; nas axilas, gigantescas e reveladoras rodelas úmidas se formavam.

Dona Lucinalva aproximou-se e disse a um dos Agentes que eles estavam lá para buscar Lula e que só sairiam com sua libertação; de sorriso franco e fácil, "tia Nalva" - como era carinhosamente chamada pelos alunos da Escola Estadual Ryoiti Yassuda de Pindamonhangaba (SP) - tinha bastante tato com as pessoas; aos 59 anos, era merendeira e querida por todos. Enquanto companheiros pediam silêncio à multidão, junto com Guiomar, uma faxineira de Muribeca (SE) que conhecera durante a viagem, "tia Nalva" conversava com o Agente, admirada com a pouca idade do rapaz e ao olhá-lo nos olhos, percebeu que seus olhos a lembravam de seu falecido marido.

Ninguém sabe ao certo onde a violência começou, mas ninguém jamais esquecerá a proporção que atingiu. Na tevê, o estopim que acreditavam mais provável, se deu quando um homem, aparentando mais de 30 anos começou a atirar nos manifestantes a 3 quadras do prédio onde estava o ex-Presidente. Dois manifestantes tombaram imediatamente sem vida e seu sangue manchava a calçada, desenhando um mapa, o verdadeiro mapa da violência; outros sete foram socorridos e levados nos braços por apoiadores de Lula para serem transportados a algum hospital da região. O homem, mais tarde identificado como Rafael Friendenhieks, foi linchado até a morte... E o caos se instalou. Pressionados pela primeira onda de agitação causada pelos manifestantes que fugiam dos tiros, aqueles que estavam diante do prédio foram empurrados à frente, foi quando Marcel Lobrett, dos olhos que encantaram "tia Nalva", se assustou e disparou sua arma, causando um movimento contrário ao produzido com anteriormente. Se Marcel, tivesse sobrevivido a fúria da turba, jamais conseguiria dormir em paz novamente, pois o rosto da tia Nalva, com uma expressão de tristeza e decepção, marcou fundo na alma daquele jovem e recém-empossado Agente. Ele olhou fundo nos olhos daquela senhorinha tão simpática e quase enlouqueceu ao ver o sangue molhando lentamente sua camiseta, bem no centro do peito.Tia Nalva, que fôra até Curitiba sonhando com um Brasil melhor, com escolas de qualidade e desejosa de um futuro melhor para todas as crianças, olhou para baixo viu seu sangue escorrendo e caiu pesadamente. E morreu ali, diante do prédio da Superintendência sem ver a triunfal saída de Lula que tanto desejava, pois para ela, nele residia a idéia de um futuro melhor para todos. Trêmulo, o Agente cambaleou para trás deixando a arma ir ao chão e a última imagem que viu antes de ser massacrado pelo povo em revolta, foi o rosto da "tia Nalva".

Alheio a toda aquela confusão, Beto "Bração", apelido que ganhou ao capotar seu primeiro carro ao dar um "cavalo-de-pau" para impressionar algumas garotas, olhou para o céu tentando ignorar aquele empurra-empurra frenético; foi quando notou vários helicópteros surgindo do Leste. Eram seis. Manteve o olhar fixo e pouco depois gritou avisando que o Exército se aproximava. Várias pessoas apontavam para o céu na direção dos helicópteros que rasgavam o céu rapidamente; a tensão aumentava a níveis alarmantes. De repente, os helicópteros se separaram e, enquanto três deles passavam devagar sobre os manifestantes, os outros três deles deixavam soldados, através de cordas, sobre três prédios. Eram grupos de cinco em cada um e tão logo se livravam das cordas, posicionaram-se com rifles no parapeito. Eles quase não respiravam. Em silêncio aguardavam ordem para atirar e todos rezavam para que isso não fosse necessário. O som dos motores e o vento produzido pelas pás, arrefeceram um pouco os ânimos, porém, não eram poucos aqueles que estendiam o dedo médio para os soldados e faziam movimentos com os braços chamando-os à luta.

Com a presença dos atiradores de elite, lideranças populares, estabelecidas ou recém-despertas passaram a procurar acalmar os ânimos ainda um tanto acirrados, alguém puxou gritos de "sem violência" e todos passaram a repetir, ecoando por todo o bairro, desestimulando aqueles que já se preparavam para invadir o prédio da Superintendência e os Agentes puderam respirar aliviados.

Enquanto isso, na capital fluminense, empolgados e eufóricos com as notícias e imagens que chegava de Curitiba, os moradores dos morros decidiram - quase ao mesmo tempo - descer ao asfalto. E eles eram milhares. Quando a multidão se reuniu, parou o trânsito e sêo Elisberto, um senhor bonachão e super bem-humorado, que parecia estranhamente sério naquele fim de manhã, teve a idéia de irem até a Rede Globo, também conhecida - hoje - como Rede Gloebbels, de tanto repetir mentiras para se tornarem verdade. A massa dos desfavorecidos ganhava as ruas e sentia-se o cheiro da revolta popular se espalhando densa pelo ar. Quando a Polícia se deu conta da intenção daquelas pessoas, mobilizou-se para proteger a emissora, onde o clima de medo se estabelecia e a certeza de que estavam em perigo crescia a cada segundo. Todo e qualquer funcionário da emissora sempre soube do mau-caratismo da empresa e suas manipulações dissimuladas, porém a garantia de salário ao fim do mês, era atraente e os ajudava a aplacar as crises de consciência, mas claro, havia aqueles que entraram no jogo da emissora e não se importavam com o trabalho sujo.

E aquele era um povo sem medo, um povo acostumado à brutalidade policial, que não se assustava com a a repressão pirotécnica do braço forte do Estado, portanto, gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e balas de borracha tiveram o efeito desejado. De repente, centenas de jovens adeptos das táticas Black Bloc, surgiam do nada, gritando como gladiadores entrando no Coliseu; eles vinham de todos os lados e rapidamente tomaram a frente no confronto com seu números intimidadores; aliados a uma vontade férrea, aqueles jovens conquistaram recuos importantes da Polícia Militar, comemorados com a ferve imbatível da juventude. De longe podia-se perceber que no olhar daquele povo residia a disposição genuína que os guiariam até, finalmente, invadirem a emissora, apoiadora e fomentadora de golpes em nosso país. Nada nem ninguém os impediria, tal a força da determinação.

Não demorou muito para que conseguissem rechaçar bravamente a Polícia e invadir o prédio; o povo cantava uma verdade dura sobre a emissora ter apoiado a ditadura e a força de seu canto fez muito homem tropeçar na macheza e rolar pelos corredores. Os funcionários estavam em pânico sincero, sentindo-se acuados vários se ajoelharam com as mãos à cabeça. Alguns, como o Jornalista Willian Bonner, se escondiam verdadeiramente apavorados. E era atrás dele que um grupo de pessoas com sangue nos olhos realmente estava.

O cheiro de fezes humanas era forte naquele minúsculo depósito, um mau-odor podre misturado com urina, revelavam o descontrole do Jornalista sobre seu próprio corpo; amedrontado, Bonner agachara-se em posição fetal e começara a chorar copiosamente tão logo fôra descoberto; arrastado pra fora, auto-desprovido de sua dignidade, o Jornalista berrava como uma criança até ter o choro contido pela falta de ar ao ser golpeado violentamente com um soco na boca do estômago. Despido pelo grupo, tentou limpar-se com as próprias roupas, o que chamou a atenção daquele que lhe parecia o líder do bando, que ao perceber que aquele cheiro podre vinha de Bonner, Odivan Barbosa Júnior esfregou-as no rosto do Jornalista que começou a sentir vontade de vomitar. Amarraram-lhe o pescoço com uma gravata vinho e o obrigaram a engatinhar pelo prédio. A única coisa que lhe vinha à mente era a imagem de Fátima Bernardes, foi quando sentiu-se atingido pela dor da separação pela primeira vez. Lembrou-se dos filhos e começou a chorar novamente.

Se o grupo demorasse mais um segundo, os demais manifestantes teriam destruído o salão de onde era exibido o Jornal Nacional; alguns funcionários presentes rapidamente se voluntariaram quando perguntados se sabiam fazer uma transmissão e Bonner, após duas bofetadas, foi obrigado a entrar ao vivo. Antônio Oliveira das Cruzes, o "Toninho Mola" como era conhecido em sua comunidade, entregou um texto para o Apresentador, que a essa altura tremia freneticamente, empurrando-o pra frente das câmeras; o Jornalista mal sentou-se à bancada, quando ouviu um grito alto e forte ecoar ordenando-lhe que ficasse em pé. Com os olhos assustadoramente arregalados, levantou-se numa velocidade de atleta de 20 anos.

Quando a imagem de um fragilizado Bonner, nu, de cabelos despenteado surgiu na tela com o rosto sujo de fezes, dona Filó, começou a gritar chamando as filhas e as empregadas, todos se sentaram na espaçosa sala-de-estar de decoração colonial e grudaram, incrédulos, os olhos na tela de 62 polegadas. Bonner, com a voz embargada, lia o texto com alguma dificuldade: "Brasileiros e brasileiras, bom dia. Nesta tarde do dia 30 de Abril de 2018, nós, funcionários da Rede Globo de televisão viemos à público nos desculpar por 53 anos de golpes contra a Democracia e contra o povo brasileiro. É chegado o momento do acerto de contas entre a emissora e os milhões de brasileiros e brasileiras que manipulamos deliberadamente, o que somos os melhores em todo o território nacional. A Rede Globo de televisão foi um presente dos militares que usurparam o poder em 64 e nosso papel foi o de legitimar o governo da brutalidade que institucionalizou a tortura no país. A Rede Globo sempre teve acesso aos melhores profissionais brasileiros e do exterior, os quais dedicaram suas vidas a nos alçar ao posto de melhor emissora do país. Nossos profissionais, qualificadíssimos, aprimoraram a arte da manipulação de massas e ajudaram a moldar o pensamento do povo povo brasileiro de acordo com o que nós desejávamos que pensassem durante todos esses anos. Entorpecemos cada um de vocês com frivolidades insossas e mentiras caprichosas. Vocês não tinham chance. A qualidade das nossas imagens, o profissionalismo dos nossos empregados retiraram o melhor de vocês, transformando-os em seres cada vez mais submissos à nossa narrativa da realidade. Imperceptivelmente, os curvamos perante a nossa vontade. Reiteramos aqui, a verdade sobre nossos ataques ao Partido dos Trabalhadores e, em especial, contra o ex-Presidente Lula, obedecendo ordens expressas do Departamento de Estado norte-americano. Nosso compromisso com Washington, hoje, é o de desestabilizar o país ainda mais, para que roubem o pré-sal, nos transformando novamente em uma colônia, perdendo nossa relevância no cenário mundial. Venho também afirmar que neste momento, manifestantes estão se preparando para incendiar os estúdios da Rede Globo Rio e pedem para que a população faça o mesmo por todo o país. Desculpe-nos povo brasileiro, sem dúvida somos traidores da Pátria e estamos colhendo o que plantamos durante todos estes anos, boa tarde". As imagens percorreram o país e rapidamente, milhares de indignados com a emissora dos golpes começaram a se colocar a caminho das filiais em suas cidades, muitos carregavam galões ou mesmo garrafas pet cheias de combustível. O povo estava cansado das manipulações da emissora, mas ninguém jamais imaginara a quantidade de gente indignada, muito menos as dimensões dessa indignação, principalmente por conta dos ataques a outras emissoras. O entendimento do povo havia sido claramente subjugado.

Por todo o país, os trabalhadores se reuniam em grupos, como se estivessem em contato com outras cidades devido a coincidência de tomada de ação, e passavam a deliberar sobre o que fazer... Em muitas fábricas, alguns trabalhadores tentaram uma saída pacífica, falando com seus superiores, exigindo que fechassem as portas. Acuados, muitos concordaram e dispensaram os trabalhadores, em outros casos, a violência deu o tom. Pequenos grupos de trabalhadores contaminados pela violência diária de Datenas e assemelhados, tentaram impedir o fechamento de seus locais de trabalho aos gritos de "bolsomito", ocasionando brigas pesadas que invariavelmente acabavam na correria que lhes era imposta. Tais trabalhadores nunca tiveram consciência de classe e eram sempre os primeiros a boicotar greves e criticar sindicatos, ainda que adorassem colher os benefícios das lutas dos outros. Em pouquíssimo tempo, mais de 70% da produção nacional estava paralisada e percebia-se nos rostos dos trabalhadores, a inflexível disposição a não voltar aos seus postos, mesmo após o 1° de Maio que se aproximava com a promessa inclemente da maior mobilização da história do país.

Por toda Curitiba, diferentemente do que vinha acontecendo nas proximidades da superintendência da Polícia Federal, os ânimos se exaltavam, porém, sem a mesma severidade implacável que atiça a violência; da periferia, multidões se aglomeravam, lentamente caminhavam dispostos a se juntar ao mar vermelho que já ameaçava transbordar os limites da cidade. Mas o mais emocionante foi a participação dos trabalhadores; diaristas abandonavam a lida, os frentistas saíam de seus empregos sem pensar duas vezes, balconistas como Júlia Marques da Silva, que enfrentava três ônibus lotados para ir e voltar do serviço, onde - mal-remunerada - vendia roupas caríssimas que jamais teria condições de comprar, não com a economia em frangalhos e os desmontes dos programas sociais promovidos pelo Excelentíssimo Senhor Usurpador da República, como ela o chamava, Michel Temer. Todos que viram suas vidas melhorarem durante o governo do ex-Presidente, de repente, sentiam-se tomados por um sentimento de legítimo de gratidão que rapidamente se transformava em indignação por aquele aprisionamento injusto. Todos lembravam de seus patrões e patroas se rindo e festejando, lembraram do silêncio a que se obrigavam para manterem-se empregados; todos sabiam que o mínimo de melhora em seu padrão de vida, era visto com um ódio mal-escondido e bastante revelador por aqueles que tiveram todas as boas oportunidades na vida. Pensavam nas mentiras maldosas que ouviam enquanto trabalhavam duro e sentiam o coração aquecer.

Com os ânimos contidos, o povo sem medo nas imediações da Superintendência da Polícia Federal, acomodava-se no chão, uns cantavam animadamente, outros conversavam sobre a resistência, muitos contavam de suas histórias, do quanto os governos do ex-Presidente os favoreceram e os mais velhos recordavam dos tempos difíceis do Presidente anterior, um servo da elite, diziam alguns, um entreguista vira-latas diziam outros. E a noite com seus exércitos púrpura caía sobre a cidade lentamente. Quando surgiu a primeira estrela na imensidão do céu, alguém começou a cantar "Lula-lá, brilha uma estrela" e foi seguido pelas pessoas ao redor, rapidamente o canto se espalhou e repetiu-se por mais de uma hora e meia. Toda a cidade cantando a mesma música em uníssono, todos os corações batiam transbordando em valiosa esperança. Para muitos, o ex-Presidente Lula fôra, de sinônimo de Luta e Democracia, para sinal claro e indubitável da mais reluzente esperança. As vozes ecoavam aos céus, afrontando a classe média que se sentia ilhada e bebia a doses generosas, taças do melhor cristal, até a borda, de cólera angustiada.

A medida que a noite caía, os diálogos perdiam a intensidade, porém a grande maioria se recusava a dormir, temendo alguma atitude do governo para interferir na situação; rumores que dos quartéis da cidade, soldados disfarçados haviam se infiltrado entre a população surgiam a cada instante, cheios de detalhes de operações e intenções. Seria uma longa vigília...

Por volta das três e meia da madrugada, grupos de sindicalistas atravessavam com dificuldade aquele mar de gente, tomando todo o cuidado para não machucar ninguém, pois traziam consigo, inúmeras caixas de som e a estrutura para um pequeno palco. Começaram a montar tudo ao lado de um potente gerador que havia sido colocado durante a manhã de segunda, já na primeira leva de manifestantes. A montagem terminou com o amanhecer frio, exaustos, os homens e mulheres incumbidos da árdua tarefa sentaram-se enquanto esperavam pelo café-da-manhã prometido. Apesar do cansaço, o prazer de ver o trabalho concluído emprestava uma sabor especial ao café recém-passado cujo cheirinho despertava memórias de tempos melhores.

Na manhã de 1° de Maio, todas as emissoras amanheceram fora do ar, um efeito que seria compreendido futuramente nas análises e pesquisas históricas que identificariam a Rede Globo como a emissora onde as demais orbitavam, reforçando ainda mais a manipulação da Vênus Platinada sobre todo um povo, o que - pela lógica - recaía sobre elas a culpa da derrocada da Legalidade no  país, que também precisavam pagar a conta. A classe média atormentada pela falta de informação recorria às rádios e ninguém se aventurava a pôr os pés para fora de casa, uma vez que todas as ruas estavam tomadas por aqueles que sempre foram vistos e tratados com desdém, no máximo como um incômodo social.

Diante do prédio da superintendência, os manifestantes começaram a gritar "bom dia, Presidente Lula" e logo, aquele som ensurdecedor passou a estremecer as paredes do prédio. Lá dentro, o ex-Presidente ajoelhara-se diante da cama e com um terço na mão, passava a rezar à Nossa Senhora de Aparecida para guardar e proteger aquele povo. No futuro, Lula em entrevista, diria que naquele sentiu a presença da Padroeira do Brasil e de sua falecida esposa, dona Marisa, dando-lhe forças e renovando a esperança. Lula chorava copiosamente, não de tristeza por sua condição de preso político, fato já considerado por todos os grandes líderes mundiais - menos do Presidente norte-americano...

Por volta das dez da manhã, políticos petistas ou não, surgiam abrindo espaço entre a multidão em direção ao palco montado durante a madrugada. O palco tinha apenas um metro e oitenta de altura e poderia ser ocupado por apenas cinco pessoas de uma vez, porém, cada um que subiu ali, o fez sozinho. Gleisi Hoffmann, Humberto Costa, Jandira Feghalli, Manuela D'Ávila, Guilherme Boulos, Celso Amorim, Dilma Rousseff, entre tantos outros, discursaram com uma intensidade nunca vista e aplausos e gritos e furor se registravam. Artistas subiram ao palco também, alguns discursando, outros cantando acapella sucessos de um triste passado de opressão, sucessos estes que ganhavam o coro popular e encantavam os correspondentes internacionais presentes. Palavras como "Amor", "Devoção" e "Clamor Popular" se multiplicavam pela mídia mundial. No Twitter a "hashtag Lula Livre" explodia por todo o planeta. Da ONU, chegavam informes que indicavam a extrema preocupação da organização a respeito da segurança dos manifestantes e um grupo dos Direitos Humanos fôra enviado especialmente para acompanhar aquele evento histórico.

Discursos e apresentações culturais se revezavam ao longo do dia, as falas arrebatadoras de Boulos e Manuela encantavam a população, que fazia repetia suas palavras para que a mensagem chegasse a todos por toda a cidade. Era um espetáculo inacreditável.

Às quinze para às seis, após muita fala e muita performance artística, um homem desconhecido subiu ao palco, era moreno, alto, tinha uma voz grave, profunda e falava pausadamente. Seu discurso, o qual registro abaixo, levantou o povo que, sem sinal de medo, invadiu as dependências da superintendência e resgatou o ex-Presidente.

"Companheiras... Companheiros... Boa tarde. Em primeiro lugar preciso registrar o meu orgulho neste momento histórico, o meu orgulho de estar aqui diante de centenas de milhares de brasileiras e brasileiros, que são os verdadeiros Defensores da Democracia em nosso país. Sim, cada um de vocês é uma força do Bem, é uma força que vai inspirar todas as gerações a partir de hoje, este dia é o nosso marco zero, é o dia em que o povo brasileiro ressurge e se levanta, é o dia em que você dão exemplo e se tornam o orgulho de todo um país. Aqui estão as pessoas que enxergam além da casca, aqui estão as pessoas que sabem que o conteúdo é o que importa, e por isso vocês não aceitaram a condenação do Presidente Lula, pois sabem que se trata de um processo fraudulento, julgado em um Tribunal de Exceção por um lacaio dos Estados Unidos da América, um lacaio que corrompeu a nossa Constituição Federal! Eles queriam o nosso petróleo, eles queriam nossa água, eles queriam nossa energia e nos queriam como mão-de-obra barata e foi nesse sentido que esse vira-latas tiranete atuou! E estavam perto de atingir seus objetivos e hoje, aqui, estamos dando um recado para os Estados Unidos e para todos os povos: o Brasil é do povo brasileiro! Suas riquezas são do povo brasileiro! Chega! Acabou o tempo do colonialismo! Com Lula somos um povo unido, um povo que quer o melhor para todos, um povo que quer um Brasil por todos e para todos, um Brasil forte e soberano, capaz de decidir seus caminhos, capaz de escolher o que quer para o seu futuro. Hoje, canalizamos nossa força, nos mobilizamos em todos os Estados e viemos pra cá, para mostrar ao Brasil e ao mundo que Lula vale a luta, que é Lula que queremos para levar o nosso país de volta ao rumo do crescimento. Lula acreditou em nós, Lula lutou por nós e agora cheios de gratidão, estamos aqui por ele e é por isso que ele não ficará mais uma hora nessa prisão inconstitucional e por isso injusta" Porque nesta noite, as fogueiras revolucionárias queimarão os traidores do Brasil, esta noite as chamas revolucionárias atingirão as estrelas que nos abençoam. Que a lua seja a testemunha da nossa força, da nossa força como povo! Companheiras... Companheiros, esta é a noite do tudo ou nada, esta noite nos levantamos contra a opressão, contra os corruptores da nossa Constituição... Sim, nos levantamos contra os verdadeiros corruptos, aqueles que estão vendendo nosso país e suas riquezas a preço de banana, esta noite, companheiras e companheiros, eles se envergonharão e terão que fugir do país para não perderem suas vidas. Esta noite nós nos tornamos um com o nosso Líder e vamos levar o Brasil para longe das trevas da ignorância, pois aqui não estão os manifestoches da Globo, não estão os patos da FIESP, não está a classe média reacionária, violenta, desigual, intolerante, oligárquica, vertical. Agora é a hora do povo brasileiro, do braço forte que move nossa economia, que produz nossas riquezas e que encanta o mundo com sua hospitalidade e alegria. Aqui não há espaço para fascistas, aqui não há espaço para os playboys do MBL, nem para os oportunistas do Vem pra Rua, aqui essa playboyzada não se cria, não no meio desse povo marcado, de mãos calejadas, que são tratados com desdém por gente que vive no ar-condicionado, tomando toddynho na casa da vovó. Não, aqui estão brasileiras e brasileiros, mulheres e homens de fibra, de coragem, de valor, gente que não vive de aparências, mas que vive honradamente da luta de todos os dias, gente que trabalha de sol a sol para que nosso país seja respeitado lá fora com o peso da nossa economia. Aqui, está o povo que não precisa se vestir com as cores de nossa bandeira para se sentirem brasileiros, aqui nós nos mostramos brasileiros com a nossa pele e até com nosso sangue. E como povo brasileiro, não queremos privilégios, não queremos favores, queremos apenas o que é nosso por direito, nós queremos o nosso Brasil de volta! Nós queremos Lula de volta! E é por isso que agora eu dou uma chance aos Policiais Federais para que nos apresentem Lula, para que o tragam para perto de seu povo. Todos compreendemos que os Policiais recebem ordens, por isso, a ordem hoje, é de quem paga seus salários, é do povo brasileiro e a ordem é LIBERTEM LULA! Policiais, sei que nos ouvem e nos ouvem com atenção, agora é a hora de evitar uma tragédia, nos tragam o Presidente Lula até aqui, agora ou invadiremos e mesmo que nos custe a vida, eventualmente resgataremos o Presidente! Vocês sabem que estamos falando sério, vocês sabem que estamos dispostos a entregar nossas vidas para resgatar o maior Presidente de nossa História..."

Durante todo o discurso, um sentimento quase palpável de determinação agigantava-se, as palavras do desconhecido ecoavam nos corações e mentes de todos, por toda Curitiba o povo urrava e vibrava ensandecido. As tropas do Exército e Polícias nada podiam fazer, no topo do prédio onde o ex-Presidente era mantido injusta e ilegalmente preso, os rifles miravam naquele homem que energicamente falava às multidões, foi quando o comandante da operação ordenou um de seus soldados a abatê-lo, mas o jovem começara a tremer e, de repente, virou sua arma contra seu superior que sentiu um calafrio abalar suas pernas; os demais soldados colocaram suas armas no chão tão logo o Comandante lhes ordenara para matar o soldado rebelde. Ao se ver desobedecido, vociferou contra todos e lhes disse que seriam todos executados quando voltassem ao quartel, começou a xingar violentamente a todos, mas foi interrompido por um tiro entre seus olhos. Observando o corpo estirado e sem vida do Comandante, o jovem soldado transtornado, irrompendo em lágrimas, o mandou calar-se, dizendo que concordava com o desconhecido, que ele sabia muito bem o quanto sua família melhorou de vida durante os governos do petista e que lá embaixo estava um povo que ele jurou defender.

Quase imediatamente após a calorosa fala do orador desconhecido, enquanto o mesmo era abraçado por todos, os Agentes traziam o ex-Presidente Lula para fora do prédio... A multidão, ao vê-lo, correu para abraçar-lhe e rapidamente o elevaram e levaram até o palanque, onde discursou por mais de uma hora aos presentes. Seus olhos eram como duas cachoeiras, suas lágrimas eram puras, sinceras, verdadeiras e seu discurso ganharia as páginas da História Mundial.

Dias depois, os corpos do Juiz Sergio Moro e sua esposa, de Temer, Aécio, Eduardo Cunha, Jucá e Alckmin foram encontrados carbonizados nas respectivas cidades onde residiam, mais de 50 golpistas deixaram o Brasil na calada da noite, outros tantos foram obrigados a deixar o país, despidos de suas posses e bens mais valiosos.

No dia seguinte, o STF reconduziu a Presidenta Dilma Rousseff de volta ao cargo com a missão de organizar eleições democráticas em nosso país, e não houve dúvidas a respeito da legitimidade da vitória de Lula, afinal, se tratavam de pouco mais que 100 milhões de votos, a maior e mais arrebatadora vitória de um candidato em toda a História do mundo. E com Lula à frente de toda uma nação disposta a recuperar o tempo perdido, e as riquezas doadas pelos golpistas do Consórcio de Ladrões, as quais nos envergonharam diante de todas as nações do planeta, o Brasil se viu novamente no rumo do crescimento e do respeito mundial. Nesse meio tempo, os demais golpistas, incluindo vários Ministros do Supremo Tribunal Federal foram presos e julgados por um Tribunal Militar e mesmo com todas as garantias constitucionais lhes sendo ofertadas, a natureza de sua traição à pátria, acarretou o fuzilamento de todos. Serviram de exemplo e marcaram com seu sangue, uma nova era de combate à corrupção.

E o Brasil, graças a seu povo combativo e honrado, finalmente voltou a prosperar...





sexta-feira, 13 de abril de 2018

EU AVISEI

Eu avisei e me chamaram de petista;
Eu avisei e me chamaram de petralha;
Eu avisei e me chamaram de comunista;
Eu avisei e me chamaram de canalha.

Eu avisei e me chamaram de castrista;
Eu avisei e me chamaram de defensor de corruptos;
Eu avisei e me chamaram de gayzista;
Eu avisei e me chamaram de corrupto.

Eu avisei e me chamaram de abortista;
Eu avisei e me chamaram de fanático.
Eu avisei e me chamaram de fascista;
Eu avisei e me chamaram de problemático.

Eu avisei e me chamaram de pão com mortadela.
Eu avisei e me chamaram de ladrão;
Eu avisei e me chamaram de filho de uma cadela;
Eu avisei e me chamaram de burrão.

Eu avisei e me chamaram de socialista de iphone.
Eu avisei e me chamaram de idiota, imbecil;
Eu avisei e recebi em troco, o ódio;
Eu avisei e me mandaram pra fora do Brasil.

Eu avisei e virei assunto na boca de manipulados;
Eu avisei e tive que escutar muita besteira;
Eu avisei, mas meus avisos foram sufocados;
Eu avisei e recebi críticas rasteiras.

Eu avisei e fui acusado de receber dinheiro do PT;
Eu avisei e me mandaram ir pra Cuba;
Eu avisei e teleguiados passaram a me ofender;
Eu avisei e fui ameaçado pelas mais vis criaturas.

Eu avisei e me horrorizei com as baixarias que ouvi;
Eu avisei e virei bolivariano;
Eu avisei e se fizeram de surdos;
Eu avisei e ouvi discursos desumanos.

Eu avisei e tive que engolir o desprezo de amigos de longa data;
Eu avisei e tentaram argumentar sem ter entendimento;
Eu avisei e vi amigos com orgulho de serem analfabetos políticos
Eu avisei e estava certo a todo momento...

Eu avisei e fui desprezado
Eu avisei e muita gente riu;
Eu avisei e fui violentamente atacado;
Eu deveria mesmo era ter mandado todos, pra "ponte que partiu".

F. Hernandez (pensando nos verde-amarelos que nos lançaram no precipício da imoralidade e da corrupção)


quinta-feira, 12 de abril de 2018

MANIFESTOCHES - Poesia de um Pesadelo



Armas de destruição em massa
Massa de manobra do "irmão" nortista
Servis patos que compraram a farsa
E entregaram o país num frenesi golpista.

Bradando patriotismo infantil
Entre vis relinchos ultrajantes
Em pura estupidez, mandaram o Brasil
Ao velho colonialismo de antes.

Apoiaram a destruição da nossa economia
Eufóricos em seus carnavaizinhos
São deles nossos 7x1 de todos os dias
São deles os mais vergonhosos descaminhos.

De cabeça vazia, criaram egóicas torcidas
Numa atrocidade que da nossa cara retorcida nos custam os olhos
Procuraram algum sentido na vida
Entregando de bandeja nosso petróleo

E da Embraer que se despede
Voam sonhos de soberania
Tudo entregue de forma leve
Porque panelas ressoaram em harmonia.

Patos tontos, tontos patos
Gente limitada se achando gênios
Na burrice descarados
Recolhem merdas como se fossem prêmios.

Serão todos escravos diplomados
Quem mandou apoiar vilões doentios?
Somente a estupidez dos alienados
Somente cérebros vazios.

F. Hernandez

A Tempestade

Pouco antes do raiar do dia, viaturas da Polícia Federal e dos Alckmistas ganham velozmente as ruas de São Bernardo do Campo, dispostos a cumprir a ordem de prisão contra o ex-Presidente Lula.

Não há sirenes, não há giroflex, apenas o cantar dos pneus ecoando pelas ruas ainda vazias. Alguns Policiais estão preocupados e já transpiram.Tensão.

Em frente ao edifício, militantes em vigília revezam o descanso, uns conversam animadamente, outros cochilam em sacos de dormir e dois ou três registram o momento. Apesar das falas sobre como agiriam se tentassem prender Lula, das pedras e coquetéis Molotov, ninguém jamais poderia imaginar os eventos que estavam por vir, muito menos os reflexos no país e no mundo.

As viaturas chegam e se posicionam do outro lado da rua e, de imediato, a tensão que acompanhava os Policiais se dissemina envolvendo os militantes... O ar fica pesado. Um helicóptero solitário surge, é da Globo, avisada de antemão, para garantir sua exclusividade, escorada em sua criminosa cumplicidade com o Tribunal de Exceção da 13ª Vara de Curiba.

O Comandante da Operação, um Coronel da Polícia Militar, munido de estridente megafone ordena os militantes a deixarem o local, dizendo que tem ordens e as fará cumprir... Repete a fala por três vezes, mas ninguém se move, ninguém diz nada; até que uma voz solitária rompe o silêncio, retumbante como um trovão: "Lula Guerreiro do Povo Brasileiro!" A voz é grave, profunda e instigante.

Em uníssono, os 300 militantes, que protegem seu bravo Leônidas, passam a repetir o brado e o Comandante não consegue nem ouvir seus próprios pensamentos. Visivelmente incomodado por não ser atendido imediatamente, bate o calcanhar direito no solo com um enrijecimento corporal afetado... Se permite uma careta involuntária e se volta aos seus comandados.

Menos de cinco minutos depois, surge a Tropa de Choque, que se posiciona entre as Polícias e os militantes. O ar fica elétrico enquanto os comandados preparam sua falange de robocops servis e sanguinários (SS). E os militantes começam a se municiar.

O som ritmado e ameaçador dos golpes de cassetete nos escudos, dos coturnos impecavelmente reluzentes da servidão contra o asfalto, traz promessas de dor e ranger de dentes.

De repente, três bombas de gás lacrimogêneo são arremessadas contra os heróicos militantes, porém são chutadas de volta tão rápido quanto atingiram o chão. O Choque avança lenta e ameaçadoramente... E os militantes batem no peito e chamam para a briga. "Tira esse uniforme e vem na mão que nem Homem!" grita desafiador um rapaz negro, de cerca de 1,90, ao seu lado, uma jovem Feminista mostra o dedo do meio da mão esquerda aos Policiais antes de vestir um soco inglês.

Subitamente, uma inesperada chuva de pedras escurece o céu - grandes o suficiente para causar danos consideráveis - se precipita sobre capacetes e explodem nos escudos, detendo a falange obediente. Há um segundo de silêncio e mais bombas ganham o céu matinal, emudecendo e espantando os pássaros.
Balas-de-borracha cortam o ar e atingem alguns, mas o efeito não é o esperado e rapidamente dois coquetéis Molotov começam a voar. Uma das garrafas atinge um Policial em cheio, imediatamente, ele se vê envolto pelo fogo e alguns soldados - desesperados - vão ao seu socorro. Ele grita alucinadamente com a carne sendo consumida, alguém grita: "hoje tem churrasco de porco! Risadas despontam... Os sons do povo congelam o sangue dos Policiais por um breve momento.

Ainda assustados com o desespero do infeliz colega de farda, os soldados conseguem apenas arregalar os olhos em pânico ao se depararem com o vôo sincronizado de dezenas de coquetéis molotov em sua direção.

O fogo se espalha, a falange se desmancha e o caos se instala entre os uniformizados, dezenas deles - ardendo em chamas - correm procurando apagar o fogo, deixando pra trás, armas, escudos e cassetetes. A dor e o frenesi mais caótico se instalam.

Atônito e enraivecido, o Comandante saca sua arma e atira contra o maior dos militantes, aquele rapaz de 1,90... E novamente, o resultado não é o esperado. Caído ao chão, resistindo a dor, pede aos companheiros que não cessem enquanto tenta estancar a ferida na barriga, o sangue é escuro, o ferimento, fatal.

Ao primeiro disparo de seu Comandante, os demais Policiais sacam suas armas e começam a gritar ameaças e palavrões... Dois tiros são disparados, um acerta uma garota grávida no ombro, instigando mais ódio entre os militantes, o outro passa a milímetros do rosto de outra garota, raspando-lhe a orelha direita. Jornalistas registram a cena enquanto se escondem atrás das viaturas policiais.

Garotas e garotos adeptos das táticas "Black Bloc" surgem, com todo o fogo da juventude, se posicionam à frente dos Policiais e com seus compensados, se protegem e protegem aos demais, um deles se volta aos militantes e começa a coordenar a todos, outro distribui um líquido para aliviar o ardor dos sprays e bombas de gás-lacrimogênio. Enquanto isso, duas centenas de manifestantes aparecem correndo, gritando alucinadamente e cantando bem alto... A disposição dos presentes se renova. Uma nova chuva de pedras escurece parcialmente o céu.

O ataque dos jovens consegue ser ainda mais contundente e aterrorizador, porém, os Alckmistas abrem fogo. Das 8 pessoas atingidas, duas morrem instantaneamente. Do helicóptero, a repórter global se desespera e seus gritos garantem um aumento inédito nos índices do Ibope.

O sangue tinge a rua e garante um campeão de audiência matinal.

Por todo o país a população acompanha com a respiração suspensa sem acreditar no que vê. Nas padarias, pães queimam nas chapas, atendentes deixam os copos de café transbordarem e clientes nem percebem. Há silêncio, há temor. Alguém diz em voz baixa: "Começou a revolução"...

Nas casas, as pessoas de espírito mais fascistóide, até viram os olhos em deboche e prazer, gritando: "matem esses vagabundos! Larga o aço!" Os mais bestiais gritam: "Ustra vive!" e "Bolsomito!" demonstrando que já perderam há muito a humanidade. Nota-se o sadismo em seus olhos e no cantinho da boca, seus olhos vidrados assustam.

Não leva muito tempo para que a população entre em ebulição e a violência irrompa em ondas por todo o Brasil. A mais sangrenta revolução a tomar conta do país começa a se formar... Não se sabe como começou, talvez um olhar enviesado, um encontrão, um xingamento... A Luta de Classes finalmente tem início como uma grande tempestade de ódio mal-contido e ressentimentos; nas ruas, um homem é arrancado de seu gigantesco carro importado e espancado até quase a morte, antes de desmaiar vê seu automóvel partindo com várias pessoas dentro. O som estrala. Em um posto de gasolina, frentistas agridem e desnudam o proprietário abusivo, descontando os anos de humilhações e ameaças nas carnes tenras de seu corpo rosado.

Por todo o país, em cada cidade, há confrontos de cidadãos e cidadãs com a Polícia, em pelo menos, 20 cidades, surgem relatos de Delegacias em chamas com os servidores queimando lá dentro.
Em São Bernardo do Campo, com a chegada dos blindados israelenses de Alckmin e seus poderosos jatos d'água, os militantes não podem mais contar com seus coquetéis Molotov. Ainda assim, o recuo é ínfimo e somente para pegarem mais paus e pedras.

Integrantes do MST e do MTST surgem e a batalha ganha em intensidade e sangue. Dois Policiais são capturados e suas mortes violentas horrorizam o país. Mais tiros, inúmeros, e uma massa de pessoas vai ao chão, porém, os demais avançam como o nipônico "Vento Divino", os Policiais que recarregavam suas armas se assustam, balas vão ao chão, o suor frio escorre intenso... Barras de ferro explodem cabeças de Policiais, braços e pernas são fraturados, uniformes rasgados. Uma Policial feminina se lança ao chão cobrindo a cabeça...

E começa a maior convulsão social de todos os tempos no Brasil.

Por todo o país explodem batalhas sangrentas. Condomínios de luxo são invadidos por hordas e mais hordas de piratas urbanos. Os saques são impossíveis de serem contidos; bancos são invadidos e os Seguranças não oferecem resistência, os funcionários entregam todo o dinheiro das agências sem pestanejar.

No Rio de Janeiro, mais de mil pessoas invadem a Rede Globo, queimam tudo e arrastam William Bonner nu pelas ruas, até que partes do seu corpo se desfaçam no asfalto. Por final, sua cabeça é hasteada em frente à sede da emissora sob o escárnio dos populares. Aécio Neves é encontrado, porém, preocupado com toda a situação, atormentado pela culpa por conta de seu comportamento de playboy mimado ao enfrentar a derrota na última eleição, seu corpo já estava sem vida por causa de uma overdose cavalar. Ao seu lado na cama, um espelho e meio quilo de cocaína o denunciavam.

Curitiba arde em uma fiesta de sangue e fogo, Sergio Moro e sua esposa são capturados e despidos em praça pública... Uma voz ecoa: "Mussolini tem que morrer como Mussolini" e Moro quase morre engasgado na própria saliva grossa. Sua esposa, tentando inutilmente cobrir sua vergonha com as mãos, chora copiosamente antes mesmo do primeiro tapa.

O fim do casal é escabroso demais para ser registrar aqui. Mas pode-se dizer que há pedaços deles para cada cidade paranaense. Suas mortes foram lentas e o sadismo do povo estava insaciável. Suas carnes foram salgadas para se vingar de um histórico Tiradentes... Alguém disse no meio da multidão: o povo não está se vingando apenas por Lula, mas por Tiradentes também! Foi a dica para que alguém corresse para buscar sal grosso numa vendinha de frente à praça onde foram executados.

Em Brasília, Temer perde de vez o controle de seu já - e há muito - afrouxado esfíncter, emudecido diante da tevê. Atordoado e mal-cheiroso, pois sua fralda não conteve sua coragem, anda de um lado a outro em seu gabinete, pede até a Deus por uma luz. Logo ele. Nos jornais do dia seguinte, o Brasil se assustaria ao tomar conhecimento de que mais de uma centena de parlamentares que votaram pelo impeachment da Presidenta Dilma Rousseff foram assassinados, várias dezenas foram encontrados afogados, boiando no lago sul, alguns desfigurados, entre os corpos, vários foram identificados como de moradores da região.

Nas redes sociais, a guerra ganha proporções mais expressivas a cada segundo. As "hashtags": #BrasilComLula e #AForçaDoPovo só perdem para #FarraDoBoy e #PrayForBrazil.
O mundo observa os acontecimentos no país com lágrimas nos olhos, uma prece na boca e um aperto no coração. Inevitavelmente, a lembrança do massacre da Praça da Paz Celestial vem à mente. Um arrepio percorre a coluna.

Presidentes de vários países dão entrevistas condenando o Brasil, nosso judiciário e apontam o julgamento de Lula como a farsa que é. Correspondentes falam em Regime de Exceção. No Vaticano, o Papa Francisco convida os fiéis a orar pelo país e chora copiosamente, não sem antes condenar a violência do Estado brasileiro.

Em São Bernardo, o número de mortos e feridos ultrapassa duas centenas, o sangue avança com o fluxo de uma enxurrada. Atiradores de elite chegam e aumentam consideravelmente esse número, para o horror do Primeiro Mundo.

Em Porto Alegre, os três Desembargadores do Tribunal Regional Federal são capturados e por horas são obrigados a comer páginas da Constituição. Quando não conseguem mais, enfiam-lhes cabos de vassoura na boca, para empurrar-lhes goela abaixo mais e mais páginas. Eles sofreram por 5 horas. Morreram com seus intestinos arrebentados, vertendo sangue por todos os lados.

A ONU marca uma reunião extraordinária de extrema urgência para tratar do tema. Líderes de todo o mundo atendem.

De férias em Angra dos Reis, Luciano Huck acompanha os desdobramentos com a Mulher e percebe o perigo que os ronda quando vê ruas próximas a sua casa na tevê, estão tomadas por milhares de militantes. Em desespero, corre a casa arrematando objetos de valor e corre para o heliponto, onde, com muito esforço, consegue embarcar Mulher e filhos num helicóptero, porém é capturado antes que pudesse se salvar. Angélica e as crianças ainda o viram de joelhos pouco antes de sua cabeça explodir sob o peso de um pedaço de madeira, alguns acreditam hoje que a explosão foi o resultado de toda a culpa a pressionando.

Em São Paulo, células neo-nazistas despertam e os MoreNazi brasileiros - também conhecidos como WhitePardos - ganham as ruas, porém seus corpos inchados com Deca, Winstroll e anabolizantes eqüinos, seus porretes e correntes não fazem frente à força moldada na lida, não duram nem metade do tempo que acreditavam e voltam às casas de suas mães pedindo colo e Toddynho. Alguns vão direto para hospitais da região com a suástica marcada à faca em brasa no rosto. Por toda a região sul, o mesmo é registrados, neo-nazistas são atacados em praça pública e executados, em algumas cidades resistem mais, noutras menos, mas o resultado é sempre o mesmo, acabam mortos e tem a cabeça decepada.

Em seu gabinete, Alckmin ouve o que não quer de um de seus assessores e surta: "- Senhor, roubar dinheiro de merenda é uma coisa, isso aí vai acabar com suas chances na eleição..." Rendido, Alckmin ordena que seus comandados cessem a guerra e voltem aos quartéis. O faz a contra-gôsto e sai resmungando a caminho do banheiro: "malditos, eu poderia resolver o problema, seria um 'Carandiruzaço' e acabaria com toda essa maldita Esquerda brasileira". Alterado pede para que preparem seu helicóptero, ele voltaria a Pindamonhangaba, onde horas depois seria encontrado dilacerado a golpes de foice nas imediações da Fazenda Santa Helena. Apesar de prometer investigação pesada, a Polícia Civil jamais encontrou os assassinos e o que se diz na cidade é que eles foram identificados e parabenizados pelos Policiais.

Enquanto isso, em Brasília, cagado e com medo, Temer ordena que todas emissoras sejam colocadas fora do ar e resolve fugir do país. Marcela tem a mesma idéia e foge com o filho e seu motorista particular, com quem tinha relações há mais de 20 anos. Antes de sair, Marcela faz questão de revelar que Jurandir é o verdadeiro pai de Michelzinho. Josicleison, o segurança-particular se revolta, pois acreditava ser ele o pai e atira contra Marcela que escapa deixando o filho para trás.

Triste também foi o fim de vários políticos. Jair Bolsonaro, por exemplo, desapareceu por completo após ser abordado por um grupo de crianças de rua. Pelo que se fala à boca miúda, nem seus ossos serão encontrados. Seus filhos, emasculados, foram obrigados a se beijar e seu flagelo foi dos mais longos, terminando no esmagamento de suas cabeças debaixo das rodas de um ônibus. José Serra é encontrado decapitado às margens do Rio Pinheiros. Seu genital, arrancado, é encontrado em sua boca, que fôra costurada. Seus olhos haviam sido arrancados. No futuro, uma autópsia confirmaria a informação de que ele morrera por conta da perda de sangue e que ficou mais de uma hora sendo torturado. Chegam notícias de que Ronaldo Caiado e Rodrigo Maia, mais Collor, Carmen Lúcia e Barroso foram enterrados vivos em local desconhecido no Distrito Federal, por anos escavações procurariam seus corpos, os quais só foram localizados, 21 anos depois e suas identidades só foram confirmadas com exame de DNA. Fachin nunca foi encontrado... Dizem que foi colocado em ácido sulfúrico e deixado de existir no planeta Terra.

Por todo o país, legiões de miseráveis invadem casas, se fartam das dispensas abarrotadas, tomam banho, trocam de roupas, alguns telefonam para familiares distantes, bebem, fazem churrascos, nadam nas piscinas das casas de altíssimo padrão dos condomínios desenhados para mantê-los distantes.
Enquanto isso, no apartamento de Lula, os telefones não páram... Líderes da Esquerda de todo o mundo ligam para pedir a intervenção do ex-Presidente, pedindo-o que acalmasse a situação; políticos brasileiros falam num pacto nacional e em adiantarem as eleições.

Malafaia e Feliciano são executados num terreno baldio e antes de terem seus corpos queimados, apanharam bastante e tiveram suas línguas arrancadas. Ambos correm por cerca de 10 metros antes de cair e serem consumidos pelo fogo.

Já passavam 27 minutos das 17:00 horas quando o ex-Presidente desce, vai ao encontro dos bravos combatentes, cumprimentando-os um a um, enquanto a Polícia oferece uma trégua, e não consegue conter as lágrimas ao ver os corpos dos Companheiros e Companheiras estirados pela rua tomada de sangue. Há jovens entre os mortos, alguns jovens demais... Sua emoção é verdadeira e contagiante.

Ao pedir por paz, recebe a negativa enérgica de muitos, pois eles crêem que é chegada a hora da revolução há tanto adiada pelo entorpecimento midiático. Eles tem sangue nos olhos. Contudo, à distância, se ouvem os gritos do Comandante da Polícia, avisando que a ordem de prisão fôra revogada pelo que restou do STF e que bateriam em retirada.

Os bravos Guerreiros da Democracia - como ficariam conhecidos na História - que restaram, começam a gritar em barulhenta, animada, mas breve comemoração, pois logo correm para socorrer os feridos e apagar o fogo das viaturas tombadas, dando passagem aos guerreiros da vida do SAMU. Todos, mesmo contentes e orgulhosos da dura Vitória, choram, por entender que cada Companheira e Companheiro que tombou, passara a ser como uma irmã, um irmão. A frase: "Aquele que sangra comigo é meu irmão" ecoa nos corações e mentes de todos.

Meses depois, Lula é eleito Presidente do Brasil pela terceira vez, já no primeiro turno de forma avassaladora e seu primeiro ato é condecorar aqueles que deram suas vidas pela Democracia, com a mais alta honraria do país. Pouco depois, com referendos revogatórios, desfaz, com o auxílio do povo brasileiro, todos os atos do finado usurpador Michel Temer e estabelece as bases para um Brasil melhor para todos.

Um Brasil de todos, por todos e para todos.


quarta-feira, 11 de abril de 2018

Julgamento de Exceção - o Caso Lula

Começo este texto sem me importar com o que pensa o nobre leitor, a nobre leitora, acerca da prisão do ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva, deixarei minhas considerações sobre o tema para o final do presente rabisco (exatamente para que até lá, vocês tenham mais informações - propositalmente deixadas de lado na grande mídia - para um veredito mais preciso, mais acertado e obviamente, mais justo), preservando o desenvolvimento do raciocínio mais aprofundado acerca da perigosa seara na qual nosso país adentrou após o triste espetáculo proporcionado pelo Supremo Tribunal Federal.

Sim, pode-se dizer que o STF oficializou a volta do país e, por óbvio, de todos nós, ao Estado de Exceção... Sei que muita gente bem mais gabaritada do que eu - um mero escriba sem títulos ou posição de destaque numa sociedade que opera por signos e símbolos de prestígio - já vinha nos alertando do que era apenas um "flerte" com essa condição assustadora, construída pela narrativa midiática mais dissimulada - às vezes, nem tão dissimulada assim.

Para que fique claro, o Estado de Exceção é o oposto do Estado de Direito, o qual nada mais é do que uma situação jurídica na qual cada um e todos (do simples indivíduo até o poder público) são submetidos ao império do Direito. No Estado Democrático de Direito, o poder do Estado é limitado pelo seu conjunto de leis, ou seja, pelo Estado de Direito, nenhuma ação - seja de governantes, seja de agentes do Estado - deve ir contra as leis estabelecidas naquele território ou contra o Direito Natural. Assim como os indivíduos estão submetidos às leis como forma de viver em sociedade, também está o Estado sujeito ao Direito.

O Estado de Exceção, este traço aviltante do autoritarismo moderno, por si, representa a suspensão do Estado Democrático de Direito através do próprio Direito, ou seja, através de leis constitucionais que preveem tal medida; neste caso - por norma - alguns Direitos do cidadão podem ser suprimidos. No Estado de Exceção, ou de Medidas de Exceção, não é necessário o uso da força pelo Estado, aliás, até a dispensa. Os processos são conduzidos de forma fraudulenta e vão minando a Constituição - e a Democracia - ao passo de que mantém uma imagem de legalidade.

Ainda estou distante de adentrar em minhas considerações sobre o julgamento, recursos e prisão do ex-Presidente Lula, porém, para abordar as tais considerações acerca do objeto de desenvolvimento da presente elaboração de idéias, utilizarei, obviamente, o que nomeei aqui como "Caso Lula".

Gostaria de deixar clara aqui, o real combustível para a elaboração do presente texto. Tenho percebido uma enorme dificuldade na discussão do tema em alguns setores da sociedade, principalmente entre pessoas da classe média, que - como sabemos - operam com signos e símbolos de prestígio, daí a dificuldade de diálogo mais aprofundado; explico: a classe média em geral, prefere ater-se a "casca" não ao conteúdo, logo, não se aprofunda e fica presa ao discurso mais superficial e desinformado que lhe é oferecido pela mídia, passando a repetir à exaustão, uma visão frágil cujo embasamento se dá na imagem pública dos protagonistas.

Podemos, para promover fácil entendimento, dividir o "Caso Lula" em três atos, ou mesmo quatro, já relativo à efetiva prisão do ex-Presidente.

Vamos lá:

1° ATO

Num primeiro momento, para situar o leitor, a leitora, diante da gravidade inerente ao tema, preciso apontar que a 13ª Vara de Curitiba representa o que se conhece juridicamente como um "Tribunal de Exceção", pois tão somente com este entendimento, será possível compreender a aventura perigosa na qual nosso país se lançou. O "Tribunal de Exceção" é aquele formado temporariamente para julgar um caso (ou alguns casos) específico (s) após a identificação de um delito e deve-se atentar para o fato de que os tribunais de exceção não são imparciais, uma vez que sua criação ou estabelecimento, é direcionado para um caso específico. O "Tribunal de Exceção" só é criado quando existe algum interesse na direção das decisões e resultados, ponto. Em nosso país, a Constituição proíbe expressamente o "Tribunal de Exceção", em seu artigo 5°, inciso XXXVII, que afirma claramente que não haverá Juiz ou Tribunal de exceção no Brasil. Outro problema do "Tribunal de Exceção" é que o réu perde algumas das outras garantias do processo, como a do "Juiz Natural" (tratarei deste tema em instantes). Os tribunais de exceção, em sua maioria, são expressões de países totalitários ou se apresenta como forma de repressão pública de alguns indivíduos considerados "desviados" ou que, aos olhos da população, mereçam severa punição (no Brasil, a narrativa é a de contra a corrupção política, há outras, até mais importantes, mas escondidas e abafadas com a narrativa hegemônica da corrupção apenas na esfera política).

Registro: qualquer país que se diga democrático deve abolir todo e qualquer tipo de "Tribunal de Exceção".

Bem, com tal informação em mente, volto às minhas reflexões e ponderamentos, começando pelo desrespeito ao "Princípio do Juiz Natural" (cerne inegável de toda a construção da farsa jurídica que o Brasil vem acompanhando como a uma novela), fato muito debatido nos meios jurídicos por conta da competência ou não do Juiz Sergio Moro em julgar o processo e, claro, sem esquecer de que tal princípio é um Direito e uma Garantia Constitucional.

Pelo meu humilde conhecimento - e entendimento - na área em questão (acredito salutar alertar), creio que os Direitos e Garantias Constitucionais funcionam como um sistema de pesos e contra-pesos, onde o Estado, atribui direitos aos cidadãos e estabelece limites nas relações, entre os indivíduos e entre os indivíduos e o Estado.

Segundo nossa Constituição Cidadã de 1988, a figura do Juiz Natural surge no Artigo 5°, incisos XXXVII ("Não haverá juízo ou tribunal de exceção", já apontado anteriormente), LIII ("Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente") e LIV ("Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens, sem o devido processo legal"), ou seja, o Princípio do Juiz Natural decorre da garantia constitucional do devido processo legal. Vale aqui registrar as palavras do Relator Ministro Nilson Naves da sexta turma do STJ: "O Princípio do Juiz Natural tem, ao fim e ao cabo, resguardar a legitimidade, a imparcialidade e a legalidade da jurisdição". Todas as Garantias do Juiz Natural visam a proteção da ordem democrática.

Podemos - todos - constatar que o Princípio do Juiz Natural está entre os direitos fundamentais, por conferir a certeza de que a ação será julgada por Juiz ou Tribunal competente, também princípios do devido processo legal.

Em referência ao "Caso Lula", merece especial atenção à competência do Juiz Sergio Moro na ação. Quando digo "competência", me refiro tão somente a competência "ratione loci" (a qual, em razão da função e não da pessoa individualmente é), utilizada para fixação de competência, onde adota-se como critério, o local em que os fatos ocorreram ou o local de domicílio/residência do réu, isso porque os casos que se apresentam ao poder judiciário somente poderão ser julgados pelos órgãos julgadores situados em locais que guardem alguma relação com os fatos que o originaram.

Como todos sabemos, o Guarujá não está localizado nas proximidades da Ilha do Mel, contudo a alegação do Ministério Público Federal, apontava que o caso em questão estaria ligado às investigações acerca da corrupção na Petrobras, sendo que sua aquisição e reforma teria sido acertada como pagamento de propina ao ex-Presidente pela real proprietária do imóvel, a construtora OAS. Digo "real" porque jamais ficou comprovado que Lula seria o proprietário do imóvel, muito pelo contrário, pois há farta documentação comprobatória contrárias a tal alegação. Para piorar, ficou bastante clara a incompetência ("ratione loci", melhor pontuar pra não dar margem a interpretações maliciosas) do Juiz Sergio Moro sobre o assunto e que o mesmo nem deveria ter chegado às suas mãos, quando ele mesmo admite tal incompetência em suas respostas aos embargos de declaração requisitados pelos Advogados do ex-Presidente. A saber: "Este Juízo jamais afirmou, na sentença ou em lugar algum, que os valores obtidos pela construtora OAS nos contratos com a Petrobras foram utilizados para pagamento de vantagem indevida para o ex-Presidente Lula". Ou seja, o Magistrado simplesmente atestou sua incompetência para julgar o caso, demolindo a argumentação do Ministério Público Federal, que levou o caso para além do seu devido Juiz Natural. Que fique claro, o Juiz Sergio Moro não poderia julgar o caso, pois o mesmo não era de sua alçada. Se a Moro não cabia tal julgamento, isso deveria gerar a nulidade do processo por ofensa ao Princípio do Juiz Natural, ponto. Trata-se de questão, até mesmo, de bom senso, se tal julgamento não lhe cabia, o mesmo deve ser anulado e o processo enviado para o Juiz Natural e o processo recomeçar. É o justo.

A questão do Juiz Natural é tão elementar, tão básica, que é de amplo domínio dos estudantes de Direito e até mesmo o senso-comum tem a percepção de que os processos devem ser julgados na vara localizada nas cidades na quais tenham sido praticados os delitos.

A resposta do Juiz Sergio Moro aos embargos de declaração, derrubou a alegação de que o processo era de sua competência em razão de vínculos com os desvios na estatal, ponto. Chegamos a uma condição tal em nossa sociedade, que um Juiz desmonta alegação que o ligaria ao caso e ninguém se importa. Não posso deixar de acreditar que há um certo descaramento nas pessoas que cometem ilícitos, descaramento este, garantido pela inércia das pessoas perante injustiças, talvez porque se perderam no próprio desejo de justiça - ou do que acreditam ser justiça - ou mesmo por acreditarem que este ou aquele não merecem ser tratados com justiça. Tempos bicudos, como diria a Presidenta Dilma Rousseff.

Além do grave fato de que o Juiz Sergio Moro não ser o Juiz Natural para o caso em questão, há também a farta produção de provas atestando que o apartamento no Guarujá não é, nem nunca foi de propriedade do ex-Presidente Lula, inclusive, de acordo com a sentença da Juíza Luciana Oliveira, da Justiça Federal do Distrito Federal, o imóvel passou a ser de propriedade da empresa Macife, credora da falida OAS, ou seja, estamos diante de uma prova cabal de que o triplex era e continuava sendo da construtora OAS.

Ora, o Juiz Sergio Moro não era o Juiz Natural do caso, há a certeza da titularidade do imóvel como de propriedade da OAS, como aceitar uma decisão condenatória nestes termos postos? Somente se estabelecermos como critério, a aceitação de que há um Tribunal de Exceção estabelecido em Curitiba, que desrespeita a Constituição Federal e que se entende acima das leis vigentes em nosso país! Muitos são os que dizem que o ex-Presidente se acreditaria acima da lei e que a lei é para todos, porém, estes se calam diante da constatação de que o Juiz Sergio Moro, ao invés de garantir a execução de nossa Constituição, a ignora e deturpa, satisfazendo setores da sociedade que não se importam e ainda aplaudem tal atitude.

Em passagem interessante - por reveladora - o Cientista Político Alberto Carlos Almeida, em conversa pessoal gravada e ilegalmente tornada pública pelo Juiz Sergio Moro, alertava o ex-Presidente que sua condição na Justiça, os pobres já conheciam muito bem, pois todos os sinais de que Lula seria condenado, independentemente de culpa, estavam postos, ou seja, mesmo que provas de sua inocência se acumulassem, estas seriam ignoradas descaradamente. E foi o que aconteceu, o Ministério Público Federal fracassou miseravelmente em apresentar provas, o Juiz ignorou deliberadamente as provas produzidas pelos Advogados de defesa e ficou por isso mesmo. É justo dizer que todos sabíamos que o Juiz Sergio Moro condenaria o ex-Presidente de qualquer maneira, mesmo desrespeitando a Constituição, algo que vários Juristas já apontavam ser 'de praxe' naquele Tribunal, operando acima da Constituição, em flagrante desrespeito às leis que regem nosso país e a todos nós.

Cabe a assustadora constatação a qual muitas pessoas chegaram, em forma de questionamento: "Se fazem isso com um ex-Presidente, se atropelam a Constituição para condenar um ex-Presidente, o que podem fazer conosco?"

Para lacrar a tampa do caixão do Poder Judiciário, Moro ofendeu a inteligência de todo o povo brasileiro ao revelar em sua condenação, desconhecer quais atos do ex-Presidente favoreceram a construtora OAS em contratos com a Petrobras, em contra-partida ao suposto recebimento por ele de alegada vantagem indevida. Ora, para se sustentar a alegação de que Lula recebera vantagens, dever-se-ia apresentar qual foi o ato em benefício da construtora, é o mínimo que se esperaria em um julgamento justo; ao alegar tratar-se de "ato de ofício indeterminado", o Magistrado reconhece a não-identificação do ato em si e a corrupção decorre da atuação de duas pessoas, aquela que corrompe (corrupção ativa - Artigo 333: "Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício) e o sujeito que, através de seu cargo, se deixa corromper, o primeiro oferece alguma vantagem e o segundo, ao aceitá-la, utilizando do poder que lhe atribuído, para tomar algum ato que beneficie o primeiro. Na minha opinião, ter o ato devidamente identificado é um pressuposto básico para se julgar alguém... É como se dissesse "eu não sei o que ele fez, mas ele deve - ou pode - ter feito algo", o que, a meu ver, não cabe para validar uma sentença condenatória.

Desconhecer quais atos do ex-Presidente beneficiaram a construtora, leva a um questionamento bastante simples, mas de difícil resposta: "Se a OAS comprava e pagava com o apartamento, a intervenção de Lula para obter contratos na Petrobras, por que precisaria gastar tantos milhões em suborno de dirigentes da Petrobras para obter os contratos? (Janio de Freitas)".

Com "ato de ofício indeterminado", o Juiz Sergio Moro condenou o ex-Presidente por atos que alega desconhecer - ou quem sabe, não existir! Sim, seria cômica se não fosse trágica essa afronta à nossa Constituição e nossa inteligência. Com o triplex, a OAS retribuía um favorecimento que não aconteceu. Ou você encontra e aponta qual ato incrimina o ex-Presidente ou o absolve, mas não encontrar e ainda assim condenar é apenas compreensível em se tratando de um Tribunal de Exceção. 

Diversos Juristas tratam do tema com maior reverência e educação ao apontar que todo o processo é frágil, eu já digo que todo o processo e a condenação são fraudulentos (fraudes tem apenas a aparência de legalidade, mas estão muito distantes da mesma).

Ao não observar os direitos constitucionais do ex-Presidente Lula, podemos afirmar categóricos que a 13ª Vara de Curitiba é uma Tribunal de Exceção, onde um Juiz interpreta a lei a seu bel prazer ao invés de julgar com lealdade à Constituição.

Para finalizar, há o depoimento do Diretor da OAS, Léo Pinheiro, um depoimento que jamais seria levado a sério por qualquer pessoa com um mínimo de discernimento, por isso a não-veiculação na mídia de fato relevante: ele não deu depoimento na condição de testemunha e sim de "colaborador" e há uma diferença gritante entre as condições, pois o primeiro tem a obrigação de dizer a verdade, o que não ocorre com um colaborador, assim como não há a necessidade de apresentar provas para o que ele afirmou. Ou seja, ele pode mentir no depoimento. Dar status de "prova" às palavras de um delator que não está obrigado a falar a verdade, nem a apresentar provas para o que relata, a meu ver, trata-se de algo reprovável e desacreditado.

Passo agora ao segundo ato, que diz respeito ao julgamento em segunda instância da apelação feita pela defesa do ex-Presidente no Tribunal Regional Federal da quarta região (TRF-4), onde 3 Desembargadores deveriam - em tese - atentar minimamente acerca da condenação e dos elementos probatórios apresentados pelo Ministério Público Federal e Advogados de Defesa.

2° ATO

Infelizmente, o tom de confirmação da referida condenação, desavergonhadamente, foi dado pelo Desembargador Thompson Flores, Presidente do TRF ao elogiar a condenação proferida pelo Juiz Sergio Moro, antes mesmo de tê-la lido! Como elogiar algo sem ter o total conhecimento de seu conteúdo? Talvez por que o conteúdo tenha menor valor e relevância do que a condenação em si? Talvez por que o conteúdo não importe e, sim, tão somente a condenação?

A meu ver, os Desembargadores não honraram a responsabilidade republicana de suas togas ao avalizar uma condenação decidida sem provas, protagonizando - com Moro e após o julgamento do pedido de Habeas Corpus feito pelos Advogados do ex-Presidente - a total desmoralização do Poder Judiciário.

Como a cadeia da corrupção foi da Petrobras ao apartamento, nem o Ministério Público Federal mostrou - nem antes, nem depois - nem os Desembargadores, a sociedade brasileira deveria rechaçar todo o processo e condenação.

Vale lembrar que no julgamento da apelação do ex-Presidente no TRF-4, utilizou-se a Teoria do Domínio de Fato para manter a condenação, desprezando-se que a mesma não serve para a área penal, onde apresenta-se o ato ou não; não cabe o "ato de ofício indeterminado", assim como não cabe o "ele é o Chefe, então ele sabia".

Jamais poderia ficar de fora deste segundo ato, o tempo recorde naquela corte para julgar a apelação, o que corrobora única e exclusivamente a tese de que a aceleração inédita se deu para avalizar a condenação em primeira instância para impedir o ex-Presidente de disputar as eleições deste ano, afinal, mesmo com o massacre midiático e a perseguição política evidente, Lula vem ponteando todas as pesquisas de intenção de voto; não há outro motivo para atropelar cerca de sete processos que estavam na fila para serem julgados naquele tribunal e julgar o recurso do ex-Presidente, senão o medo de seus adversários, de mais uma vitória de Lula e sua volta ao poder, que representaria um baque muito forte nos interesses incalculáveis por trás do golpismo que afundou nosso país.

Sobre o aumento da pena do ex-Presidente, de 9 para 12 anos e hum mês - nota-se claramente a combinação entre os Desembargadores, em franco prejuízo a Lula; se apenas um deles tivesse mantido a condenação original do colega paranaense, a defesa teria o direito de entrar em embargos infringentes que são os recursos cabíveis contra acórdão (decisão dada em processo ou recurso por um colegiado de Juízes, Desembargadores ou Ministros, em segunda instância ou em tribunais superiores) não unânimes profundos por tribunais que reformem, em grau de apelação, uma sentença de mérito. Ou seja, se mantida a condenação original, a defesa poderia ampliar o prazo de apelações, porém, agora poderá - apenas - apresentar embargos de declaração (quando a defesa poderá pedir esclarecimentos sob determinados aspectos da decisão proferida, quando há dúvida, ou não, contradição ou obscuridade), que não modificam a decisão em si.

Tendo a acreditar que o aumento de pena, busca apenas evitar a prescrição da mesma, como recentemente observamos com José Serra. Cabe a reflexão sobre o quão estranho é tal aumento de pena nesse sentido, pois tal critério inexiste no Código Pena, para sustentar dosimetria de pena.

3° ATO

O julgamento pela Supremo Tribunal Federal, foi um evento que praticamente oficializou um Estado de Exceção em nosso país, ao derrubar - momentaneamente - a Presunção de Inocência. O "Princípio da Presunção de Inocência", como cláusula pétrea pelo Artigo 5°, inciso LVIII da Constituição Federal, afirma que "ninguém será considerado culpado até trânsito em julgado de sentença penal condenatória", ou seja, ninguém poderá receber a aplicação da pena até que estejam esgotadas todas as possibilidades de qualquer recurso. Isto posto, a decisão do Supremo Tribunal Federal é flagrantemente inconstitucional, como afirmou a Ministra Rosa Weber: "Eu sei que pode ser inconstitucional, mas voto com a maioria", provocando a lembrança de episódio semelhante quando de seu voto contra José Dirceu: "Não tenho prova cabal para condená-lo, porém, a literatura jurídica me permite". Sem provas, não se pode condenar ninguém, ponto, quem sabe tenha se debruçado sobre tal declaração antes de condenar Lula, como se dissesse: "Não tenho provas, mas Lula é culpado e eu o condeno assim mesmo". Pode-se afirmar, com toda a razão, que se ninguém é considerado culpado até trânsito em julgado, por conta da possibilidade de recursos em instâncias superiores, o ex-Presidente ainda é inocente, logo, temos um inocente na prisão. Para os mais sensíveis, que não aceitam a palavra "inocente" ligada a Lula, se alguém não é culpado, o que é? Inocente e durmam com esse barulho.

Quando apontei tratar-se de um Estado de Exceção seletivo, deve-se ao fato de que a Presunção de Inocência só deverá retornar ao país em Setembro (pois é o que se espera com o Ministro Dias Tóffoli à frente da Presidência do STF), para manter o ex-Presidente definitivamente fora das eleições... Até lá, o Brasil se manterá distante do Estado Democrático de Direito

Pode-se dizer que o Supremo agora não é apenas acovardado, como afirmou Lula e ratificado por setores mais esclarecidos do povo brasileiro, mas também apequenado, por abrir mão de zelar nossa Constituição; assim como se pode afirmar que o Brasil tem um preso político, que só existe em Regimes de Exceção... O STF se curvou ante a pressão dos setores mais conservadores e reacionários de uma sociedade oligárquica, vertical, hierarquizada, desigual e violenta... E, claro, não esqueçamos da pressão inconstitucional das Forças Armadas de forma dissimulada. Hoje, o STF parece se esforçar para oficializar um Estado Policial em nosso país, se curvando para o Juiz Sergio Moro e seu Tribunal de Exceção.

A população precisa defender a Constituição Federal, pois o Supremo Tribunal Federal recusa-se ao seu papel de defensor da Constituição. Eu sempre acreditei no império do bom-senso, da Razão, apenas para descobrir que estamos vivendo tempos onde cumprir a Constituição é algo revolucionário. O STF foi de uma violência - pelo menos pra mim - inimaginável, pois eu jamais imaginaria que um dia, retrocederíamos a tal ponto e mais, em um tempo relativamente curto. Escapamos da Ditadura Militar e agora vivemos sob a Ditadura de Toga e muitas pessoas ou não perceberam ou apoiam diretamente, desprovidos de uma compreensão mais aprofundada.

Pelo meu entendimento, os seis Ministros do STF, os 3 Desembargadores e Sergio Moro, deturparam a Constituição e ao deturpar a Constituição, corrompê-la, mais justo do que apontar que os 10 são corruptos. Em tempo, corrupção não diz respeito exclusiva e tão somente com vantagens financeiras A corrupção é apropriar-se de bens públicos, coletivos e não há bem público maior em uma sociedade democrática do que os direitos fundamentais constituídos e quando um Juiz decide posicionar-se contra tais direitos fundamentais, ele está se apropriando indevidamente do bem público e por pura e simples vontade política (a Corrupção de Toga, este pode vir a ser o título de um novo ensaio. Anotado0.

Qualquer Juiz deveria julgar de acordo com a Constituição, porém, hoje, o Juiz Sergio Moro julga de acordo com o que ele quer e acha certo, julga baseando-se em seus próprios valores pessoais, surfando na onda de moralidade de uma opinião pública construída na desinformação.

E vamos fechar com a prisão, ilegal, do ex-Presidente Lula. 

4° ATO

Como só pude finalizar o texto após a oficialização do pedido de prisão do ex-Presidente Lula, abordarei aqui, os fatos que envolvem tão dramático acontecimento na História do nosso país.

Levando-se em conta as afirmações e explanações anteriores, somadas ao absurdo de um pedido de prisão ter sido expedido antes mesmo da publicação do acórdão, nesse caso, o próprio pedido de prisão é considerado, à luz de nossas leis, inexistente. Não é o que é dito que vale e sim o que está no papel.

Um alento foi a desobediência pacífica do ex-Presidente no ato de não se entregar até o fim do prazo estipulado pelo Juiz Sergio Moro, dessa forma, Lula, conseguiu tomar conta da narrativa dos fatos na mídia, a qual estava ansiosa para veicular fotos do ex-Presidente preso para sua campanha anti-Lula, porém, a foto abaixo foi a que ganhou a mídia, inclusive internacional, frustrando os planos da grande mídia brasileira.


foto Francisco Proner Ramos


CONCLUSÃO:

O ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva é claramente vítima de um Tribunal de Exceção, em uma flagrante fraude processual, apoiada por todo o Poder Judiciário, com o intuito de inviabilizá-lo como candidato à Presidência da República, contando também com o apoio de setores da sociedade que se revelaram incapazes de enxergar o conteúdo do processo e suas decisões arbitrárias e inconstitucionais (e mesmo aquelas pessoas que sabem das irregularidades e ainda assim não se importam e até comemoram), por se deter a enxergar apenas a 'casca', a autoridade de atribuída a seus
heróis. Lamentavelmente, podemos - com maior ou menor clareza - observamos toda uma gama de preconceitos disseminados e formadores da sociedade brasileira, das mais diversas formas, atuando como 'esponjas' de toda e qualquer mentira posta à mesa para justificar a prisão sem justificativa legal do ex-Presidente e também, claro, os motivos fraudulentos de sua condenação.

A classe média, branca, rica, que estudou nas melhores escolas, se formou nas melhores universidades, após o consumo ininterrupto das produções de uma mídia totalizante e manipuladora, perdeu as condições de se lançar ao pensamento crítico do que lhe é imposto diariamente, retrocedendo à mais pura e simples barbárie, ocasionando uma onda de pensamento violentamente fascista. Notamos em nossa sociedade, o mesmo mal apontado por Hannah Arendt, a negação do pensar. As pessoas se negam a pensar para além do discurso midiático, se recusam a pensar para além das soluções fáceis para temas complicadíssimos, onde reside o verdadeiro perigo, o fascismo que se escancara a cada dia em nosso país.

A forma como o ex-Presidente Lula é tratado hoje, é a mesma forma como o negro, pobre, de periferia é tratado diariamente nas Delegacias ou Tribunais por todo o país, sem direito de defesa, no caso de Lula, apenas há a impressão do direito de defesa, porém, ao se ignorar as provas apresentadas pela mesma, é o mesmo que o direito de defesa inexistir, isso é elementar.

Uma sociedade afundada na lama da violência diária e nos discursos fáceis para problemas de difícil solução, interessada apenas no que acredita como Justiça, a punição violenta das forças policiais, até mesmo negando os Direitos Humanos e reproduzindo discursos enganadores acerca dos mesmos. É a cultura da violência (cultura, o conjunto de idéias e costumes de um povo; violência, tudo o que ultrapassa os limites do próximo, seja a agressão física, verbal ou mesmo através de atitudes costumeiras de - quase - todas as pessoas vivendo em um grupo).

E finalmente, uma constatação incômoda... Ao se apresentar à Polícia Federal, o ex-Presidente deixou claro que é a única pessoa no país que respeita e confia na lei, mesmo com todas as demonstrações em contrário. Não há motivos para Lula confiar na Justiça, que poderíamos mudar a grafia para "JustiSSa" (entendedores entenderão).

Finalizando, estamos confiando na decisão de um Juiz que se coloca diante de toda a sociedade com poder ilimitado, onde julga de acordo com sua própria regra moral, não com a Constituição vigente e chegamos a frase-síntese dos nossos dias: "Todo poder emana de Moro e em seu nome será exercido".

Tempos de trevas.