quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A ignorância nossa de cada dia...

Cidadãos; após um longo e tenebroso inverno digital por conta de um note bichado e uma total impaciência para digitar no celular, cá estou, de volta com várias idéias na cabeça, porém, infelizmente, são tantas que fiquei com problemas para escolher qual assunto abordar nesta volta. Pensei primeiro em escrever sobre as eleições, mas devido ao que pude acompanhar nos dias que sucederam a derrota do tucano Aécio Neves, principalmente relativos a essa vergonhosa e estapafúrdia ópera bufa de intervenção militar, senti-me compelido, obrigado a jogar umas palavrinhas sobre o tema.

Confesso que ri muito ao ver esse triste espetáculo (mesmo reconhecendo a seriedade de tal assunto), pois o que eu enxergava ali, não era apenas o desespero de quem foi iludido por uma das campanhas mais safadas e mentirosas que já tive o oportunidade de acompanhar, mas sim, a monstruosidade absurda da ignorância, o descontrole da estupidez, a irracionalidade do ódio, a bestialidade que ainda encontra eco em muitos discursos. Esse episódio lamentável, já vem sendo construído a muito tempo, seja pela irresponsabilidade da mídia que há anos tenta derrubar governos petistas, seja pela impossibilidade das pessoas em tomar uma certa distância e observar os acontecimentos, hoje, elas se entregam de corpo e alma à mídia e tudo o que lhes é informado, ganha ares de verdade incontestável e mesmo que haja provas contrárias, essas pessoas estão tão fortemente manipuladas que não aceitam nem ao mesmo ler, deixando de lado uma das nossas características como espécie: PENSAR!

Eu jamais cogitei que um dia veria pessoas pedindo uma volta ao regime militar, sempre dei isso como uma obviedade nua e crua. Claro, não esqueço que já tivemos há poucos meses uma repetição da Marcha da Família, que também pedia a volta da ditadura sobre o eufemístico "intervenção militar". A Marcha foi tratada com desdém naqueles dias, ridicularizou-se o movimento e as pessoas, tanto as que organizaram quanto os participantes e acreditamos que o pior já havia passado... Não, estávamos enganados, esse sentimento vil, podre e menor, ao que tudo indica, continua a corroer cérebros parados no tempo e falhando por conta da falta de uso. Haviam muitos jovens, os quais podemos perdoar o pouco conhecimento da nossa História (aliás, ao vê-los e escutá-los, cheguei a conclusão inevitável, o ensino particular - muitos dos presentes, certamente frequentaram boas e caras escolas - fracassou em nosso país), entretanto, haviam muitas pessoas que viveram aqueles anos de chumbo e que agora clamavam sua volta. Esses eu não perdôo, nem mesmo a ignorância serve de desculpa, isso é gente mau-caráter, perigosa e violentíssima, como é facilmente constatado em vídeos que cobriram sua manifestação triste. Palavrão é palavra de ordem, agem como torcedores fanáticos de times de futebol e externam sua ira e descontrole com empáfia.

Essas pessoas são realmente perigosas e devem sim ser rotuladas, para que as demais saibam exatamente com que tipo de gente estão lidando; um dos participantes, da família Bolsonaro, discursou ferozmente aos ignaros portando uma arma-de-fogo enfiada nas calças e ainda afirmou que se seu pai fosse o Presidente, mandaria fuzilar Dilma Rousseff. E a turba, urrava em delirantes orgasmos mentais coletivos.

Eu tenho vergonha dessa gente, tenho vergonha desse papelão ridículo a que se prestam.

Obviamente, com a incapacidade de discernimento altamente prejudicada, por inúmeros fatores, dificuldade de compreensão de texto, ódio e o desespero por não ver seu candidato vencer uma disputa democrática, surgem pérolas como esta ao lado.
Realmente, para dizer que não se trata de um golpe é preciso uma ingenuidade infantil ou uma espécie de malabarismo interpretativo à altura de um Cirque du Soleil.
Vejamos os artigos constitucionais apontados para validar tal discurso, o 1° e o 142°.


Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político. Parágrafo único: todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição,

Bem, percebe-se facilmente que não há nada que indique a afirmativa apresentada pelos golpistas e/ou saudosistas de um dos períodos mais escuros da História do nosso país. Mas antes de prosseguir, trago-lhe o outro artigo relacionado para que tirem suas próprias conclusões:

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
  § 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas.
Veja os dispositivos que referenciam este dispositivo  
  § 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares.
Veja os dispositivos que referenciam este dispositivo   § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:
      I -  as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são conferidas pelo Presidente da República e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos militares e, juntamente com os demais membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas;
      II -  o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente será transferido para a reserva, nos termos da lei;
      III -  o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta, ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por antigüidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da lei;
     IV -  ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;
     V -  o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;
     VI -  o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;
     VII -  o oficial condenado na justiça comum ou militar à pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso anterior;
     VIII -  aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV;
     IX -  (Revogado).

Pois bem, não é preciso muito para compreender que não há nada em ambos os artigos que corroborem os pedidos de uma intervenção militar, entretanto, muitos caíram nesse conto e repetem sem nem ao menos se esforçar para buscar o amparo legal nos textos indicados e aí já entra o que chamo de "manchetismo", que trata dessa hábito ridículo que faz parte dos processos cognitivos atrapalhados da maioria das pessoas (pelo que pude constatar em anos de internet), traduzindo, hoje, mesmo com tantos dispositivos bacanas que deixaram o mundo um tantico menor, a possibilidade de buscarmos aprender mais, não, resumimos o ato de conhecer sobre determinado assunto, substituindo-o pela leitura de uma manchete, o título de uma matéria, porém, infantilmente recusamos a ler o restante. Uso sempre como exemplo o caso de uma suposta parlamentar do Partido dos Trabalhadores que teria proposto a criação do "Bolsa-Prostituta", muitos, ao lerem a 'manchete', passaram a compartilhar como prova de mais um desmando do governo petista e deixaram de lado uma simples leitura, que por fim revelaria que não se tratava de nada além de uma brincadeira.

Voltando ao assunto, o que fica claro é que se estivéssemos vivendo em alguma espécie de ditadura comunista disfarçada, certamente nossa Presidente, valendo-se dos meios legais, já teria colocado os tanques na rua e acabado com essa quizumba; ela tem poder para tanto, mas não o faz e, claramente, permite o direito a livre expressão democrática do espírito de porco de alguns.

Contudo, vale a pena manter os olhos abertos, porque essa radicalização já nos mostra "que há claros contornos de que há uma construção neste sentido (de golpe). Mas para que haja uma solução de golpe institucional, que obviamente será chamado de outro nome, é preciso alimentar a radicalização. E por isso que há no PSDB gente dando pérolas aos porcos da turma do Banana’s Party. O discurso radical permite criar uma alternativa de centro. Em breve haverá gente dizendo que Dilma não tem legitimidade para continuar à frente da presidência e que o Brasil corre o risco de um golpe se o PT insistir em se manter no poder. É essa gente que ao mesmo tempo planta o golpe que vai aparecer como solução para que o golpe militar não aconteça. Mas para que se realize uma operação congressual que permita “afastar o partido mais corrupto da história do Brasil continue subjugando os homens de bem do país” (Renato Rovai). 

Abram bem os olhos, talvez vocês já façam parte da massa de manobra para legitimar um golpe.

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