quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Revolta nos Sofás


Cidadãos; é desalentador perceber que as pessoas ainda acreditam piamente no inócuo 'Protesto de Sofá' ou na ineficaz 'Manifestação de Internet' (se pelo menos fossem "hacktivistas"...); são reclamões de todas as espécies, esperando que - ao espalhar sua indignação na rede - induzirão outros a lutar por eles, que alguém resolva agir. Todo mundo indignado, mas fazer algo fora da zona de conforto, nem por decreto. Aliás, é triste ver tanta gente acreditando, também, no tal do protesto pacífico, aquele em que as pessoas saem com cartolinas, gritando palavras de ordem e posando para as câmaras de tevê ("que filmavam tudo ali") e fecham os olhos, não apenas para a total falta de resposta dos órgãos competentes, como também a incongruência gritante de ter o direito ao protesto garantido, e até elogiado pelos governantes, desde que seja ordeiro e nas calçadas, parar o trânsito nem pensar! Já é vandalismo! Porque fere o direito de ir e vir, daí, bomba no manifestante incauto.




Sinto muito, mas não é assim que acontece. As pessoas tem a faca e o queijo na mão e delegam a terceiros as atitudes mais incisivas. É incrível, todos os dias, ao acessar o fêissibuque, me deparo com reclamações e indignações de todos os tipos, todo mundo está indignado com alguma coisa, o que me dá o direito de indignar-me com esses indignadinhos, que apontam mal-feitos, gritam, esperneiam, mas que não fazem nada além disso. Reclamam dos políticos, mas não vão à Câmara Municipal cobrar seus representantes e no caso de nossa cidade, chega a soar patético, pois dos indignados, somente uma meia dúzia, da qual faço parte, está naquela Casa de Leis, toda Segunda-feira. As pessoas não entendem ou não querem entender (para não evidenciar sua inércia irresponsável), que protestos inócuos só geram risadas em nossos políticos.


Agora, o que vem me chamando a atenção são os crescentes ataques aos Black Blocs e suas táticas de ação direta. Há algum tempo surgiram boatos de que eles fazem parte de um golpe da Direita, para desestabilizar o Governo Federal e os petistas acabaram acreditando, inclusive afirmando categoricamente que os mesmos se esqueceram do Alckmin, sendo que inúmeras manifestações "Fora Alckmin" contaram com a presença maciça desses jovens. Um petista fanático me perguntou até por que eles estavam apoiando as manifestações contra o aumento do IPTU na cidade de São Paulo, o que é de uma inverdade grotesca, pois os protestos foram alardeados por toda a mídia como os únicos "pacíficos de fato"! No mínimo curioso, afinal, os Black Blocs estão mais próximos de um Marighella do que de um Erasmo Dias, como querem nos fazer pensar aqueles que abraçaram as mentiras da Direita, exatamente buscando relembrá-los dos "Anos de Chumbo" e atacarem cegamente os jovens envolvidos com o movimento. E como é estranho ver a Esquerda apelando para discurso de Veja, Globo e demais direitistas tão ensandecidos quanto saudosos, que são alguns dos alvos dos Black Blocs.


Pelo que vejo, esses tais Black Blocs podem ter lá seus defeitos, por isso desagradam a tantas pessoas, mas não se pode atacá-los por fazerem o que a maioria das pessoas sempre teve voltade, externar sua raiva, sua revolta com o descaso centenário da classe política brasileira. Estive conversando com a cuidadora da minha tia, em São Paulo no último final-de-semana e, de forma lúcida, me explicou os porquês dela ser favorável aos "ataques brutais dos encapuzados". Ela falou sobre tudo, desde a ineficiência e precariedade dos serviços prestados, da completa falta de tato dos funcionários das empresas e foi enfática a apoiar o revide a Polícia Militar do Estado de São Paulo, comentando passagens de sua vida em um bairro carente da metrópole paulistana; indignada, afirmou que em uma favela, você (ela, no caso), sente na pele o descaso daqueles que deveriam garantir-lhe Segurança. Com indignação nos olhos comentou que em favela, mesmo sendo uma senhora, ao dirigir-se para pedir informação a um policial, invariavelmente, não é atendida e a resposta limita-se a um seco, "não sei" e vi em seus olhos a revolta quando afirmou que "se fosse no Morumbi", nem preciso continuar, né? Sabemos que tudo seria bem diferente. Durante a fala lembrei-me dos famigerados "disparos acidentais", que nunca ocorrem em bairros de alto padrão, ou com pessoas de grande poder aquisitivo, coincidentemente. Voltando aos Black Blocs e seu enfrentamento com as forças repressoras, fica claro a desproporcionalidade das ações de ambos, evidenciado nas redes sociais, pois a mídia não mostra a brutalidade exacerbada dos cacetetes cantantes nas cabeças de mocinhas revoltadas, spray de pimenta e balas de borracha na própria mídia, a menos que seja em benefício próprio.


Com o surgimento da internet, acreditei que em nosso país, por conta das elevadas temperaturas e a alegria de viver de nosso povo, jamais nos sujeitaríamos a ser 'escravos' da rede mundial de computadores, que, na época, os MSNs da vida não teriam sucesso por aqui, pois nos agrada viver a vida intensamente, não trancados em nossos lares; mas eu estava redondamente enganado! As pessoas descobriram na internet, a possibilidade de aparentar estarem fazendo alguma coisa, como se o abstrato de suas idéias ganhasse uma concretude tão irrefutável quanto confortável. E seguimos nos refugiando em nossas casas, atacando a uns e outros, reclamando, BERRANDO, enquanto os governantes riem de abaixo-assinados (como no caso do Renan Calheiros), gargalham de nossa incapacidade de mobilização fora das redes, ou melhor, de levar essas mobilizações para fora das redes e tudo o que precisaram foi nos dividir e nos instigar a atacar uns aos outros. Em algumas ocasiões vemos pessoas que conseguem mobilizar tanto na internet quanto na rua, mas infelizmente, o efeito não é duradouro, pois muitos, ao perceberem que não estão conseguindo as reinvindicações serem atendidas, voltam ao marasmo da vidinha virtual e passam a criticar aqueles que levam a sua justa revolta para fora da telinha do monitor, como se estes fossem os causadores do mal que combatem.


Vivemos épocas estranhas, onde a forma da Direita de se manifestar e que só serve aos interesses das classes dominantes, é abraçada incondicionalmente pela Esquerda, perdida entre tantos movimentos apartidários e pulando de um lado para o outro, como se tivessem sido desligadas de sua natureza contestadora e revolucionária. Traduzindo: se acomodaram. Lembrando que a Direita esteve presente nas ruas e rechaçou a cor vermelha e bandeiras de partidos da Esquerda, aliás, o fizeram com todos os partidos, aproveitando-se da desconfiança e da repulsa que muitos brasileiros sentem com relação aos partidos políticos. Aliás, se quiserem carregar suas bandeiras vermelhas, só com escolta do Black Blocs, pois estes entendem os avanços inegáveis do Governo Federal em diminuir os flagelos que atingem mais de 16 milhões de brasileiros como nós, que foram esquecidos e explorados pela sanha direitista. Voltando: e como estão presos (muitos militantes da esquerda) a uma forma ultrapassada de pensar e (re) agir, se conformam com seus ataques inócuos contra a Direita e contra pessoas que, em sua maioria, estão muito próximos de pensamentos que os esquerdistas tinham no passado, mas que infelizmente não aceitam, talvez por não conseguir enxergar, talvez por inveja, mas certamente, embalados na inércia estúpida que aceitaram há algumas décadas. Não gostaram de serem 'rebaixados' em sua relevância, muito menos de serem lembrados como os novos reacionários de plantão. Assim fica difícil mesmo o país ir pra frente, pois esse é o legado da desunião que abraçaram com suas causas e visões partidárias de um pais multi-facetado. Cabe-lhes agora, despertar e correr atrás do bonde da História, pois estão ficando para trás.


Dia desses fiz uma enquete no fêissebuque. Era algo assim:

Pra achar que os Black Blocs estão por trás de um suposto golpe para derrubar o Governo Federal, ou você é:

1. Facilmente manipulável
2. Tem interesses obscuros
3. Acha que o Alckmin é Presidente do Brasil (e o Cabral é o vice)
4. Não tem acesso à internet
5. É burro de pai, mãe e parteira

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