sábado, 14 de abril de 2018

O LEVANTE DE MAIO

30 de Abril

Mesmo com a promessa real de violência explícita em meio a um sonho de paz, milhões de bravos brasileiros se preparavam para o fazer o inimaginável; seus corações plenos em esperança, os inspiravam a resistir ao medo de entregarem-se à luta por Democracia no seio da nova Ditadura brasileira, uma ditadura dissimulada, sem canhões e com ares de legalidade baseadas em mentiras e violências descaradamente explícitas. Todos sabiam que poderiam ser atacados, agredidos, presos e mesmo mortos por conta de uma idéia de Liberdade, mas acreditavam - confiantes - que era o motivo mais do que justo para se engajarem em nome do país, de seus filhos e filhas, de seus entes queridos e de todo o povo brasileiro; mesmo que seus corações enfrentassem fuzis e metralhadoras, mesmo que bombas de efeito moral voassem ameaçadoras e tudo o que tivessem à disposição fossem pedaços de paus, pedras e a vontade mais ferrenha... Todos estavam mais do que decididos. Olhos brilhavam faiscantes e a adrenalina se apresentava como ácido sendo bombeado descontroladamente... Lá fora, solitária lua cheia testemunhava e abençoava aquela inexorável caravana da liberdade.

Já raiava a odiada segunda-feira em Curitiba quando os primeiros ônibus chegaram, eram 38... No Jardim Botânico, gotas de orvalho refletiam o fraco sol matinal num prisma encantadoramente hipnótico, enquanto carros e motos avançavam frenéticos pelas ruas ao redor, naquela manhã preguiçosa; as janelas escuras e fechadas dos ônibus despertavam a atenção, instigando a curiosidade, favorecendo o galope selvagem da imaginação sadia.

Pelas ruas, transeuntes bem-vestidos e apressados, observavam intrigados aquele desfile enquanto se dirigiam ao trabalho. Numa banca de esquina, o Jornaleiro parou a contagem do troco, ele e seu cliente acompanharam silentes, num movimento sincronizado de cabeça, os misteriosos ônibus; arqueando a sobrancelha esquerda, percebeu um súbito e inesperado arrepio correr-lhe a espinha como um trem desgovernado. Na esquina oposta, taxistas em um ponto, ainda sonolentos, se perguntavam para descobrir se alguém sabia de algo, um deles aumentou o volume do rádio mal-sintonizado em busca de qualquer notícia. Se ouvia mais o chiado do que a voz do locutor.

Cerca de 40 minutos depois, outra frota cortava lentamente as ruas da capital paranaense, desta vez sêo Argemiro, o jornaleiro, os contou e para seu espanto eram 84. Aqueceu com a boca as mãos magras e brancas, cobertas de pequenas manchas senis, e as enfiou profundamente nos bolsos enquanto caminhava à banca, para esperar o próximo cliente. Contudo, ajeitou sua boina italiana xadrez deu meia-volta para observar os ônibus que já se iam distantes.

Poucos minutos se passaram até que viaturas impecavelmente reluzentes apareceram tentando ganhar a rua já congestionada; apostando no som estridente e insistente das sirenes, lançavam-se ousadas e prepotentes. Em mecânica obediência, os demais motoristas se esforçavam para ceder passagem, alguns quase causando acidentes no atropelo da servilidade.

Mais 29 ônibus chegaram e passaram a circular em direção ao centro da cidade. A essa altura, com o trânsito pesado, ganhar 20 metros já levava mais de 12 minutos. A lentidão esporava e soltava as rédeas da sofreguidão mais verdadeira.

Nos postos de gasolina, no comércio, as pessoas, curiosas, já bebiam da ansiedade em quantidades oceânicas, se perguntando o motivo daquela gigantesca romaria. Alguém disse que deveria se tratar de petistas, afinal, havia um comentário de que as centrais sindicais preparavam um mega-evento para o 1° de Maio naquela cidade.

Quando 219 ônibus entraram na cidade, as ruas e avenidas não comportaram, travando de vez; agentes de trânsito tentavam em vão organizar um inferno metálico de fumaça sufocante e buzinas ensurdecedoras. Em confortáveis e gigantescos carros importados, homens de terno cediam espaço à selvageria e se esmeravam nos intermináveis e insistentes solos de buzinas irritantes. Algumas pessoas desceram dos carros para tentar entender o que acontecia, procurando por sinais de algum acidente. Nada.

De repente, alguns ônibus abriram suas portas e a rua foi sendo tomada por um caudaloso rio vermelho, dezenas de militantes caminhavam entre os carros cantando jingles de campanhas do ex-Presidente Lula e dançavam alegremente pela rua. Motocicletas da Polícia se aproximaram e os Policiais atônitos, sem saber o que fazer, informaram a central. A feliz algazarra que os manifestantes produziam, deixava bastante clara a intenção pacífica daquele ato, o que acalmou os demais motoristas e pedestres. Muitos deles haviam se posicionado - orgulhosos - do lado errado da história desde a Vitória de Dilma Rousseff e, como todos os demais brasileiros, sofriam os tenebrosos efeitos do consórcio de ladrões que usurparam o poder.

Nos pontos de ônibus, as filas eram impossíveis, não havia o menor sinal do transporte público naquela manhã; irritadas com a demora, as pessoas tentavam contatar seus chefes, porém, ao perceberem o enorme número de ônibus circulando em fila pela cidade, a maioria se esqueceu, tanto da demora na chegada dos circulares, quanto de entrar em contato com seus chefes. Internamente, alguns amaldiçoavam seus empregadores por não terem emendado o fim-de-semana com o feriado.

Nas rádios e na tevê, comunicou-se, quase histericamente, de que se tratava de uma greve geral dos motoristas de ônibus, os trabalhadores descobriram então, que todos os motoristas não haviam aparecido para trabalhar e os ônibus ainda estavam nas garagens, porém a informação não passava disso. Com a notícia, alguns trabalhadores decidiram caminhar para o trabalho, outros retornaram às suas casas e alguns poucos estenderam longos minutos para decidir qual seria o próximo passo.

Já eram 8 horas da manhã quando mais de 200 ônibus entraram na cidade, os quais não foram muito longe com o trânsito totalmente paralisado. Os apoiadores do ex-Presidente Lula saíram em caminhada, se juntado a muitos outros que tiveram a mesma idéia, ao mesmo tempo. As multidões vermelhas avançavam como ondas de alegria e esperança. Todos, literalmente todos, vestiam camisetas de um vermelho profundo com a inscrição: "EU SOU LULA". Munidos de bandeiras e boa conversa, convocavam amigavelmente os trabalhadores curitibanos que encontravam pelas ruas a se juntarem a eles. E muitas vezes a abordagem amigável os conquistava e arrebatava, e, rapidamente, se uniam aos grupos e passavam a caminhar entre os carros. Já não havia o menor espaço nas calçadas. E, aos poucos, aquela imensa massa rubra ia dobrando de tamanho a cada quarteirão enquanto se dirigiam ao bairro Santa Cândida, onde fica o prédio da Superintendência da Polícia Federal. Onde estava Lula...

Cerca de 3 mil Integrantes do MST, com bandeiras, facões e foices, caminhavam cantando alegremente, brincavam com as pessoas pelas quais passavam, de forma agradavelmente simples. Homens, mulheres e até mesmo crianças se lançavam entre os automóveis entre canções e brados de "Lula Livre".  Infelizmente, toda aquela alegria deu lugar à mais sincera e compreensível indignação quando três rapazes aparentando 25-26 anos, começaram a fazer chacota e a chamá-los de "vagabundos. Um deles, bastante alto, rosáceo e de músculos quimicamente inchados, vestindo uma regata mais justa que Cristo, porém com a inconfundível carranca do Bolsonaro estampada, aproximou-se e passou a gritar com os Sem Terra, como se o seu tamanho intimidador fosse intimidar alguém entre pessoas endurecidas pela lida de sol a sol. O grandalhão não teve a oportunidade de proferir mais do que 3 palavras de baixíssimo calão, antes que uma pedra de proporções intimidatórias lhe acertasse a boca em cheio. Tonto pela pancada, ajoelhou-se na calçada e passou a cuspir sangue e dentes, desatando a chorar como uma criança em seguida. Seus dois amigos, assustados, começaram a andar vagarosamente para trás, não sem gritar ofensas ordinárias na direção dos Sem Terra... Seus passos ganhavam velocidade enquanto a multidão caminhava em sua direção, logo começaram a correr desabaladamente. Que se registre: ninguém viu de onde a pedra foi arremessada, mas já rondava a certeza de que mesmo não vindo da direção dos Sem Terra, a narrativa midiática seria nesse sentido, como sempre, chamadas repetitivas com "os baderneiros do MST...", novamente dariam a tônica manipulativa a qual já estamos acostumados.

Enquanto isso, nos quartéis, Homens da Polícia - em alucinado frenesi - corriam para todos os lados, ordens eram gritadas nos rádios estridentes e incompreensíveis aos civis. Todos deveriam sair e compor um perímetro de segurança a 1 km do prédio da Superintendência da Polícia Federal... As viaturas lançaram-se à rua e em desabalada carreira, lançavam-se a cumprir suas ordens, eram 8, entre elas, um micro-ônibus com a Tropa de Choque.

Três viaturas foram despachadas ao Bacacheri para garantir a segurança do Juiz Sergio Moro. Os Policiais o encontraram fazendo sua caminhada matinal no Clube Duque de Caxias, entre acenos e felicitações puxa-saquísticas, com direito a 'selfies', abraços apertados e indiscretos tapinhas nas costas. Abordado com reverências afobadas pelos Policiais, Moro, dispensou proteção e voltou à sua caminhada e às adulações de acéfalos bufões, totalmente alheio ao que o destino lhe reservava naquelas derradeiras horas.

Nas estradas, as Polícias Rodoviárias, Estadual e Federal, atuavam em conjunto para frear o inacreditável fluxo de ônibus originários de todas as partes do Brasil. Até então, o trânsito não estava totalmente paralisado, os automóveis moviam-se a inacreditáveis dez quilômetros horários, por 10 metros a cada oito minutos. A franca impaciência testava os limites da civilidade dos motoristas que tentavam se informar sobre possíveis acidentes.

Com as estradas praticamente paralisadas, aquele povo sem medo botava o pé no asfalto e seguia à cidade numa inexorável romaria vermelha. Não levou muito tempo até que moradores do Tatuquara se juntassem àquela intrépida marcha, carregados de esperança, sentindo-se abraçados por brasileiros e brasileiras que os respeitavam e acolhiam. O grande número de simpatizantes do ex-Presidente prejudicava ainda mais o que se entendeu um dia como fluidez do trânsito e não havia nada que se pudesse fazer; foi quando um senhor grisalho, em uma Land Rover verde, resolveu acelerar para espantar a multidão... Com a falta de êxito de sua atitude, somada a indignação imediatista e autoritária da classe média, aquele senhor (mais tarde identificado como Carlo Forrestieri Luz, um bem-sucedido empresário que respondia na Justiça por trabalho escravo em sua confecção de roupas de luxo), decidiu acelerar sobre os manifestantes, atropelando dois antes de ser arrancado de sua fortaleza de aço e "acariciado" pelos manifestantes. Carlo fôra deixado para trás, nu e desmaiado em uma poça de urina. Seu gigante metálico tombado no acostamento ardia em chamas intensas que pareciam se esticar aos céus para tocar o sol.

Quando Tião das Latas chegou em casa, no Bairro do Papelão, trazendo notícias sobre a gigantesca mobilização que vira, atraiu a atenção de vizinhos que lhe faziam as mais variadas perguntas, enquanto ele guardava o carrinho que usava para juntar papelão e latinhas de alumínio (os quais garantiam o sustento de sua numerosa família), seus vizinhos se agitaram e logo a notícia se espalhava pelo bairro. Foi o vizinho de Tião, Roberval, um senhor negro de 60 anos, mas que aparentava pelo menos 90 e que se movimentava sentado em um carrinho de rolimã, quem instigou a participação de todos, ao dizer que os ricos haviam prendido o ex-Presidente Lula porque ele seria Presidente outra vez e que os ricos não gostavam dele por ter ajudado os pobres. Não foi preciso muito convencimento, afinal, sem água encanada, sem luz, numa região mal-cheirosa esquecida pelo poder público, onde a Polícia tem medo de circular, onde crianças descalças encontram como opção de lazer, brincadeiras infantis atoladas na imundície, não é necessário muito para convencer os moradores, os quais se identificam com a história do ex-Presidente e reconhecem as violências da Justiça sem precisar de algum estudo, as conhecem na pele. E num grupo maltrapilho e grande, rumaram para o centro da cidade, havia muitas crianças entre eles.

Àquela altura, Curitiba estava completamente paralisada. O que começou com a chegada dos primeiros ônibus e a greve-surpresa dos motoristas do transporte público, aos poucos se transformava numa greve geral de proporções bíblicas, envolvendo todos os trabalhadores, de todos os setores. Nas indústrias, ninguém se apresentou para o trabalho, revelando que a extensão daquela greve-surpresa continuava uma incógnita; garis largavam suas gastas vassouras e se juntavam aos manifestantes. De repente, todos aqueles invisíveis do dia-a-dia iam se misturando no que já era um mar vermelho, do qual ondas avançavam impiedosas pela cidade.

Helicópteros das Polícias e das emissoras de tevê, ganharam os céus, dentro deles - incrédulos -Jornalistas e Policiais se embasbacavam com o intimidante número de participantes. Do alto, não se enxergava mais o asfalto da rua Professora Sandália Monzon, apelidada pelos manifestantes de "Sandália do Mozão", e região, tudo o que se via era um infindável e desafiador mar de gente.

Luís Inácio da Lula da Silva, o ex-Presidente Lula, lia "A Elite do Atraso - da escravidão à Lava-Jato" do Professor e Pesquisador Jessé Souza, sossegadamente em sua pequena e razoavelmente confortável cama, quando passou a ouvir um zumbido atravessando as paredes. A princípio se tratava de um som contínuo, o qual - antes de se tornar audível - fôra reconhecido por Lula, afinal era o som típico formado por centenas de milhares de vozes e ele tivera bastante contato com aquele som por décadas para não reconhecê-lo de pronto. O ex-Presidente custava a acreditar, porém, irrompeu em lágrimas sinceras de quem se sabe verdadeiramente amado. Após um longo e emocionante suspiro que ninguém ouviu, Lula colocou o livro ao seu lado e permitiu-se um pequeno sorriso enquanto seus olhos fitavam o teto do cárcere.

Um Agente apareceu à porta informando que eles o protegeriam e Lula só pensou que eles é que deveriam era se proteger. Notando o medo nos olhos daquele jovem de face imberbe, que o lembrava o filho de um de seus vizinhos em São Bernardo, Lula tentou acalmá-lo conversando de forma gentil, mansa e bem-humorada. O rapaz até riu, mas seu alívio fôra apenas momentâneo. Despediu-se do ex-Presidente e ganhou o corredor com passos velozes.

No prédio da Superintendência da Polícia Federal o ar estava elétrico, o súbito aumento no número de manifestantes assustou a todos. Como baratas tontas, se equipavam enquanto na cúpula a discussão girava entre tirar o ex-Presidente de lá ou não. As cantorias e gritos de ordem vindos da rua eram ensurdecedores e quase não permitiam que Delegados e Agentes pudessem escutar seus próprios pensamentos. Ordens eram gritadas nos telefones...

Por volta das onze horas, saiu a primeira estimativa de participantes, a mídia falava em cerca de 20 mil manifestantes, mas estava claro que se tratava de - no mínimo - 350 mil pessoas. E pelo menos mais de 500 mil venciam a distância em uma segunda e ameaçadora onda, mas maior número, com toda a certeza, era registrado na terceira e última onda, formada por no mínimo hum milhão do que os historiadores intitulariam de Defensores da Democracia.

Foram necessários menos de 15 minutos a inteligência da Polícia Militar perceber que apenas um bloqueio não resultaria em mínima eficácia., entretanto já era tarde demais... Não demorou muito para que o Policiais se vissem cercados pedindo reforço, assustados e temendo por suas vidas, ainda que as pessoas apresentassem um comportamento extremamente pacífico.

A multidão agora se aglomerava diante do prédio, todas as ruas no entorno estavam tomadas, centenas de rojões pipocavam alucinados no céu curitibano a cada minuto. Não havia uma única nuvem, somente a fumaça azulada dos rojões e, apesar do vento frio que insistia se estender por toda a manhã, porém, o calor que emanava do povo, aquecia corações, almas e até mesmo as ruas.

Agentes, esperando pelo pior, posicionaram-se diante da entrada armados até os dentes; os olhos esbugalhados revelavam a incômoda visita do medo, alguns tremiam. A tensão dos Agentes poderia ser medida nos litros e mais litros de suor que escorriam de suas faces; nas axilas, gigantescas e reveladoras rodelas úmidas se formavam.

Dona Lucinalva aproximou-se e disse a um dos Agentes que eles estavam lá para buscar Lula e que só sairiam com sua libertação; de sorriso franco e fácil, "tia Nalva" - como era carinhosamente chamada pelos alunos da Escola Estadual Ryoiti Yassuda de Pindamonhangaba (SP) - tinha bastante tato com as pessoas; aos 59 anos, era merendeira e querida por todos. Enquanto companheiros pediam silêncio à multidão, junto com Guiomar, uma faxineira de Muribeca (SE) que conhecera durante a viagem, "tia Nalva" conversava com o Agente, admirada com a pouca idade do rapaz e ao olhá-lo nos olhos, percebeu que seus olhos a lembravam de seu falecido marido.

Ninguém sabe ao certo onde a violência começou, mas ninguém jamais esquecerá a proporção que atingiu. Na tevê, o estopim que acreditavam mais provável, se deu quando um homem, aparentando mais de 30 anos começou a atirar nos manifestantes a 3 quadras do prédio onde estava o ex-Presidente. Dois manifestantes tombaram imediatamente sem vida e seu sangue manchava a calçada, desenhando um mapa, o verdadeiro mapa da violência; outros sete foram socorridos e levados nos braços por apoiadores de Lula para serem transportados a algum hospital da região. O homem, mais tarde identificado como Rafael Friendenhieks, foi linchado até a morte... E o caos se instalou. Pressionados pela primeira onda de agitação causada pelos manifestantes que fugiam dos tiros, aqueles que estavam diante do prédio foram empurrados à frente, foi quando Marcel Lobrett, dos olhos que encantaram "tia Nalva", se assustou e disparou sua arma, causando um movimento contrário ao produzido com anteriormente. Se Marcel, tivesse sobrevivido a fúria da turba, jamais conseguiria dormir em paz novamente, pois o rosto da tia Nalva, com uma expressão de tristeza e decepção, marcou fundo na alma daquele jovem e recém-empossado Agente. Ele olhou fundo nos olhos daquela senhorinha tão simpática e quase enlouqueceu ao ver o sangue molhando lentamente sua camiseta, bem no centro do peito.Tia Nalva, que fôra até Curitiba sonhando com um Brasil melhor, com escolas de qualidade e desejosa de um futuro melhor para todas as crianças, olhou para baixo viu seu sangue escorrendo e caiu pesadamente. E morreu ali, diante do prédio da Superintendência sem ver a triunfal saída de Lula que tanto desejava, pois para ela, nele residia a idéia de um futuro melhor para todos. Trêmulo, o Agente cambaleou para trás deixando a arma ir ao chão e a última imagem que viu antes de ser massacrado pelo povo em revolta, foi o rosto da "tia Nalva".

Alheio a toda aquela confusão, Beto "Bração", apelido que ganhou ao capotar seu primeiro carro ao dar um "cavalo-de-pau" para impressionar algumas garotas, olhou para o céu tentando ignorar aquele empurra-empurra frenético; foi quando notou vários helicópteros surgindo do Leste. Eram seis. Manteve o olhar fixo e pouco depois gritou avisando que o Exército se aproximava. Várias pessoas apontavam para o céu na direção dos helicópteros que rasgavam o céu rapidamente; a tensão aumentava a níveis alarmantes. De repente, os helicópteros se separaram e, enquanto três deles passavam devagar sobre os manifestantes, os outros três deles deixavam soldados, através de cordas, sobre três prédios. Eram grupos de cinco em cada um e tão logo se livravam das cordas, posicionaram-se com rifles no parapeito. Eles quase não respiravam. Em silêncio aguardavam ordem para atirar e todos rezavam para que isso não fosse necessário. O som dos motores e o vento produzido pelas pás, arrefeceram um pouco os ânimos, porém, não eram poucos aqueles que estendiam o dedo médio para os soldados e faziam movimentos com os braços chamando-os à luta.

Com a presença dos atiradores de elite, lideranças populares, estabelecidas ou recém-despertas passaram a procurar acalmar os ânimos ainda um tanto acirrados, alguém puxou gritos de "sem violência" e todos passaram a repetir, ecoando por todo o bairro, desestimulando aqueles que já se preparavam para invadir o prédio da Superintendência e os Agentes puderam respirar aliviados.

Enquanto isso, na capital fluminense, empolgados e eufóricos com as notícias e imagens que chegava de Curitiba, os moradores dos morros decidiram - quase ao mesmo tempo - descer ao asfalto. E eles eram milhares. Quando a multidão se reuniu, parou o trânsito e sêo Elisberto, um senhor bonachão e super bem-humorado, que parecia estranhamente sério naquele fim de manhã, teve a idéia de irem até a Rede Globo, também conhecida - hoje - como Rede Gloebbels, de tanto repetir mentiras para se tornarem verdade. A massa dos desfavorecidos ganhava as ruas e sentia-se o cheiro da revolta popular se espalhando densa pelo ar. Quando a Polícia se deu conta da intenção daquelas pessoas, mobilizou-se para proteger a emissora, onde o clima de medo se estabelecia e a certeza de que estavam em perigo crescia a cada segundo. Todo e qualquer funcionário da emissora sempre soube do mau-caratismo da empresa e suas manipulações dissimuladas, porém a garantia de salário ao fim do mês, era atraente e os ajudava a aplacar as crises de consciência, mas claro, havia aqueles que entraram no jogo da emissora e não se importavam com o trabalho sujo.

E aquele era um povo sem medo, um povo acostumado à brutalidade policial, que não se assustava com a a repressão pirotécnica do braço forte do Estado, portanto, gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e balas de borracha tiveram o efeito desejado. De repente, centenas de jovens adeptos das táticas Black Bloc, surgiam do nada, gritando como gladiadores entrando no Coliseu; eles vinham de todos os lados e rapidamente tomaram a frente no confronto com seu números intimidadores; aliados a uma vontade férrea, aqueles jovens conquistaram recuos importantes da Polícia Militar, comemorados com a ferve imbatível da juventude. De longe podia-se perceber que no olhar daquele povo residia a disposição genuína que os guiariam até, finalmente, invadirem a emissora, apoiadora e fomentadora de golpes em nosso país. Nada nem ninguém os impediria, tal a força da determinação.

Não demorou muito para que conseguissem rechaçar bravamente a Polícia e invadir o prédio; o povo cantava uma verdade dura sobre a emissora ter apoiado a ditadura e a força de seu canto fez muito homem tropeçar na macheza e rolar pelos corredores. Os funcionários estavam em pânico sincero, sentindo-se acuados vários se ajoelharam com as mãos à cabeça. Alguns, como o Jornalista Willian Bonner, se escondiam verdadeiramente apavorados. E era atrás dele que um grupo de pessoas com sangue nos olhos realmente estava.

O cheiro de fezes humanas era forte naquele minúsculo depósito, um mau-odor podre misturado com urina, revelavam o descontrole do Jornalista sobre seu próprio corpo; amedrontado, Bonner agachara-se em posição fetal e começara a chorar copiosamente tão logo fôra descoberto; arrastado pra fora, auto-desprovido de sua dignidade, o Jornalista berrava como uma criança até ter o choro contido pela falta de ar ao ser golpeado violentamente com um soco na boca do estômago. Despido pelo grupo, tentou limpar-se com as próprias roupas, o que chamou a atenção daquele que lhe parecia o líder do bando, que ao perceber que aquele cheiro podre vinha de Bonner, Odivan Barbosa Júnior esfregou-as no rosto do Jornalista que começou a sentir vontade de vomitar. Amarraram-lhe o pescoço com uma gravata vinho e o obrigaram a engatinhar pelo prédio. A única coisa que lhe vinha à mente era a imagem de Fátima Bernardes, foi quando sentiu-se atingido pela dor da separação pela primeira vez. Lembrou-se dos filhos e começou a chorar novamente.

Se o grupo demorasse mais um segundo, os demais manifestantes teriam destruído o salão de onde era exibido o Jornal Nacional; alguns funcionários presentes rapidamente se voluntariaram quando perguntados se sabiam fazer uma transmissão e Bonner, após duas bofetadas, foi obrigado a entrar ao vivo. Antônio Oliveira das Cruzes, o "Toninho Mola" como era conhecido em sua comunidade, entregou um texto para o Apresentador, que a essa altura tremia freneticamente, empurrando-o pra frente das câmeras; o Jornalista mal sentou-se à bancada, quando ouviu um grito alto e forte ecoar ordenando-lhe que ficasse em pé. Com os olhos assustadoramente arregalados, levantou-se numa velocidade de atleta de 20 anos.

Quando a imagem de um fragilizado Bonner, nu, de cabelos despenteado surgiu na tela com o rosto sujo de fezes, dona Filó, começou a gritar chamando as filhas e as empregadas, todos se sentaram na espaçosa sala-de-estar de decoração colonial e grudaram, incrédulos, os olhos na tela de 62 polegadas. Bonner, com a voz embargada, lia o texto com alguma dificuldade: "Brasileiros e brasileiras, bom dia. Nesta tarde do dia 30 de Abril de 2018, nós, funcionários da Rede Globo de televisão viemos à público nos desculpar por 53 anos de golpes contra a Democracia e contra o povo brasileiro. É chegado o momento do acerto de contas entre a emissora e os milhões de brasileiros e brasileiras que manipulamos deliberadamente, o que somos os melhores em todo o território nacional. A Rede Globo de televisão foi um presente dos militares que usurparam o poder em 64 e nosso papel foi o de legitimar o governo da brutalidade que institucionalizou a tortura no país. A Rede Globo sempre teve acesso aos melhores profissionais brasileiros e do exterior, os quais dedicaram suas vidas a nos alçar ao posto de melhor emissora do país. Nossos profissionais, qualificadíssimos, aprimoraram a arte da manipulação de massas e ajudaram a moldar o pensamento do povo povo brasileiro de acordo com o que nós desejávamos que pensassem durante todos esses anos. Entorpecemos cada um de vocês com frivolidades insossas e mentiras caprichosas. Vocês não tinham chance. A qualidade das nossas imagens, o profissionalismo dos nossos empregados retiraram o melhor de vocês, transformando-os em seres cada vez mais submissos à nossa narrativa da realidade. Imperceptivelmente, os curvamos perante a nossa vontade. Reiteramos aqui, a verdade sobre nossos ataques ao Partido dos Trabalhadores e, em especial, contra o ex-Presidente Lula, obedecendo ordens expressas do Departamento de Estado norte-americano. Nosso compromisso com Washington, hoje, é o de desestabilizar o país ainda mais, para que roubem o pré-sal, nos transformando novamente em uma colônia, perdendo nossa relevância no cenário mundial. Venho também afirmar que neste momento, manifestantes estão se preparando para incendiar os estúdios da Rede Globo Rio e pedem para que a população faça o mesmo por todo o país. Desculpe-nos povo brasileiro, sem dúvida somos traidores da Pátria e estamos colhendo o que plantamos durante todos estes anos, boa tarde". As imagens percorreram o país e rapidamente, milhares de indignados com a emissora dos golpes começaram a se colocar a caminho das filiais em suas cidades, muitos carregavam galões ou mesmo garrafas pet cheias de combustível. O povo estava cansado das manipulações da emissora, mas ninguém jamais imaginara a quantidade de gente indignada, muito menos as dimensões dessa indignação, principalmente por conta dos ataques a outras emissoras. O entendimento do povo havia sido claramente subjugado.

Por todo o país, os trabalhadores se reuniam em grupos, como se estivessem em contato com outras cidades devido a coincidência de tomada de ação, e passavam a deliberar sobre o que fazer... Em muitas fábricas, alguns trabalhadores tentaram uma saída pacífica, falando com seus superiores, exigindo que fechassem as portas. Acuados, muitos concordaram e dispensaram os trabalhadores, em outros casos, a violência deu o tom. Pequenos grupos de trabalhadores contaminados pela violência diária de Datenas e assemelhados, tentaram impedir o fechamento de seus locais de trabalho aos gritos de "bolsomito", ocasionando brigas pesadas que invariavelmente acabavam na correria que lhes era imposta. Tais trabalhadores nunca tiveram consciência de classe e eram sempre os primeiros a boicotar greves e criticar sindicatos, ainda que adorassem colher os benefícios das lutas dos outros. Em pouquíssimo tempo, mais de 70% da produção nacional estava paralisada e percebia-se nos rostos dos trabalhadores, a inflexível disposição a não voltar aos seus postos, mesmo após o 1° de Maio que se aproximava com a promessa inclemente da maior mobilização da história do país.

Por toda Curitiba, diferentemente do que vinha acontecendo nas proximidades da superintendência da Polícia Federal, os ânimos se exaltavam, porém, sem a mesma severidade implacável que atiça a violência; da periferia, multidões se aglomeravam, lentamente caminhavam dispostos a se juntar ao mar vermelho que já ameaçava transbordar os limites da cidade. Mas o mais emocionante foi a participação dos trabalhadores; diaristas abandonavam a lida, os frentistas saíam de seus empregos sem pensar duas vezes, balconistas como Júlia Marques da Silva, que enfrentava três ônibus lotados para ir e voltar do serviço, onde - mal-remunerada - vendia roupas caríssimas que jamais teria condições de comprar, não com a economia em frangalhos e os desmontes dos programas sociais promovidos pelo Excelentíssimo Senhor Usurpador da República, como ela o chamava, Michel Temer. Todos que viram suas vidas melhorarem durante o governo do ex-Presidente, de repente, sentiam-se tomados por um sentimento de legítimo de gratidão que rapidamente se transformava em indignação por aquele aprisionamento injusto. Todos lembravam de seus patrões e patroas se rindo e festejando, lembraram do silêncio a que se obrigavam para manterem-se empregados; todos sabiam que o mínimo de melhora em seu padrão de vida, era visto com um ódio mal-escondido e bastante revelador por aqueles que tiveram todas as boas oportunidades na vida. Pensavam nas mentiras maldosas que ouviam enquanto trabalhavam duro e sentiam o coração aquecer.

Com os ânimos contidos, o povo sem medo nas imediações da Superintendência da Polícia Federal, acomodava-se no chão, uns cantavam animadamente, outros conversavam sobre a resistência, muitos contavam de suas histórias, do quanto os governos do ex-Presidente os favoreceram e os mais velhos recordavam dos tempos difíceis do Presidente anterior, um servo da elite, diziam alguns, um entreguista vira-latas diziam outros. E a noite com seus exércitos púrpura caía sobre a cidade lentamente. Quando surgiu a primeira estrela na imensidão do céu, alguém começou a cantar "Lula-lá, brilha uma estrela" e foi seguido pelas pessoas ao redor, rapidamente o canto se espalhou e repetiu-se por mais de uma hora e meia. Toda a cidade cantando a mesma música em uníssono, todos os corações batiam transbordando em valiosa esperança. Para muitos, o ex-Presidente Lula fôra, de sinônimo de Luta e Democracia, para sinal claro e indubitável da mais reluzente esperança. As vozes ecoavam aos céus, afrontando a classe média que se sentia ilhada e bebia a doses generosas, taças do melhor cristal, até a borda, de cólera angustiada.

A medida que a noite caía, os diálogos perdiam a intensidade, porém a grande maioria se recusava a dormir, temendo alguma atitude do governo para interferir na situação; rumores que dos quartéis da cidade, soldados disfarçados haviam se infiltrado entre a população surgiam a cada instante, cheios de detalhes de operações e intenções. Seria uma longa vigília...

Por volta das três e meia da madrugada, grupos de sindicalistas atravessavam com dificuldade aquele mar de gente, tomando todo o cuidado para não machucar ninguém, pois traziam consigo, inúmeras caixas de som e a estrutura para um pequeno palco. Começaram a montar tudo ao lado de um potente gerador que havia sido colocado durante a manhã de segunda, já na primeira leva de manifestantes. A montagem terminou com o amanhecer frio, exaustos, os homens e mulheres incumbidos da árdua tarefa sentaram-se enquanto esperavam pelo café-da-manhã prometido. Apesar do cansaço, o prazer de ver o trabalho concluído emprestava uma sabor especial ao café recém-passado cujo cheirinho despertava memórias de tempos melhores.

Na manhã de 1° de Maio, todas as emissoras amanheceram fora do ar, um efeito que seria compreendido futuramente nas análises e pesquisas históricas que identificariam a Rede Globo como a emissora onde as demais orbitavam, reforçando ainda mais a manipulação da Vênus Platinada sobre todo um povo, o que - pela lógica - recaía sobre elas a culpa da derrocada da Legalidade no  país, que também precisavam pagar a conta. A classe média atormentada pela falta de informação recorria às rádios e ninguém se aventurava a pôr os pés para fora de casa, uma vez que todas as ruas estavam tomadas por aqueles que sempre foram vistos e tratados com desdém, no máximo como um incômodo social.

Diante do prédio da superintendência, os manifestantes começaram a gritar "bom dia, Presidente Lula" e logo, aquele som ensurdecedor passou a estremecer as paredes do prédio. Lá dentro, o ex-Presidente ajoelhara-se diante da cama e com um terço na mão, passava a rezar à Nossa Senhora de Aparecida para guardar e proteger aquele povo. No futuro, Lula em entrevista, diria que naquele sentiu a presença da Padroeira do Brasil e de sua falecida esposa, dona Marisa, dando-lhe forças e renovando a esperança. Lula chorava copiosamente, não de tristeza por sua condição de preso político, fato já considerado por todos os grandes líderes mundiais - menos do Presidente norte-americano...

Por volta das dez da manhã, políticos petistas ou não, surgiam abrindo espaço entre a multidão em direção ao palco montado durante a madrugada. O palco tinha apenas um metro e oitenta de altura e poderia ser ocupado por apenas cinco pessoas de uma vez, porém, cada um que subiu ali, o fez sozinho. Gleisi Hoffmann, Humberto Costa, Jandira Feghalli, Manuela D'Ávila, Guilherme Boulos, Celso Amorim, Dilma Rousseff, entre tantos outros, discursaram com uma intensidade nunca vista e aplausos e gritos e furor se registravam. Artistas subiram ao palco também, alguns discursando, outros cantando acapella sucessos de um triste passado de opressão, sucessos estes que ganhavam o coro popular e encantavam os correspondentes internacionais presentes. Palavras como "Amor", "Devoção" e "Clamor Popular" se multiplicavam pela mídia mundial. No Twitter a "hashtag Lula Livre" explodia por todo o planeta. Da ONU, chegavam informes que indicavam a extrema preocupação da organização a respeito da segurança dos manifestantes e um grupo dos Direitos Humanos fôra enviado especialmente para acompanhar aquele evento histórico.

Discursos e apresentações culturais se revezavam ao longo do dia, as falas arrebatadoras de Boulos e Manuela encantavam a população, que fazia repetia suas palavras para que a mensagem chegasse a todos por toda a cidade. Era um espetáculo inacreditável.

Às quinze para às seis, após muita fala e muita performance artística, um homem desconhecido subiu ao palco, era moreno, alto, tinha uma voz grave, profunda e falava pausadamente. Seu discurso, o qual registro abaixo, levantou o povo que, sem sinal de medo, invadiu as dependências da superintendência e resgatou o ex-Presidente.

"Companheiras... Companheiros... Boa tarde. Em primeiro lugar preciso registrar o meu orgulho neste momento histórico, o meu orgulho de estar aqui diante de centenas de milhares de brasileiras e brasileiros, que são os verdadeiros Defensores da Democracia em nosso país. Sim, cada um de vocês é uma força do Bem, é uma força que vai inspirar todas as gerações a partir de hoje, este dia é o nosso marco zero, é o dia em que o povo brasileiro ressurge e se levanta, é o dia em que você dão exemplo e se tornam o orgulho de todo um país. Aqui estão as pessoas que enxergam além da casca, aqui estão as pessoas que sabem que o conteúdo é o que importa, e por isso vocês não aceitaram a condenação do Presidente Lula, pois sabem que se trata de um processo fraudulento, julgado em um Tribunal de Exceção por um lacaio dos Estados Unidos da América, um lacaio que corrompeu a nossa Constituição Federal! Eles queriam o nosso petróleo, eles queriam nossa água, eles queriam nossa energia e nos queriam como mão-de-obra barata e foi nesse sentido que esse vira-latas tiranete atuou! E estavam perto de atingir seus objetivos e hoje, aqui, estamos dando um recado para os Estados Unidos e para todos os povos: o Brasil é do povo brasileiro! Suas riquezas são do povo brasileiro! Chega! Acabou o tempo do colonialismo! Com Lula somos um povo unido, um povo que quer o melhor para todos, um povo que quer um Brasil por todos e para todos, um Brasil forte e soberano, capaz de decidir seus caminhos, capaz de escolher o que quer para o seu futuro. Hoje, canalizamos nossa força, nos mobilizamos em todos os Estados e viemos pra cá, para mostrar ao Brasil e ao mundo que Lula vale a luta, que é Lula que queremos para levar o nosso país de volta ao rumo do crescimento. Lula acreditou em nós, Lula lutou por nós e agora cheios de gratidão, estamos aqui por ele e é por isso que ele não ficará mais uma hora nessa prisão inconstitucional e por isso injusta" Porque nesta noite, as fogueiras revolucionárias queimarão os traidores do Brasil, esta noite as chamas revolucionárias atingirão as estrelas que nos abençoam. Que a lua seja a testemunha da nossa força, da nossa força como povo! Companheiras... Companheiros, esta é a noite do tudo ou nada, esta noite nos levantamos contra a opressão, contra os corruptores da nossa Constituição... Sim, nos levantamos contra os verdadeiros corruptos, aqueles que estão vendendo nosso país e suas riquezas a preço de banana, esta noite, companheiras e companheiros, eles se envergonharão e terão que fugir do país para não perderem suas vidas. Esta noite nós nos tornamos um com o nosso Líder e vamos levar o Brasil para longe das trevas da ignorância, pois aqui não estão os manifestoches da Globo, não estão os patos da FIESP, não está a classe média reacionária, violenta, desigual, intolerante, oligárquica, vertical. Agora é a hora do povo brasileiro, do braço forte que move nossa economia, que produz nossas riquezas e que encanta o mundo com sua hospitalidade e alegria. Aqui não há espaço para fascistas, aqui não há espaço para os playboys do MBL, nem para os oportunistas do Vem pra Rua, aqui essa playboyzada não se cria, não no meio desse povo marcado, de mãos calejadas, que são tratados com desdém por gente que vive no ar-condicionado, tomando toddynho na casa da vovó. Não, aqui estão brasileiras e brasileiros, mulheres e homens de fibra, de coragem, de valor, gente que não vive de aparências, mas que vive honradamente da luta de todos os dias, gente que trabalha de sol a sol para que nosso país seja respeitado lá fora com o peso da nossa economia. Aqui, está o povo que não precisa se vestir com as cores de nossa bandeira para se sentirem brasileiros, aqui nós nos mostramos brasileiros com a nossa pele e até com nosso sangue. E como povo brasileiro, não queremos privilégios, não queremos favores, queremos apenas o que é nosso por direito, nós queremos o nosso Brasil de volta! Nós queremos Lula de volta! E é por isso que agora eu dou uma chance aos Policiais Federais para que nos apresentem Lula, para que o tragam para perto de seu povo. Todos compreendemos que os Policiais recebem ordens, por isso, a ordem hoje, é de quem paga seus salários, é do povo brasileiro e a ordem é LIBERTEM LULA! Policiais, sei que nos ouvem e nos ouvem com atenção, agora é a hora de evitar uma tragédia, nos tragam o Presidente Lula até aqui, agora ou invadiremos e mesmo que nos custe a vida, eventualmente resgataremos o Presidente! Vocês sabem que estamos falando sério, vocês sabem que estamos dispostos a entregar nossas vidas para resgatar o maior Presidente de nossa História..."

Durante todo o discurso, um sentimento quase palpável de determinação agigantava-se, as palavras do desconhecido ecoavam nos corações e mentes de todos, por toda Curitiba o povo urrava e vibrava ensandecido. As tropas do Exército e Polícias nada podiam fazer, no topo do prédio onde o ex-Presidente era mantido injusta e ilegalmente preso, os rifles miravam naquele homem que energicamente falava às multidões, foi quando o comandante da operação ordenou um de seus soldados a abatê-lo, mas o jovem começara a tremer e, de repente, virou sua arma contra seu superior que sentiu um calafrio abalar suas pernas; os demais soldados colocaram suas armas no chão tão logo o Comandante lhes ordenara para matar o soldado rebelde. Ao se ver desobedecido, vociferou contra todos e lhes disse que seriam todos executados quando voltassem ao quartel, começou a xingar violentamente a todos, mas foi interrompido por um tiro entre seus olhos. Observando o corpo estirado e sem vida do Comandante, o jovem soldado transtornado, irrompendo em lágrimas, o mandou calar-se, dizendo que concordava com o desconhecido, que ele sabia muito bem o quanto sua família melhorou de vida durante os governos do petista e que lá embaixo estava um povo que ele jurou defender.

Quase imediatamente após a calorosa fala do orador desconhecido, enquanto o mesmo era abraçado por todos, os Agentes traziam o ex-Presidente Lula para fora do prédio... A multidão, ao vê-lo, correu para abraçar-lhe e rapidamente o elevaram e levaram até o palanque, onde discursou por mais de uma hora aos presentes. Seus olhos eram como duas cachoeiras, suas lágrimas eram puras, sinceras, verdadeiras e seu discurso ganharia as páginas da História Mundial.

Dias depois, os corpos do Juiz Sergio Moro e sua esposa, de Temer, Aécio, Eduardo Cunha, Jucá e Alckmin foram encontrados carbonizados nas respectivas cidades onde residiam, mais de 50 golpistas deixaram o Brasil na calada da noite, outros tantos foram obrigados a deixar o país, despidos de suas posses e bens mais valiosos.

No dia seguinte, o STF reconduziu a Presidenta Dilma Rousseff de volta ao cargo com a missão de organizar eleições democráticas em nosso país, e não houve dúvidas a respeito da legitimidade da vitória de Lula, afinal, se tratavam de pouco mais que 100 milhões de votos, a maior e mais arrebatadora vitória de um candidato em toda a História do mundo. E com Lula à frente de toda uma nação disposta a recuperar o tempo perdido, e as riquezas doadas pelos golpistas do Consórcio de Ladrões, as quais nos envergonharam diante de todas as nações do planeta, o Brasil se viu novamente no rumo do crescimento e do respeito mundial. Nesse meio tempo, os demais golpistas, incluindo vários Ministros do Supremo Tribunal Federal foram presos e julgados por um Tribunal Militar e mesmo com todas as garantias constitucionais lhes sendo ofertadas, a natureza de sua traição à pátria, acarretou o fuzilamento de todos. Serviram de exemplo e marcaram com seu sangue, uma nova era de combate à corrupção.

E o Brasil, graças a seu povo combativo e honrado, finalmente voltou a prosperar...





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