quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

A Carta de Valerie

"Eu sei que não tenho como convencê-lo de que isto não é mais um dos truques deles, mas não ligo, eu sou eu.

Meu nome é Valerie. Eu não acho que viverei muito mais e eu queria contar a alguém sobre a minha vida; esta é a única autobiografia que escreverei e, Deus! Eu estou escrevendo em papel higiênico.


Eu nasci em Nottingham, em 1985; não me lembro muito bem da minha infância, mas eu me lembro da chuva. Minha avó tinha uma fazenda e ela costumava me dizer que Deus estava na chuva.

Fui aprovada no exame para o curso secundário. Foi na escola que eu conheci a minha primeira namorada, o nome dela era Sarah. Foram seus pulsos, eles eram lindos. Achei que nos amaríamos para sempre. Me lembro do professor nos dizendo que era uma fase da adolescência e que as pessoas superavam. A Sarah superou. Eu não superei.

Em 2002 eu me apaixonei por uma garota chamada Christina. Naquele ano me abri com os meus pais. Não teria conseguido sem a Chris segurando minha mão. Meu pai nem olhou pra mim, ele me disse pra ir embora e nunca mais voltar. Minha mãe não me disse nada. Eu só contei a verdade a eles. Será que foi muito egoísmo? Nossa integridade é vendida por tão pouco, mas ela é tudo o que realmente temos. Ela é nosso último pedacinho, mas nele, nós somos livres.

Eu sempre soube o que eu queria fazer da minha vida. Em 2015 estrelei o meu primeiro filme, "Dunas de Sal". Foi o papel mais importante da minha vida, não por causa da minha carreira, mas porque foi lá que eu conheci a Ruth. Na primeira vez que nos beijamos, eu soube que nunca mais iria querer beijar outros lábios que não os dela.

Nos mudamos para um pequeno apartamento em Londres. Ela plantou Scarlet Carsons para mim na jardineira da janela e nosso apartamento sempre tinha cheiro de rosas. Aqueles foram os melhores anos da minha vida... Mas a guerra da América piorava a cada dia e com o tempo chegou à Londres. Depois disso não houve mais rosas... Para ninguém.


 Eu me lembro de quando o significado das palavras começou a mudar; como palavras incomuns como "colateral" e "rendição" ficaram assustadoras; enquanto outras como "Chama Nórdica" e "Artigos da Lealdade" ficaram poderosas. Eu me lembro de como "diferente" virou "perigoso"... Eu ainda não compreendo por que nos odeiam tanto. Levaram Ruth quando ela foi comprar comida. Eu nunca tinha chorado tanto na minha vida; não demorou muito pra virem atrás de mim.

Parece estranho que minha vida deverá terminar neste lugar horrível, mas por três anos houve rosas e eu não tive que prestar contas a ninguém.

Eu morrerei aqui. Cada pedacinho de mim vai morrer. Cada pedacinho; exceto um.. O da integridade.

Ela é pequena e frágil. É a única coisa no mundo que ainda vale a pena se ter. Jamais devemos perdê-la, vendê-la ou entregá-la; nunca devemos permitir que a tirem de nós.

Eu espero que, seja quem você for, escape deste lugar. Espero que o mundo mude, que a situação melhore.

Mas o que eu mais desejo é que você entenda o que eu quero dizer quando lhe digo que, mesmo que eu nunca conheça você, mesmo que eu nunca encontre com você, ria com você, chore com você ou beije você... Eu te amo. De todo o meu coração; eu te amo".




Valerie


Esta "carta" está no filme "V de Vingança" (um dos meus favoritos), o qual recomendo não apenas por ser muito bom (bem acima da média), mas também devido ao seu tom desconfortavelmente atual... E, de quebra, ficará muito mais fácil compreender a mensagem desta "carta".

Grande abraço.




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