Pois bem, aviso que a primeira vez que ouvi falar em 'Golpe Comunista' veio com as eleições que conduziram Fernando Collor de Mello à Presidência de nosso país. Era uma visão meio tosca, superficial e verdadeiramente preconceituosa, moldada para influenciar os simpatizantes de um possível governo petista. Lembro-me de um senhor, de uma família amiga da nossa, durante um churrasco, perguntar ao meu pai em quem ele votaria, a resposta? Lula. Assim que declarou seu voto no candidato do ainda recente Partido dos Trabalhadores, ouviu (mos) vários discursos que invariavelmente passavam pela nefasta consideração: "você não tem medo do Lula colocar uma família pra morar na sua casa?" Claro que meu pai brincou com a desinformação do amigo e disparou: "imagina quantas famílias caberiam aqui na sua casa, hein?" Sim, muita gente tinha esse tipo de visão do Comunismo, era ponto-pacífico para essas pessoas.
No último debate entre os candidatos, Collor apontou para a bandeira em sua lapela e fez um discurso de medo, dizendo que aquelas eram as cores do Brasil, enquanto o oponente era de um partido de cor vermelha, "totalitário". Claro, mesmo tão frágil argumentação arrebatou milhões de votos para o candidato midiático, um boneco, um produto das Organizações Gloebbels, que fôra apresentado para o Brasil como o Salvador da Pátria, um combatente contra a corrupção, o "Caçador de Marajás", em um programa dominical assistido por todo o país.
(Saiba mais: https://www.youtube.com/watch?v=MZ8B76JE-zI )
Fernando eleito, Fernando deposto.
Por anos, a pecha de comunistas radicais adiaria os planos de Lula chegar ao cargo máximo da nossa política. Até então, o PT opunha ferranha oposição aos governos, no mínimo suspeitos, que antecederam e sucederam, Fernandinho.
Porém, o crescimento de Lula a cada campanha, enchia os pobres de confiança e também de esperança; um Homem do povo, que falava o que o povo queria escutar, que pregava nos livrarmos desses partidos mais interessados em enriquecer do que cuidar verdadeiramente do povo, que pregava uma revolução.
Lula eleito. O país entrou em parafuso. De um lado, uma imensa maioria de despossuídos, de ignorados, de invisíveis, comemoravam sem acreditar no que viam, um Homem como eles, que viu e viveu a miséria, enfim, Presidente do nosso país. Lembro de muita gente me questionando por votar nele, porém não eram bem questionamentos e sim, demonstrações de autoritarismo, de soberba e total desrespeito com a minha escolha. As argumentações, sempre, vazias e totalmente desprovidas de sentido, por exemplo, certa feita, uma aluna minha, que era Professora da rede pública, de família rica da cidade, daquelas tradicionais, dispara: "Flavio, você é Professor, como é que você vai votar em um analfabeto? Pelamor de Deus..." Entre outras superficialidades; guardei esta porque gostei da minha resposta, que até doía de tão simples, aliás, era tão simples que pude transformar em pergunta para rebater: "O que os engravatados, Sociólogos, fizeram pela nossa Educação?" E de fato, não tinham feito nada, aliás, tudo o que fizeram fôra piorar as condições, alguém lembra da Progressão Continuada? Então, apesar de uma idéia boa, respondam sinceramente, funcionou? O tema é pertinente porque muitas pessoas que falam em 'Golpe Comunista' apontam a Progressão Continuada como parte do processo do tal golpe. Ainda hoje, muita gente muda de assunto - descaradamente - quando os lembramos que somente no Estado de São Paulo ainda adotamos tal prática.
Quando se fala em 'Golpe Comunista', percebo que os interlocutores não tem a mínima idéia do que falam, é como se caçassem fantasmas debaixo da cama, sim, caçam o "fantasma que ronda" seus medos mais insanos. É como se de repente vivêssemos à sombra da Guerra Fria! Para essas pessoas é como se a ameaça pairasse sobre nós como naqueles tempos, nem parece que a União Soviética hoje se chama Rússia. Cabe lembrar aqui que muita gente boa, inteligente, capaz, entrou no delírio de uma figura bizarra que às vezes suspeito não existir! Claro, sei que ele existe, sei do que fala e um dos maiores e mais grotescos absurdos, é o papo de que a queda do Comunismo, da ex-União Soviética não passa de um golpe engendrado pela KGB (Polícia Secreta Bolchevique) para que o mundo pensasse que o Comunismo não existisse mais. Claro, sei que existe, mas não da forma como acreditaram e nos querem fazer acreditar. Não como a iminente ameaça vermelha.
Agora, quais os motivos que levam essas pessoas instruídas a acreditar nesse tipo de fanfarronice? Os mais absurdos; um que me chama bastante a atenção é o tal 'Foro de São Paulo', uma reunião de partidos e movimentos de esquerda, aqui vale ressaltar que apesar do esquerdismo dos participantes e também com a presença de comunistas, o Foro não é um evento comunista! Óbvio, muitos dos detratores não conseguem diferenciar esquerda de comunismo, a dissociação é impossível, assim como é impossível para essas pessoas compreender que o Foro não tem uma corrente específica. Dizer que se trata de um encontro de esquerda, anti-imperialista, socialista e democrático é perda de tempo, afinal, "esquerda, anti-imperialista e comunista" - para esse pessoal - é apenas o sinônimo de Comunismo, a palavra democrático para eles, nem é registrada (para registro, o Socialismo seria uma etapa para se chegar ao Comunismo)
Voltando, o Foro, para ficar claro, é um fórum de debates que discute alternativas ao neo-liberalismo da Economia e da Política.
Sempre se fala sobre a presença das Farc (Forças Armadas Revolucionária da Colômbia), desconsiderando a realidade dos fatos, as Farc não participam do Foro; tentaram duas vezes (2004 e 2008) e foram impedidos, uma delas pelo PT.
Certa feita alguém me mostrou uma fala de Lula, onde ele estaria 'pregando' a tal dominação das Américas e fui escutar, escutei o mesmo discurso umas três vezes e ainda assim não conseguia - e não consigo - ligar as palavras do (então) Presidente Lula com o papo de dominação, uma vez que ele falava em se chegar à Presidência dos países através do voto, do processo democrático e só isso e, uma vez no poder, mostrar a diferença de ser governado por um Presidente de esquerda, por um partido de esquerda, nada demais. Assim como não tem nada demais um partido perpetuar-se no poder se o próprio povo quer assim! Óbvio! Se não estiver satisfeito, vota em outro partido, simples! Não escondo que essa argumentação leva a outra e é aí que geralmente a coisa vai degringolando, sério, a partir daí é ladeira abaixo e sempre o primeiro comentário lancinante em superficialidade diz respeito ao Bolsa-Família, que com este programa o governo 'compra' eleitores! Nem vou entrar no mérito das dados que derrubam essa ótica um tanto míope do programa e me concentrar no fato de tal argumentação vira-e-mexe desce ao esgoto do moral torpe de pessoas preconceituosas e soberbas, que se armam de lugares-comuns nefastos e viciosos.
Explico falando sobre a nossa mídia e seu papel torpe na distorção de um pensamento sério e crítico. Há alguns anos, uma das maiores e, até então, mais respeitadas publicações do nosso país adotou um estilo de Jornalismo que fez sucesso nos EUA (o país sonho de consumo de nove entre dez coxinhas), pois bem, tal Jornalismo - se é que posso realmente chamar assim - uma vez que é definido como "anti-Jornalismo" em publicações de prestígio, como o Observatório da Imprensa (que afirma que a Revista Veja é o maior fenômeno desse anti-Jornalismo). A linguagem é mais ofensiva e grosseira. A publicação dos Civita envolve seus leitores, geralmente de classe média, histórica odiadora do Partido dos Trabalhadores e estes, repetem a exaustão as 'informações' que recebem da mesma, daí a chamar o programa federal (Bolsa-Família) de 'bolsa-esmola', por exemplo. No estilo neocon, essas pessoas que de uma forma ou de outra são contrárias ao programa encontram articulistas que 'pensam' como eles, esses articulistas não estão ali para explicar nada, mas sim, para solidarizarem-se com os leitores, para indignarem-se com eles e assim, é como se tivessem o respaldo de intelectuais para suas considerações desinformadas. Basta vocês perguntarem se as pessoas já leram dados acerca do programa para - praticamente - arrumarem uma discussão longa e decepcionante. Claro que os leitores da Veja não sentem precisar de uma outra fonte para checar as informações, há uma cegueira fanática que espuma em ódio mal-contido que é do jeitinho que essas pessoas gostam.
Então, daí o Bolsa-Família vira 'bolsa-esmola' e se você mostrar dados que apontem os equívocos dessas pessoas, pronto, eles dizem que os dados são manipulados pelo governo! Isso no mínimo. E não adianta você mostrar o que tem de bom no programa, o bem que está fazendo, nada! Às vezes, confesso, desanima conversar com gente assim, aliás, a cada dia aumenta minha repulsa a esse pessoal e a essa forma distorcida de interpretar o próprio país. É fato interessante lembrar que se os dados que o governo apresenta são negativos, essas pessoas concordam e enchem as redes sociais de informações sobre os mesmos, daí eles acreditam, se forem favoráveis, não! De jeito nenhum.
Acho que nem vou entrar no mérito dos Médicos cubanos, pois todos nós vimos o que foi a conduta anti-ética de Médicos brazucas. Mas o que me chamou muito a atenção é que o problema era apenas, um a nacionalidade cubana de alguns desses profissionais, pois não foram os únicos a se inscrever em um programa do Governo para direcioná-los a regiões onde a ausência de Médicos tornara-se um problema. Bem, só vou comentar por cima a foto que ilustra este trecho do texto, tinha gente dizendo pra quem quisesse perder tempo em ouvir, que os tais Médicos cubanos eram - na verdade - agentes doutrinadores e guerrilheiros da ilha de Fidel. Falar o que disso? Falar o que de gente que leva a sério esse tipo de "informação" (melhor, DEFORMAÇÃO) que vai surgindo aqui e ali, principalmente em blogs de extrema-direita? Dizer o que de pessoas que preferem acreditar nesse tipo de esquizofrenia a procurar descobrir a verdade? Realmente, me faltam palavras para essas pessoas, muitas até.
Há algum tempo tem surgido um pessoal, municiado principalmente pela Veja, com a cantilena sem pé nem cabeça da necessidade de um impeachment, estão até marcando passeata para pedir que a Presidente passe pelo processo, eles querem porque querem retirá-la do poder e sim, são muitos os motivos e nenhum com o menor respaldo jurídico. É tudo tão vazio que beira um surto psicótico coletivo dessas pessoas.
Andei escrevendo na minha página em uma rede social que pode até haver um 'golpe', mas que o mesmo não será bem o que esse pessoal espera. Explico melhor: um dos pedidos desse pessoal é por uma intervenção militar, que já vimos no passado e que, de seis meses, estendeu-se por longos vinte e hum anos negros e sangrentos em nosso país. Sim, existe gente que pede a volta da ditadura! Pode parecer estúpido tal desejo, mas ele está aí, nas redes sociais, em conversas em casas chiques, em bairros nobres. Sabe, se o papo viesse de senhores de idade, eu até aceitaria, são velhos, querem que tudo esteja em ordem, são pessoas autoritárias na sua grande maioria, não conseguem compreender que o mundo mudou, que não dá mais para voltarmos ao passado em busca de ordem, mas sim, focarmos no presente e prepararmos um futuro melhor, mais ordeiro... Pois bem, hoje, até mesmo jovens andam pregando a volta da ditadura, para acabar com o PT e com a corrupção (muitas dessas pessoas jura que a corrupção começou com o Partido dos Trabalhadores, não tem a mínima noção de como eram as coisas antes). Nos dias de hoje, a impressão que tenho é de que esses jovens nem foram às aulas!
Volto ao "golpe que ninguém espera"... As Forças Armadas defendem o povo e o país, essa é a premissa básica de sua existência, como não estamos em guerra, nossos militares se concentram em trabalhar com o Governo Federal em inúmeras ações Brasil afora, fazem cisternas, programas de Saúde em regiões distantes e de difícil acesso, fazem rodovias entre outras, então, é justo dizer que o Exército conhece bem a realidade do país e, além de não serem os mesmos de 64, não são comandados por uma revista ou por uma emissora de tevê e talvez por isso, muita gente não entenda porque eles não se posicionam em repúdio ao governo petista, eles não são ignorantes, eles estão vendo pessoas,que antes eram invisíveis, em um país onde 300 crianças morriam de fome por dia num passado ainda recente e estão vendo essas pessoas melhorando de vida, tendo condições de sair da condição da miséria mais plena por conta de um governo que não os ignorou. Esses militares de hoje, a meu ver, são melhor informados do que aqueles do passado, em parte por não terem vivido sobre a sombra da Guerra Fria, eles sabem que a fala "o PT quer transformar o Brasil em Cuba" é desprovida de razão; repetindo, eles vêem o que o governo petista tem feito pelo próprio povo, eles vêem a diminuição desigualdade. E vou mais longe, eles vêem quem são essas pessoas que pedem a volta da ditadura, sabem de seus discursos preconceituosos, sabem da forma desumana com que tratam aqueles que consideram 'inferiores', sabem que são pessoas que só pensam em si mesmas e que vivem no alargamento do espaço privado e no encolhimento do espaço público. Sim, eles sabem que essas pessoas não querem ver um pobre viajando de avião ou frequentando Universidades antes exclusivas aos brancos e ricos.
Eu não estranharia nada se o Exército aceitasse a convocação para defender a Democracia, afinal, eles sabem que a esmagadora maioria desses que pedem impeachment sem provas da Presidente da República o fazem porque simplesmente não conseguem viver numa Democracia! São aqueles que acreditam na Democracia até a página dois e que inventam as piores desculpas para justificar sua insanidade recalcada.
Ontem, recebi um áudio onde dois amigos conversam sobre um 'golpe comunista' sendo preparado pelo próprio Exército, sim, é assim que chamarão caso as nossas Forças Armadas fiquem do lado de um partido que tanto fez pelos nossos próprios irmãos; no áudio, usando terminologia militar, já discutem a respeito desse tal golpe (aqui vale lembrar que circula, em escárnio, a foto de uma caveira com a frase: "esperando o golpe comunista do PT", aludindo que o sujeito morreu esperando), pois bem, tal áudio me chamou a atenção, não apenas pelo linguajar 'militarizado' (segundo alguns 'especialistas'), mas pela manobra de já ir preparando terreno para incutir nas pessoas a idéia 'golpe comunista' e não estranhem se muita gente entrar na brincadeira, pois somos bombardeados pela mídia encoleirada do Tio Sam, o desenrolar dos (meio) fatos na vizinha Venezuela. Ah, mas isso é delírio para uma outra hora.
Bem, por enquanto é isso, lerei novamente e revisarei, colocando links para facilitar o entendimento mais aprofundado sobre tudo o que estou falando. Estou expondo minhas impressões, porém, isso não é desculpa para que eu não corrobore tais impressões. Não vou continuar agora porque está tarde e eu levanto cedo amanhã, ops, hoje! Abraços.
E, por enquanto: um pouco de tudo para quem não sabe nada, agora, para saber mais, basta pesquisar.
Bons estudos.
Flavio Hernandez - Jornalista, Poeta, Professor de Idiomas, Estudante de Ciência Política; 43 anos, filiado ao PSOL e militante pró-Redução da Mediocridade Intelectual.
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