quinta-feira, 12 de abril de 2018

A Tempestade

Pouco antes do raiar do dia, viaturas da Polícia Federal e dos Alckmistas ganham velozmente as ruas de São Bernardo do Campo, dispostos a cumprir a ordem de prisão contra o ex-Presidente Lula.

Não há sirenes, não há giroflex, apenas o cantar dos pneus ecoando pelas ruas ainda vazias. Alguns Policiais estão preocupados e já transpiram.Tensão.

Em frente ao edifício, militantes em vigília revezam o descanso, uns conversam animadamente, outros cochilam em sacos de dormir e dois ou três registram o momento. Apesar das falas sobre como agiriam se tentassem prender Lula, das pedras e coquetéis Molotov, ninguém jamais poderia imaginar os eventos que estavam por vir, muito menos os reflexos no país e no mundo.

As viaturas chegam e se posicionam do outro lado da rua e, de imediato, a tensão que acompanhava os Policiais se dissemina envolvendo os militantes... O ar fica pesado. Um helicóptero solitário surge, é da Globo, avisada de antemão, para garantir sua exclusividade, escorada em sua criminosa cumplicidade com o Tribunal de Exceção da 13ª Vara de Curiba.

O Comandante da Operação, um Coronel da Polícia Militar, munido de estridente megafone ordena os militantes a deixarem o local, dizendo que tem ordens e as fará cumprir... Repete a fala por três vezes, mas ninguém se move, ninguém diz nada; até que uma voz solitária rompe o silêncio, retumbante como um trovão: "Lula Guerreiro do Povo Brasileiro!" A voz é grave, profunda e instigante.

Em uníssono, os 300 militantes, que protegem seu bravo Leônidas, passam a repetir o brado e o Comandante não consegue nem ouvir seus próprios pensamentos. Visivelmente incomodado por não ser atendido imediatamente, bate o calcanhar direito no solo com um enrijecimento corporal afetado... Se permite uma careta involuntária e se volta aos seus comandados.

Menos de cinco minutos depois, surge a Tropa de Choque, que se posiciona entre as Polícias e os militantes. O ar fica elétrico enquanto os comandados preparam sua falange de robocops servis e sanguinários (SS). E os militantes começam a se municiar.

O som ritmado e ameaçador dos golpes de cassetete nos escudos, dos coturnos impecavelmente reluzentes da servidão contra o asfalto, traz promessas de dor e ranger de dentes.

De repente, três bombas de gás lacrimogêneo são arremessadas contra os heróicos militantes, porém são chutadas de volta tão rápido quanto atingiram o chão. O Choque avança lenta e ameaçadoramente... E os militantes batem no peito e chamam para a briga. "Tira esse uniforme e vem na mão que nem Homem!" grita desafiador um rapaz negro, de cerca de 1,90, ao seu lado, uma jovem Feminista mostra o dedo do meio da mão esquerda aos Policiais antes de vestir um soco inglês.

Subitamente, uma inesperada chuva de pedras escurece o céu - grandes o suficiente para causar danos consideráveis - se precipita sobre capacetes e explodem nos escudos, detendo a falange obediente. Há um segundo de silêncio e mais bombas ganham o céu matinal, emudecendo e espantando os pássaros.
Balas-de-borracha cortam o ar e atingem alguns, mas o efeito não é o esperado e rapidamente dois coquetéis Molotov começam a voar. Uma das garrafas atinge um Policial em cheio, imediatamente, ele se vê envolto pelo fogo e alguns soldados - desesperados - vão ao seu socorro. Ele grita alucinadamente com a carne sendo consumida, alguém grita: "hoje tem churrasco de porco! Risadas despontam... Os sons do povo congelam o sangue dos Policiais por um breve momento.

Ainda assustados com o desespero do infeliz colega de farda, os soldados conseguem apenas arregalar os olhos em pânico ao se depararem com o vôo sincronizado de dezenas de coquetéis molotov em sua direção.

O fogo se espalha, a falange se desmancha e o caos se instala entre os uniformizados, dezenas deles - ardendo em chamas - correm procurando apagar o fogo, deixando pra trás, armas, escudos e cassetetes. A dor e o frenesi mais caótico se instalam.

Atônito e enraivecido, o Comandante saca sua arma e atira contra o maior dos militantes, aquele rapaz de 1,90... E novamente, o resultado não é o esperado. Caído ao chão, resistindo a dor, pede aos companheiros que não cessem enquanto tenta estancar a ferida na barriga, o sangue é escuro, o ferimento, fatal.

Ao primeiro disparo de seu Comandante, os demais Policiais sacam suas armas e começam a gritar ameaças e palavrões... Dois tiros são disparados, um acerta uma garota grávida no ombro, instigando mais ódio entre os militantes, o outro passa a milímetros do rosto de outra garota, raspando-lhe a orelha direita. Jornalistas registram a cena enquanto se escondem atrás das viaturas policiais.

Garotas e garotos adeptos das táticas "Black Bloc" surgem, com todo o fogo da juventude, se posicionam à frente dos Policiais e com seus compensados, se protegem e protegem aos demais, um deles se volta aos militantes e começa a coordenar a todos, outro distribui um líquido para aliviar o ardor dos sprays e bombas de gás-lacrimogênio. Enquanto isso, duas centenas de manifestantes aparecem correndo, gritando alucinadamente e cantando bem alto... A disposição dos presentes se renova. Uma nova chuva de pedras escurece parcialmente o céu.

O ataque dos jovens consegue ser ainda mais contundente e aterrorizador, porém, os Alckmistas abrem fogo. Das 8 pessoas atingidas, duas morrem instantaneamente. Do helicóptero, a repórter global se desespera e seus gritos garantem um aumento inédito nos índices do Ibope.

O sangue tinge a rua e garante um campeão de audiência matinal.

Por todo o país a população acompanha com a respiração suspensa sem acreditar no que vê. Nas padarias, pães queimam nas chapas, atendentes deixam os copos de café transbordarem e clientes nem percebem. Há silêncio, há temor. Alguém diz em voz baixa: "Começou a revolução"...

Nas casas, as pessoas de espírito mais fascistóide, até viram os olhos em deboche e prazer, gritando: "matem esses vagabundos! Larga o aço!" Os mais bestiais gritam: "Ustra vive!" e "Bolsomito!" demonstrando que já perderam há muito a humanidade. Nota-se o sadismo em seus olhos e no cantinho da boca, seus olhos vidrados assustam.

Não leva muito tempo para que a população entre em ebulição e a violência irrompa em ondas por todo o Brasil. A mais sangrenta revolução a tomar conta do país começa a se formar... Não se sabe como começou, talvez um olhar enviesado, um encontrão, um xingamento... A Luta de Classes finalmente tem início como uma grande tempestade de ódio mal-contido e ressentimentos; nas ruas, um homem é arrancado de seu gigantesco carro importado e espancado até quase a morte, antes de desmaiar vê seu automóvel partindo com várias pessoas dentro. O som estrala. Em um posto de gasolina, frentistas agridem e desnudam o proprietário abusivo, descontando os anos de humilhações e ameaças nas carnes tenras de seu corpo rosado.

Por todo o país, em cada cidade, há confrontos de cidadãos e cidadãs com a Polícia, em pelo menos, 20 cidades, surgem relatos de Delegacias em chamas com os servidores queimando lá dentro.
Em São Bernardo do Campo, com a chegada dos blindados israelenses de Alckmin e seus poderosos jatos d'água, os militantes não podem mais contar com seus coquetéis Molotov. Ainda assim, o recuo é ínfimo e somente para pegarem mais paus e pedras.

Integrantes do MST e do MTST surgem e a batalha ganha em intensidade e sangue. Dois Policiais são capturados e suas mortes violentas horrorizam o país. Mais tiros, inúmeros, e uma massa de pessoas vai ao chão, porém, os demais avançam como o nipônico "Vento Divino", os Policiais que recarregavam suas armas se assustam, balas vão ao chão, o suor frio escorre intenso... Barras de ferro explodem cabeças de Policiais, braços e pernas são fraturados, uniformes rasgados. Uma Policial feminina se lança ao chão cobrindo a cabeça...

E começa a maior convulsão social de todos os tempos no Brasil.

Por todo o país explodem batalhas sangrentas. Condomínios de luxo são invadidos por hordas e mais hordas de piratas urbanos. Os saques são impossíveis de serem contidos; bancos são invadidos e os Seguranças não oferecem resistência, os funcionários entregam todo o dinheiro das agências sem pestanejar.

No Rio de Janeiro, mais de mil pessoas invadem a Rede Globo, queimam tudo e arrastam William Bonner nu pelas ruas, até que partes do seu corpo se desfaçam no asfalto. Por final, sua cabeça é hasteada em frente à sede da emissora sob o escárnio dos populares. Aécio Neves é encontrado, porém, preocupado com toda a situação, atormentado pela culpa por conta de seu comportamento de playboy mimado ao enfrentar a derrota na última eleição, seu corpo já estava sem vida por causa de uma overdose cavalar. Ao seu lado na cama, um espelho e meio quilo de cocaína o denunciavam.

Curitiba arde em uma fiesta de sangue e fogo, Sergio Moro e sua esposa são capturados e despidos em praça pública... Uma voz ecoa: "Mussolini tem que morrer como Mussolini" e Moro quase morre engasgado na própria saliva grossa. Sua esposa, tentando inutilmente cobrir sua vergonha com as mãos, chora copiosamente antes mesmo do primeiro tapa.

O fim do casal é escabroso demais para ser registrar aqui. Mas pode-se dizer que há pedaços deles para cada cidade paranaense. Suas mortes foram lentas e o sadismo do povo estava insaciável. Suas carnes foram salgadas para se vingar de um histórico Tiradentes... Alguém disse no meio da multidão: o povo não está se vingando apenas por Lula, mas por Tiradentes também! Foi a dica para que alguém corresse para buscar sal grosso numa vendinha de frente à praça onde foram executados.

Em Brasília, Temer perde de vez o controle de seu já - e há muito - afrouxado esfíncter, emudecido diante da tevê. Atordoado e mal-cheiroso, pois sua fralda não conteve sua coragem, anda de um lado a outro em seu gabinete, pede até a Deus por uma luz. Logo ele. Nos jornais do dia seguinte, o Brasil se assustaria ao tomar conhecimento de que mais de uma centena de parlamentares que votaram pelo impeachment da Presidenta Dilma Rousseff foram assassinados, várias dezenas foram encontrados afogados, boiando no lago sul, alguns desfigurados, entre os corpos, vários foram identificados como de moradores da região.

Nas redes sociais, a guerra ganha proporções mais expressivas a cada segundo. As "hashtags": #BrasilComLula e #AForçaDoPovo só perdem para #FarraDoBoy e #PrayForBrazil.
O mundo observa os acontecimentos no país com lágrimas nos olhos, uma prece na boca e um aperto no coração. Inevitavelmente, a lembrança do massacre da Praça da Paz Celestial vem à mente. Um arrepio percorre a coluna.

Presidentes de vários países dão entrevistas condenando o Brasil, nosso judiciário e apontam o julgamento de Lula como a farsa que é. Correspondentes falam em Regime de Exceção. No Vaticano, o Papa Francisco convida os fiéis a orar pelo país e chora copiosamente, não sem antes condenar a violência do Estado brasileiro.

Em São Bernardo, o número de mortos e feridos ultrapassa duas centenas, o sangue avança com o fluxo de uma enxurrada. Atiradores de elite chegam e aumentam consideravelmente esse número, para o horror do Primeiro Mundo.

Em Porto Alegre, os três Desembargadores do Tribunal Regional Federal são capturados e por horas são obrigados a comer páginas da Constituição. Quando não conseguem mais, enfiam-lhes cabos de vassoura na boca, para empurrar-lhes goela abaixo mais e mais páginas. Eles sofreram por 5 horas. Morreram com seus intestinos arrebentados, vertendo sangue por todos os lados.

A ONU marca uma reunião extraordinária de extrema urgência para tratar do tema. Líderes de todo o mundo atendem.

De férias em Angra dos Reis, Luciano Huck acompanha os desdobramentos com a Mulher e percebe o perigo que os ronda quando vê ruas próximas a sua casa na tevê, estão tomadas por milhares de militantes. Em desespero, corre a casa arrematando objetos de valor e corre para o heliponto, onde, com muito esforço, consegue embarcar Mulher e filhos num helicóptero, porém é capturado antes que pudesse se salvar. Angélica e as crianças ainda o viram de joelhos pouco antes de sua cabeça explodir sob o peso de um pedaço de madeira, alguns acreditam hoje que a explosão foi o resultado de toda a culpa a pressionando.

Em São Paulo, células neo-nazistas despertam e os MoreNazi brasileiros - também conhecidos como WhitePardos - ganham as ruas, porém seus corpos inchados com Deca, Winstroll e anabolizantes eqüinos, seus porretes e correntes não fazem frente à força moldada na lida, não duram nem metade do tempo que acreditavam e voltam às casas de suas mães pedindo colo e Toddynho. Alguns vão direto para hospitais da região com a suástica marcada à faca em brasa no rosto. Por toda a região sul, o mesmo é registrados, neo-nazistas são atacados em praça pública e executados, em algumas cidades resistem mais, noutras menos, mas o resultado é sempre o mesmo, acabam mortos e tem a cabeça decepada.

Em seu gabinete, Alckmin ouve o que não quer de um de seus assessores e surta: "- Senhor, roubar dinheiro de merenda é uma coisa, isso aí vai acabar com suas chances na eleição..." Rendido, Alckmin ordena que seus comandados cessem a guerra e voltem aos quartéis. O faz a contra-gôsto e sai resmungando a caminho do banheiro: "malditos, eu poderia resolver o problema, seria um 'Carandiruzaço' e acabaria com toda essa maldita Esquerda brasileira". Alterado pede para que preparem seu helicóptero, ele voltaria a Pindamonhangaba, onde horas depois seria encontrado dilacerado a golpes de foice nas imediações da Fazenda Santa Helena. Apesar de prometer investigação pesada, a Polícia Civil jamais encontrou os assassinos e o que se diz na cidade é que eles foram identificados e parabenizados pelos Policiais.

Enquanto isso, em Brasília, cagado e com medo, Temer ordena que todas emissoras sejam colocadas fora do ar e resolve fugir do país. Marcela tem a mesma idéia e foge com o filho e seu motorista particular, com quem tinha relações há mais de 20 anos. Antes de sair, Marcela faz questão de revelar que Jurandir é o verdadeiro pai de Michelzinho. Josicleison, o segurança-particular se revolta, pois acreditava ser ele o pai e atira contra Marcela que escapa deixando o filho para trás.

Triste também foi o fim de vários políticos. Jair Bolsonaro, por exemplo, desapareceu por completo após ser abordado por um grupo de crianças de rua. Pelo que se fala à boca miúda, nem seus ossos serão encontrados. Seus filhos, emasculados, foram obrigados a se beijar e seu flagelo foi dos mais longos, terminando no esmagamento de suas cabeças debaixo das rodas de um ônibus. José Serra é encontrado decapitado às margens do Rio Pinheiros. Seu genital, arrancado, é encontrado em sua boca, que fôra costurada. Seus olhos haviam sido arrancados. No futuro, uma autópsia confirmaria a informação de que ele morrera por conta da perda de sangue e que ficou mais de uma hora sendo torturado. Chegam notícias de que Ronaldo Caiado e Rodrigo Maia, mais Collor, Carmen Lúcia e Barroso foram enterrados vivos em local desconhecido no Distrito Federal, por anos escavações procurariam seus corpos, os quais só foram localizados, 21 anos depois e suas identidades só foram confirmadas com exame de DNA. Fachin nunca foi encontrado... Dizem que foi colocado em ácido sulfúrico e deixado de existir no planeta Terra.

Por todo o país, legiões de miseráveis invadem casas, se fartam das dispensas abarrotadas, tomam banho, trocam de roupas, alguns telefonam para familiares distantes, bebem, fazem churrascos, nadam nas piscinas das casas de altíssimo padrão dos condomínios desenhados para mantê-los distantes.
Enquanto isso, no apartamento de Lula, os telefones não páram... Líderes da Esquerda de todo o mundo ligam para pedir a intervenção do ex-Presidente, pedindo-o que acalmasse a situação; políticos brasileiros falam num pacto nacional e em adiantarem as eleições.

Malafaia e Feliciano são executados num terreno baldio e antes de terem seus corpos queimados, apanharam bastante e tiveram suas línguas arrancadas. Ambos correm por cerca de 10 metros antes de cair e serem consumidos pelo fogo.

Já passavam 27 minutos das 17:00 horas quando o ex-Presidente desce, vai ao encontro dos bravos combatentes, cumprimentando-os um a um, enquanto a Polícia oferece uma trégua, e não consegue conter as lágrimas ao ver os corpos dos Companheiros e Companheiras estirados pela rua tomada de sangue. Há jovens entre os mortos, alguns jovens demais... Sua emoção é verdadeira e contagiante.

Ao pedir por paz, recebe a negativa enérgica de muitos, pois eles crêem que é chegada a hora da revolução há tanto adiada pelo entorpecimento midiático. Eles tem sangue nos olhos. Contudo, à distância, se ouvem os gritos do Comandante da Polícia, avisando que a ordem de prisão fôra revogada pelo que restou do STF e que bateriam em retirada.

Os bravos Guerreiros da Democracia - como ficariam conhecidos na História - que restaram, começam a gritar em barulhenta, animada, mas breve comemoração, pois logo correm para socorrer os feridos e apagar o fogo das viaturas tombadas, dando passagem aos guerreiros da vida do SAMU. Todos, mesmo contentes e orgulhosos da dura Vitória, choram, por entender que cada Companheira e Companheiro que tombou, passara a ser como uma irmã, um irmão. A frase: "Aquele que sangra comigo é meu irmão" ecoa nos corações e mentes de todos.

Meses depois, Lula é eleito Presidente do Brasil pela terceira vez, já no primeiro turno de forma avassaladora e seu primeiro ato é condecorar aqueles que deram suas vidas pela Democracia, com a mais alta honraria do país. Pouco depois, com referendos revogatórios, desfaz, com o auxílio do povo brasileiro, todos os atos do finado usurpador Michel Temer e estabelece as bases para um Brasil melhor para todos.

Um Brasil de todos, por todos e para todos.


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