Fico impressionado com a irresponsabilidade de quem
acredita, ainda hoje, que o Impeachment é a solução mágica para as mazelas do
país. Sério, às vezes não consigo acreditar, entretanto, é isso mesmo, as
pessoas juram de pés juntos que tal medida é uma espécie de "pó do
pirlimpimpim" e, no fundo, são as pessoas que menos se importam com o
país. A irresponsabilidade é tamanha e apenas um reflexo da incapacidade de
sentar-se por alguns minutinhos e pensar a respeito da adoção de tão dramática "solução".
Percebo que as pessoas que são favoráveis, não tem a mínima
noção das implicações desse verdadeiro atentado à nossa ainda tão jovem
Democracia. E, creio, que mesmo sabendo dos nefastos resultados, tanto para o
país, quanto para todos os brasileiros (inclusive os favoráveis à medida), para
muita gente não importa, assim como não importa que os pedidos por Impeachment
estão ganhando andamento nas mãos de políticos de perfil, no mínimo, duvidoso,
pois é algo visceral para essas pessoas, extremamente ressentidas pela derrota
nas urnas.
Não, meu amigo, Impeachment NÃO é o pó do pirlimpimpim, não
será a solução para os problemas atuais do país e sim, implicará num problema
muito maior e de maior durabilidade, se você já reclama agora, se prepare, pois
aumentará a crise; só teremos uma única mágica com a medida, o fim da crise
política (não totalmente), pois há tempos esse pessoal do 'bem' vem atuando
contra o país, uma vez que já entendeu que a culpa por suas tresloucadas ações
recai nas costas da Presidente na visão limitada dos rancorosos.
Essa tara com o Impeachment ganha contornos cada vez mais
sombrios, por promover os piores da nossa política como Paladinos
anti-corrupção e, claro, o pior da população brasileira, que cegamente -
movidos por um ódio incontrolável - não conseguem mais pensar com um mínimo de
distanciamento.
Óbvio, por não pensarem sinceramente a respeito das
implicações, muita coisa fica de fora e são, exatamente, as mais importantes.
Poderia começar avisando o que todo mundo já avisou, um Impeachment teria
reflexos diretos na estabilidade do país e o que já está difícil - certamente -
ficará muito pior. Se você está reclamando da crise e acreditando que se a
Presidente cair, tudo vai melhorar, que tudo serão flores, você está muito, mas
muito longe de ter uma mínima compreensão do que será do nosso país, sem contar
que o período de crise braba certamente se estenderá muito mais, de modo
imprevisível; como já disse.
Agora, outro ponto é a reação do povo brasileiro se o
impeachment tiver êxito. Sei que muita gente cai fácil no conto
político-midiático de que o Brasil 'inteiro' quer a queda da Presidente, isso
está completamente fora da realidade. As pessoas nunca conseguem entender que
eleitores do PT, fora aqueles que vemos nas redes sociais, são mais comedidos,
não ficam falando de política toda hora e muitas vezes nem contam que votam no
PT e essas pessoas não são assinantes da Veja, por exemplo e da mesma forma que
surpreenderam com os mais de 54 milhões de votos, novamente surpreenderão se
chamados à luta contra esse golpe. Ou simplesmente por não gostarem de ver seus
votos jogados no lixo. A voz do povo é a voz de Deus e a voz do povo, nas
urnas, disse: Dilma.
Pouco após o fracasso da última manifestação dos
inconformados, um dos movimentos a participar dos protestos, lançou uma
fracassada e infrutífera tentativa de parar o Brasil, convocando os
trabalhadores a entrar em greve, claro, foram ignorados de forma retumbante. Na
época eu ri, pois expunha o óbvio, essas pessoas não sabem a diferença de visão
de mundo entre trabalhadores simples e proletariado, aliás, quando entenderem e
perceberem que os proletários hoje tem suas casas, carros bons, frequentam
boites e bares da moda (alguns dos motivos para o terror da classe média que
sempre sentiu-se "a" privilegiada, a única a ter o
"direito" de viajar de avião e a ter acesso a bens que os
'diferenciavam') graças a mudança de ares que foi a eleição de Lula e que são, sim, gratos, ah, daí esse pessoal terá que se esconder... Claro, pode-se pensar no Impeachment por um único lado bom,
vai dar uma certa dose de realidade para a classe média midiática, que consome
revistas de frivolidades e política rasteira em detrimento do Pensar, enquanto
o proletário vende sua força de trabalho, essas pessoas vendem, aliás, vendem
não, entregam o pensar por si, tornando-se papagaios e desta forma, trocando o
Conhecimento por diploma e já não conseguem enxergar o mundo sem ser com os
tons globais.
Aposto que a primeira resposta ao golpe virá do
proletariado, que 'apenas' movimenta o país. Imagine as grandes fábricas
parando de vez, será que um dia essas pessoas que dizem que o Brasil inteiro
está com eles lembram que sempre trataram os proletários como cidadãos de
segunda categoria e que todos já sabem que o grande medo da classe média é
virar proletária? Desconfio que nem sabem o significado da palavra... Para
esses, explico: "O proletário se diferencia do simples trabalhador, pois
este último pode vender os produtos de seu trabalho (ou vender o seu próprio
trabalho enquanto serviço), enquanto o proletário só vende sua capacidade de
trabalhar (suas aptidões e habilidades humanas), e, com isso, os produtos de
seu trabalho e o seu próprio trabalho não lhe pertencem, mas àqueles que
compram sua força de trabalho e lhe pagam um salário." Vejo muita gente
esquecer (ou mesmo não ter uma noção) dessa diferenciação e acreditar que sua
visão de mundo é a mesma do proletariado e aí é que há o perigo que o pessoal
que entrou nessa tara do Impeachment não enxerga e tão logo sejam privados de
seus bens de consumo começarão a ter lampejos - tardios - de consciência.
A ainda História recente do golpe na Venezuela, contra o
então Presidente Hugo Chávez, deveria alertar os tarados do Impeachment das
conseqüências desse ato tresloucado, mas não, elas acreditam que o Exército
ficará ao seu lado, pois estará combatendo o comunismo! Sim, essas pessoas
pensam que voltaremos aos tempos da Guerra Fria... Ah, se soubessem o que
pensam os nossos soldados e oficiais desse discurso, corariam de vergonha. Já
disse uma vez e repito: o tiro pode - e deve - sair da culatra, pois se o povo
realmente sair às ruas contra o golpe, com o proletariado cruzando os braços e
com a obviedade do pior da nossa política atuando para derrubar a Presidente,
dessa vez, nossas Forças Armadas poderão sim agir, mas para reconduzir Dilma ao
posto de Presidente da República para cumprir seu mandato, exatamente como fez
o Exército venezuelano, que via muito bem quem eram as pessoas por trás do
golpe e compararam suas políticas com as políticas chavistas e viram que o
segundo, claramente trabalhava em prol do povo... E daí, meu caro. não adianta
chorar, falar que é 'bolivarianismo', que nosso Exército é vermelho ou algo que
o valha. Não. Nossas Forças Armadas sabem muito bem o que você tenta não
entender, o governo petista NÃO tem nada de comunista, muito pelo contrário e
os comandantes não se informam pela Gloebbels ou pela Veja, não, não, as Forças
Armadas tem seus olhos e ouvidos em todos os lugares. O Exército brasileiro
conhece muito bem Dilma Rousseff e sabe muito bem que ela não é uma
"terrorista" como muitos tentam impingir-lhe o título e o que é pior
para esse pessoal que abdicou de pensar, a Presidente tem o respeito das Forças
Armadas, pois ao contrário dos políticos que querem sua derrubada, ela não tem
um passado suspeito, ela é considerada uma Mulher honesta. Será que o Exército
ficaria do lado de gente de caráter, no mínimo suspeito, contra uma Mulher que
nunca teve nada que desabonasse seu caráter e que conta com a força de mais de
54 milhões de votos? DUVIDO.
Ah, vale registrar o grande medo da classe política,
externado hoje por um pedido da Polícia Federal para ouvir o ex-Presidente Luís
Ignácio Lula da Silva. O medo é de que o povo não aceite Michel Temer
Presidente e queira novas eleições, como muitos já vem pedindo (inclusive o
folclórico homofóbico Levy Fidélix, que defendeu novas eleições em sua
propaganda partidária de ontem), pois se Lula se candidatar, sinto muito, mas
ele ganha. Não há no cenário político opositor alguém para fazer frente a ele,
nem mesmo minha primeira opção de voto nas últimas eleições, Luciana Genro e aproveito
para repetir aqui o que disse ao final do primeiro turno: se você queria uma
mudança de verdade para o país, teria votado em Luciana, o resto é e sempre
será mais do mesmo, pelo menos, a maioria escolheu um "mesmo" que
sempre esteve ao lado, não o "mesmo" que quebrou o Brasil abrindo
espaço e pavimentando a vitória de Lula no passado.
Em tempo, um aviso:
"O cenário mais provável se tal desejo se concretizar não será nada favorável a eles ou aos tucanos e seus satélites, instigadores dessa insensatez.
E muito menos à imensa maioria da população.
O novo Brasil nascido do golpe urdido desde a ida dos trabalhistas a Brasília, em pouco tempo teria a dimensão e os graves problemas de duas décadas atrás.
Em tempo, um aviso:
"O cenário mais provável se tal desejo se concretizar não será nada favorável a eles ou aos tucanos e seus satélites, instigadores dessa insensatez.
E muito menos à imensa maioria da população.
O novo Brasil nascido do golpe urdido desde a ida dos trabalhistas a Brasília, em pouco tempo teria a dimensão e os graves problemas de duas décadas atrás.
O quadro seria mais ou menos
esse:
1) Meses de paralisação dos
trabalhos legislativos - é bom lembrar que o "impitimam" é um
processo político, travado no Congresso.
2) Centrais sindicais ligadas à
esquerda, tendo a CUT à frente, associações de classe e estudantis,
organizações da sociedade civil e setores partidários da esquerda, capitaneados
pelo PT, reagiriam à tentativa de tirar Dilma da Presidência. Os protestos
envolveriam desde atos pacíficos até greves de segmentos mais politizados,
como, por exemplo, petroleiros, bancários e metalúrgicos. A atividade econômica
seria fortemente afetada.
3) Decidido o impedimento da
presidenta, seguir-se-ia mais um tempo para que o novo chefe do Executivo, o
peemedebista Michel Temer, compusesse o seu governo.
4) Aí, seria travada uma outra
batalha sangrenta, pois o PSDB, patrocinador-mór do processo iria se julgar no
direito de abocanhar um grande quinhão ministerial, entrando em choque direto
com o PMDB, o partido do novo presidente da República.
5) Resolvido o impasse, a reação
dos setores sociais ligados à esquerda continuaria, com consequências
imprevisíveis.
6) Dependendo do comprometimento
de Lula nesse processo, poderia até mesmo haver a adesão, nas manifestações
contrárias ao "impitimam", de massas populares, principalmente no
Nordeste e regiões mais pobres, onde a figura do ex-presidente é cultuada à
devoção.
7) Haveria a intervenção, para
conter os protestos, das truculentas PMs estaduais, que não sabem sequer atuar
sem violência em manifestações pacíficas. O resultado seria catastrófico, com
um saldo de vários mortos e feridos.
8) É muito provável que a
instabilidade política e social perdure vários meses, com reflexos óbvios sobre
a economia. Empresas seriam afetadas, haveria aumento do desemprego, da
inflação e cortes em programas sociais.
9) É ainda provável que o PMDB se
acerte com o PSDB e outros partidos da direita para garantir um mínimo de
governabilidade. Mas a calmaria duraria pouco - afinal, todas as siglas já
estariam movendo suas peças para a campanha presidencial de 2018.
10) Mais uma probabilidade: o
engajamento de Lula na reação ao "impitimam" poderia lhe render um
processo criminal - a direita golpista ficaria com a faca e o queijo na mão
para, além de tudo o mais, cassar os direitos políticos do ex-presidente.
11) Se o contrário ocorresse, ou
seja, se Lula estivesse apto a concorrer à Presidência em 2018, ele entraria na
disputa como sério candidato a vencê-la. Se ele fosse impedido, as esquerdas
não teriam um nome forte. A corrida seria, então, entre tucanos e
peemedebistas.
12) No meio de toda essa
confusão, PMDB e PSDB continuariam guerreando entre si nos bastidores. Os
peemedebistas não aceitariam, de forma alguma, que os tucanos entrassem com
amplo favoritismo na campanha presidencial. O jogo, desde sempre sujo, ganharia
formas abomináveis.
13) Toda essa fúria anticorrupção
que se vê hoje por parte do juiz Moro, alguns delegados da PF, Ministério
Público, promotores e pelo oligopólio da imprensa, acabaria do dia para a
noite. Afinal, eles teriam conseguido o seu objetivo, que era criar no país um
forte caldo de insatisfação com "tudo que está aí".
14) O regime de partilha para a
exploração da camada de petróleo do pré-sal seria substituído, rapidamente,
pelo de concessão, como querem as petroleiras internacionais. O sucateamento
intencional da Petrobras justificaria a sua entrega aos concorrentes.
15) Caixa Econômica Federal,
Banco do Brasil e BNDES deixariam de ser indutores do crescimento econômico.
Virariam meros participantes da disputa mercadológica.
16) A tensão social, com o
desemprego em alta, atividade econômica reduzida, retração do crédito,
enxugamento do Bolsa Família e outros programas congêneres, e paralisação de
obras de infraestrutura e de moradia popular (Nossa Casa, Nossa Vida),
aumentaria.
17) Aos líderes do novo Brasil
restaria usar, como sempre fizeram, os meios de comunicação para convencer a
população de que tudo está muito melhor que antes. Além disso, dar ordens para
que a repressão policial se encarregasse de descer o sarrafo em quem ousasse
enxergar uma tempestade nessa bonança.
18) As minorias seriam ainda mais
discriminadas, pobres moradores nas periferias ainda mais perseguidos, pretos
ainda mais segregados.
19) O campo estaria aberto aos
justiceiros, sociopatas, fascistas em geral e fundamentalistas evangélicos, que
passariam a exercer plenamente seus preconceitos, intolerância e ódio de
classe.
20) Por fim, o novo Brasil
reeditaria o modelo da Casa Grande e Senzala: um país com mercado de consumo
formado por 10% da população e no qual o restante 90% disputaria, selvagemente,
as sobras do banquete. A isso se daria o nome de meritocracia, mas na verdade,
viveríamos sob as leis do pré-capitalismo.
(Carlos Motta)
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